Aconteceu no domingo (3), na Venezuela, o referendo sobre a anexação de parte da Guiana, uma região rica em petróleo. A área é objeto de uma longa disputa territorial entre os dois países.
O referendo, em grande parte simbólico, perguntou aos eleitores se eles concordavam com a criação de um estado venezuelano na região de Essequibo, “incorporando esse estado no mapa do território venezuelano”.
Conforme a CNN, numa coletiva de imprensa, que anunciou os resultados preliminares da primeira parcela de votos computados, o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela disse que 95% dos eleitores escolheram o “sim”, pela anexação.
Ainda não ficou claro de que forma a Venezuela pretende reivindicar o território, mas a Guiana chamou o movimento de “um passo para a anexação e uma ameaça existencial”.
Na semana passada, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, visitou as tropas em Essequibo e hasteou uma bandeira da Guiana em uma montanha com vista para a fronteira com a Venezuela.
A Corte Internacional de Justiça, com sede em Haia, decidiu antes da votação que “a Venezuela deve abster-se de tomar qualquer ação que modifique a situação que atualmente prevalece no território em disputa”.
O tribunal planeja realizar um julgamento sobre a questão, após anos de revisão e décadas de negociações fracassadas. No entanto, a Venezuela não reconhece a jurisdição do tribunal.
‘Especialistas comparam caso com a invasão russa na Ucrânia’
Não está claro quais medidas o governo venezuelano tomaria para dar continuidade ao resultado, e qualquer tentativa de afirmar uma reivindicação certamente será recebida com resistência internacional, de acordo com a CNN.
Ainda assim, a retórica crescente levou a movimentos de tropas na região. A comunidade internacional comparou o caso com a invasão russa na Ucrânia. Muitos residentes na região predominantemente indígena estão no limite.
“A longa disputa sobre a fronteira entre a Guiana e a Venezuela subiu a um nível de tensão sem precedentes nas relações entre nossos países”, escreveu o ministro das Relações Exteriores da Guiana, Robert Persaud.
“Um governo autoritário que enfrenta uma situação política difícil é sempre tentado a procurar uma questão patriótica para que ele possa se envolver na bandeira e reunir apoio, e acho que isso é uma grande parte do que Maduro está fazendo”, disse Phil Gunson do International Crisis Group.
Risco de guerra envolvendo o Brasil
De acordo com o Jerusalem Post, a Venezuela pode ser responsável por uma nova guerra na América do Sul: “O país, governado pelo regime autoritário de Nicolás Maduro, apela a Caracas para lançar uma guerra contra a sua vizinha Guiana e tomar a região de Essequibo”.
“O objetivo da votação era dar a Caracas o direito de atacar o seu vizinho. Esse ataque será difícil porque a área que a Venezuela quer invadir é uma selva densa. Mas a Venezuela também reivindica recursos energéticos na selva e no mar. Isso significa que o referendo tem ramificações importantes. Poderia levar a um conflito com o Brasil, desencadeando uma grande guerra como a América do Sul não via desde a guerra do Paraguai no século XIX”, diz o veículo.
O clima tenso entre os países e as ameaças da Venezuela contra Essequibo é semelhante à forma como a Rússia conseguiu entrar na Ucrânia, pouco a pouco: “Primeiro, a Rússia anexou a Crimeia e criou repúblicas separatistas no leste da Ucrânia. Depois invadiu e anexou mais áreas”.
Ainda de acordo com o Jerusalem Post, a Venezuela está seguindo o modelo russo e também o exemplo de Ancara e da invasão de Afrin em 2018. “A Turquia invadiu esta área curda da Síria e expulsou a minoria curda. Agora Ancara ocupa Afrin”, comparou.
Até o momento, ninguém sabe como a comunidade internacional — que está lidando com a guerra Israel-Hamas e Rússia-Ucrânia — responderá.
O colunista do UOL, Josias de Souza disse esperar que “Nicolás Maduro esteja apenas ‘latindo’ porque se ‘morder’ vai prejudicar muita gente no Brasil”, pois haverá uma guerra entre países vizinhos.
“Nos resta esperar que Maduro esteja apenas fazendo teatro ou dando uma de cachorro louco", disse durante uma entrevista.