O termo Grande Tribulação é bem conhecido dos cristãos, especialmente por causa do sermão profético de Jesus nos Evangelhos sobre o fim dos dias. Ele emprega ainda outro termo para se referir ao período que o precede — o princípio das dores — bem conhecido de igual modo. Vamos compreender a origem dessas expressões.
Jesus inicia seu sermão dizendo: “E, certamente, ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; vede, não vos assusteis, porque é necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, reino contra reino, e haverá fomes e terremotos em vários lugares; porém tudo isto é o princípio das dores” (Mt. 24:6-8). Lucas, escrevendo sobre o mesmo sermão, acrescenta pestes ou epidemias (Lc. 21:11).
Um sofrimento crescente para o mundo
Não é preciso muito para concluir que o mundo contemporâneo já tem vivenciado tudo isso. Se considerarmos que em pouco mais de um século, ocorreram duas guerras mundiais que afetaram todo o planeta, abatendo alguns impérios e levantando outros, em uma escala jamais vista antes na História, podemos deduzir que já temos vivido o princípio das dores. Isso é ratificado por outras catástrofes como as mencionadas por Jesus, tais como a fome crescente, os terremotos cada vez mais frequentes e a recente pandemia. A propósito, enquanto escrevo essas linhas, um grande terremoto acaba de abalar o Oriente Médio, deixando pelo menos 6.000 mortos na Turquia e na Síria, sendo este país já assolado por uma guerra civil que se arrasta há doze anos.
Embora sejam eventos árduos para a humanidade, é necessário que ocorram, segundo Jesus, como sinais preparatórios para sua volta. O princípio das dores é resultado de um mundo em uma espiral descendente — em termos morais e espirituais — em uma direção oposta e cada vez mais distante de Deus, que o conduzirá ao fim dessa era conforme a conhecemos, ou olam hazeh como a chama a tradição judaica.
Não apenas os conflitos individuais, sociais, religiosos, civis e militares são cada vez mais frequentes, porém, a crescente inquietação e tensão que vivemos hoje, em todos os cantos do planeta, conduzirão a humanidade a um caos em todos os sentidos. Esse caos é oriundo da tentativa do homem estabelecer seu governo sobre a Terra sem Deus, o que conduzirá as nações às plenas dores de parto.
As Dores de Parto do Messias
Quando Jesus fala do princípio das dores, Ele está se referindo às Dores de Parto do Messias (Chevlei Mashiach), abundante nos livros dos profetas. Essa mesma palavra no original grego aparece em uma das cartas de Paulo para se referir ao mesmo período, justamente quando ele trata dos tempos do fim e do juízo divino: “Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão” (1Ts 5:3). Portanto, Paulo faz conexão das Dores de Parto do Messias, na tradição judaica, com o período dos dias do fim, de dor e tormento, conforme profetizado por Jesus.
Jeremias foi um dos que mais profetizou sobre esse tempo futuro de grande sofrimento para seu povo: “São estas as palavras que disse o Senhor acerca de Israel e de Judá: Assim diz o Senhor: Ouvimos uma voz de tremor e de temor e não de paz. Perguntai, pois, e vede se, acaso, um homem tem dores de parto. Por que vejo, pois, a cada homem com as mãos na cintura, como a que está dando à luz? E por que se tornaram pálidos todos os rostos? Ah! Que grande é aquele dia, e não há outro semelhante! É tempo de angústia para Jacó; ele, porém, será livre dela (Jr. 30:4-7).
(Foto: Unsplash/Catalin Pop)
As Escrituras fazem menção a esse tempo difícil como sendo de dores de parto para ilustrar a angústia pela qual passará Israel e que resultará na vinda de seu Messias. Este é um tema muito abordado em todo o Velho Testamento, especialmente nos profetas Isaías e Jeremias, mas pouco conhecido dos cristãos não messiânicos. A ideia é de uma mulher que sofre enorme agonia para dar à luz um filho.
Em seu sermão profético, após mencionar o princípio das dores, Yeshua usa a expressão Grande Aflição ou Grande Tribulação para se referir às Dores de Parto do Messias (Mt. 24:21). Entretanto, Ele também não criou esse nome, mas o tomou emprestado do livro de Daniel. Na verdade, Yeshua parafraseia as palavras do anjo Gabriel em Daniel 12:1, afirmando que esse tempo de aflição será inigualável na história de Israel e do mundo.
O fim da presente era
O mundo da presente era, conforme o conhecemos, continuará de mal a pior. O termo “princípio das dores” nos leva a concluir que esses eventos trágicos irão aumentar a proporções cataclísmicas, imergindo o mundo em um completo caos, com Deus excluído pelos homens de suas sociedades, um ambiente perfeito para o domínio autoritário e profano do anticristo, opressivo, manipulador e controlador, privado de qualquer tipo de liberdade. De certo modo, não devemos nos surpreender com essa perspectiva, pois o próprio Jesus afirma que o mundo jaz no maligno, bem como tudo que lhe diz respeito.
Conforme predito pelo próprio Senhor, a perseguição aos judeus e aos cristãos (gentios enxertados na Oliveira Natural) aumentará intensamente, o que já pode ser visto e sentido em todo o mundo. A recente Lista Mundial da Perseguição 2023 mostra que hoje já são mais de 360 milhões de cristãos perseguidos no mundo, uma cifra que cresce a cada ano de modo assustador. Isso se espalhará por todos os países e já está alcançando o Ocidente de modo veloz; é bíblico e não se trata apenas de uma questão de região geográfica. Os tempos angustiosos preditos por muitos profetas, pelo Senhor e pelos apóstolos estão a caminho para Israel e para as nações. Todavia, Yeshua nos motivou a guardar a fé e a nos exultar diante deles, pois, quando chegassem, nossa redenção estaria próxima. Maranata!
Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br
* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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