O relatório apresentado pela Unicef na última quinta-feira (4) traz dados alarmantes sobre os registros de mutilação genital em mulheres, que vivem atualmente em 30 países. Segundo o texto, pelo menos 200 milhões já sofreram com este tipo de procedimento agressivo e, na maioria das vezes, realizado nas situações mais precárias de higiene.
A prática - que é muito 'comum' em países como a Indonésia - fez mais 70 milhões de vítimas, se comparado com os dados referentes a 2014.
Países onde impera a cultura / religião islâmica, como Egito, Etiópia e Indonésia concentram metade dos casos de mutilação.
Deste total dos casos registrados, 44 milhões das vítimas são meninas de até 14 anos. Em vários desses países, a mutilação genital supera 50% nessa faixa etária.
Na Indonésia, por exemplo, metade das meninas de 11 anos de idade para baixo já sofreram, sendo submetidas a esta prática, que geralmente é realizada nas meninas, já nos cinco primeiros anos de vida.
Já entre as meninas e mulheres que hoje têm entre 15 e 49 anos, praticamente todas as que vivem na Somália (98%) e as guineanas (97%) já sofreram com este tipo de mutilação.
Apesar dos dados alarmantes, a Unicef também informou que a conscientização e oposição contra este problema está ganhando força, enquanto em países como Libéria, Burkina Fasso, Quênia e Egito, a prática já apresentou diminuições nas últimas décadas.
Há cerca de 7 anos, 15.000 comunidades, cidades e distritos em 20 países já afirmaram ter abandonado a mutilação genital feminina. A prática também já é considerada crime em cinco países.
O grande desafio, segundo a Unicef, é acompanhar o crescimento demográfico - razão pela qual os números de mutilações continuam a crescer de modo geral nesses 30 países e deve aumentar ainda mais nos próximos 15 anos.
A organização também destacou que a prática agressiva é uma das muitas violações dos direitos das crianças.
"A mutilação genital feminina difere entre regiões e culturas, com algumas formas que representam riscos para a vida. Em todos os casos, violam os direitos das meninas e das mulheres", afirmou a subdiretora executiva do Unicef, Geeta Rao Gupta, em comunicado.
Doutrina
A mutilação genital feminina - também conhecida no islamismo como "circuncisão feminina" - tem "respaldo" no próprio Corão. A prática se baseia em 3 'Hadiths' autênticos (os Hadiths são os livros que narram as "tradições de Maomé").
O procedimento também é previsto no Tratado de Lei Islâmica "The Reliance of the Traveller".
"e4.3: Circuncisão é obrigatória (para cada homem e mulher) pela remoção do pedaço da pele da glande do homem, mas a circuncisão da mulher se dá pela remoção do clítoris (isto é chamado Hufaad)", diz um treco do texto.