Aos 27 anos, Ransom Linus Martin vai até a Igreja Land of Promise em Calabar, cidade da Nigéria, não apenas para as orações. Este será também o local onde acontecerá seu parto.
Ela não está sozinha em sua escolha. "Aqui eles fazem jejum e oração, e se você está grávida, você precisa ir para um lugar onde existe Deus, jejum diário e orações”, disse uma de suas companheiras.
"No hospital, não há nada relacionado com a oração. Eles não oram. Eles apenas dão injeções. Mas quando você ora na igreja, você se aproximar de Deus. No dia do nascimento, Deus vai te ajudar e vai entregar seu filho com sucesso”, acrescentou.
Martin acredita que a igreja pode oferecer mais proteção do que as unidades de saúde do país. Por outro lado, existem relatos de mulheres que morrem ao dar à luz nas instalações das igrejas.
De acordo com Linda Ayade, esposa do governador do estado de Cross River, que abriga a cidade, existe uma preocupação com os possíveis riscos de um nascimento dentro da igreja. Ayade iniciou uma campanha para proibir a prática e encorajar as mulheres realizar os partos nos centros de saúde.
Linda Ayade está tentando convencer mulheres de realizarem seus partos nas clínicas do país. (Foto: BBC)
A primeira-dama percorreu as aldeias todo o estado a fim de persuadir mulheres grávidas. "Eu tenho trabalhado nos hospitais da Nigéria e presenciei mulheres grávidas sendo internadas às pressas em momentos críticos, quando já não poderiam mais ser ajudadas. Alguns morrem no momento em que chegam, e isso acontece com bastante frequência”, disse ela.
No entanto, pode levar algum tempo para que essa campanha surta efeito, já que o parto está associado a crenças profundas. Na Igreja Land of Promise, uma congregação de mulheres grávidas canta e oram, pedindo a Deus para proteger seus partos na hora marcada.
Partos nas igrejas
Os partos acontecem em um pequeno quarto anexado à sala de oração. A pastora Indoreyin Sambhor é a parteira tradicional da igreja, e diz que os partos são uma tradição em sua família.
"Esta é a obra que Deus me deu para fazer. Desde a minha juventude, eu ajudava minha mãe realizar os partos. Deus tem me ajudado, e Deus não vai permitir que qualquer coisa perigosa ou má aconteça”, disse ela.
"Oro com as mães, e meus seguidores podem testemunhar minhas habilidades... Toda mulher grávida que tem vindo a mim foi entregue com segurança e foi para casa com seus filhos", acrescentou a parteira. "Deus tem nos ajudado, então eu não acredito que possa haver complicações no parto das crianças."
Aos 26 anos, Mercy Martin Udofia, em seu oitavo mês de gravidez, se tornou uma seguidora da irmã Indoreyin. Ela deu à luz seu primeiro filho nesta igreja, e vai retornar para parir o segundo.
"Como um filho de Deus, você não deve ficar ocioso, você tem que estar mais perto de Deus. Como uma mulher grávida, quando chega o momento do parto, tudo fica fácil para você", disse ela.
Mudança na lei
No entanto, diante dos riscos, as autoridades nigerianas estão tomando medidas para lidar com a questão. Segundo a chefe da agência estatal de saúde, Betta Edu, o governo em breve irá aprovar uma lei que visa mulheres que dão à luz nas igrejas.
"Nosso povo é profundamente religioso, e alguns deles são tão ligados a prática tradicional que, normalmente, é muito difícil ultrapassá-la", disse Ayade. "Precisamos educá-los, incentivá-los e até mesmo seduzi-los."