A Câmara dos Deputados argentina aprovou o projeto de lei que autoriza a interrupção legal da gravidez até a 14ª semana de gestação.
A proposta, que tem o apoio do presidente Alberto Fernández, recebeu 131 votos de deputados favoráveis à interrupção da gravidez, ante 117 contrários e seis abstenções, no início da manhã da sexta-feira (11).
Agora, o projeto ainda precisa passar pelo Senado argentino, que terá a palavra final.
País de maioria cristã, milhares de pessoas se manifestaram contra a aprovação do aborto antes das votações.
A Argentina tem 76% da população católica, segundo pesquisa de 2008 produzida pela Agência Nacional de Promoção Científica e Tecnológica (Foncyt).
A segunda maior religião é a evangélica. Os dados apontaram que o número de evangélicos aumentou de 9% em 2008 para 15,3% em 2019.
Não ao aborto
Unidos, católicos, evangélicos e organizações pró-vida reuniram milhares de manifestantes no sábado (28) em Buenos Aires para protestar em frente ao Congresso, onde aconteceu o debate do projeto de lei apresentado na Câmara dos Deputados.
“Não estamos de acordo em interromper uma vida que começa desde a concepção, somos uma maioria celeste, já que, segundo as últimas pesquisas, 70% são contra este projeto de lei. Esta maioria deve ser ouvida”, defendeu o pastor Jorge Gómez.
“Não queremos legalizar a morte”, bradou Gómez, que é diretor-executivo da Aliança Cristã de Igrejas Evangélicas da Argentina (Aciera).
Segundo os organizadores, marchas e caravanas pró-vida foram realizadas em 500 cidades da Argentina.
É a nona vez que um projeto de lei de interrupção voluntária da gravidez tramita no Congresso argentino. Em 2018, a proposta foi aprovada pelos deputados ―por 129 votos a favor e 125 contra―, mas derrotada no Senado.
Apoio presidencial
A medida prevê que as mulheres possam interromper sua gestação até a 14ª semana. Não podem transcorrer mais de 10 dias entre a solicitação do aborto e sua realização.
Desde 1921, o aborto na Argentina é crime punível com até quatro anos de prisão, exceto em caso de estupro ou risco de vida da mãe. Mesmo assim, a cada ano mais de 300.000 abortos são realizados na Argentina, de acordo com números não oficiais, e cerca de 40.000 mulheres argentinas têm de ser hospitalizadas por complicações derivadas deles.
Com argumentos religiosos e políticos, os legisladores contra o projeto alertaram que se trata de uma lei inconstitucional e que, se o aborto for aprovado, se tornará mais um método anticoncepcional.
Muitos também argumentaram que não é o momento certo devido à pandemia covid-19 e à crise econômica que o país está passando. “Quero defender aqueles que em toda esta situação não têm voz, não têm possibilidade de se defender, que é o nascituro”, disse o deputado da oposição Federico Angelini.
“Com que cara vamos ter medo quando um menino de 15 anos mata alguém por uma bicicleta se a mensagem da liderança é que a vida é relativa, que em nome da liberdade se pode dispor da vida para nascer, aliás, mais vulneráveis”, acrescentou a legisladora Graciela Camaño quase no final do debate.