Em mais de 20 anos de carreira na música, o pastor e cantor Fred Arrais aprendeu lições valiosas que o ajudaram a se manter um ministro à serviço da Igreja e alinhado com a Palavra de Deus.
“A Igreja me salvou. Eu poderia ter me tornado um artista superficial, raso, focado apenas em mim, na arte, em pagar minhas contas, achando que isso era suficiente. Mas a Igreja colocou meus pés em um fundamento firme”, disse em entrevista exclusiva ao Guiame.
Fred Arrais, de 37 anos, começou cedo na carreira musical, que teve início aos 16 anos. Desde então, ele trabalhou com ministérios importantes, como Diante do Trono, Nivea Soares, Gateway Worship, International House of Prayer em Kansas City, entre outros.
Ele teve uma experiência marcante em 2017 na Jordânia, quando esteve no país para a gravação do álbum “Deserto de Revelação” do Diante do Trono. “Foi muito emocionante para mim, nas locações, ver o pastor Asaph Borba montando o som para a gente gravar”, comenta. “Eu fiquei impressionado. Esse cara é tão grande, tão conhecido e está aqui do outro lado da câmera, servindo.”
Até que, em determinado momento, Asaph pegou sua mão e ensinou algo precioso: “Fredinho, você sabia que tudo começa e tudo termina na Igreja? Quando nós éramos jovens, com talentos imaturos e ninguém nos dava oportunidade, a Igreja nos deu. Quando nós formos velhos, tocando errado, já sem muita arte, a Igreja ainda estará lá com as portas abertas. Porque a Igreja não é sobre dons, é sobre pessoas.”
“Ele olhou nos meus olhos e disse: ‘Nunca deixe a Igreja!’”, lembra Fred.
Assista a entrevista completa:
Com essa lição no coração, Fred observa: “O sonho de todo jovem é ser um rockstar, inclusive dentro da igreja. Mas chega uma hora que o grande perigo na vida de um líder de louvor é que Deus seja um detalhe, e a música seja o principal. Eu comecei a perceber isso no meu coração. Eu não estava mais indo para um evento ou outro simplesmente para adorar a Deus; agora eu tinha uma empresa aberta, contratos, som, performance, e esse mundo do business foi tomando conta. E eu percebi que eu precisava de algo para colocar os meus pés no firme fundamento onde eu não me deslumbrasse.”
Fred, que é pastor da Igreja Angelim Teresina, no Piauí, passou a se dedicar de forma mais intensa à sua congregação. Na rotina do cantor estava não apenas as apresentações em grandes conferências e eventos patrocinados por prefeituras, mas também visitas pastorais, casamentos, velórios, pequenos grupos e ministrações para os membros.
“Chega uma hora que o grande perigo na vida de um líder de louvor é que Deus seja um detalhe, e a música seja o principal.”
— Fred Arrais
“Me tornei pastor e foi uma luta muito grande dentro de mim ser artista e ser pastor, porque as duas coisas são antagônicas. Um artista é inacessível, um pastor tende a ser totalmente acessível; um artista vende o seu tempo, um pastor doa o seu tempo. Eu decidi que eu seria um pastor que canta, não um cantor que pastoreia”, destaca.
A relevância pode negociar a essência
Fred Arrais também acredita que há uma “linha tênue” entre o crescimento orgânico dos ministérios e as estratégias de marketing digital usadas para expandir o alcance, em um mundo que tem se tornado cada vez mais online.
“Eu acho que a relevância às vezes negocia a essência. Eu não sei te responder ainda se há um limite, porque vivemos no mundo do engajamento, dos robôs das redes sociais que ditam o que devemos fazer”, avalia o cantor.
Fred Arrais, 37 anos, é pastor da Igreja Angelim Teresina. (Foto: Fred Arrais/Instagram)
“Vivemos uma ditadura velada dentro das redes sociais que tenta dizer o que devemos ou não falar. Infelizmente, dependendo da profundidade da nossa fé, isso se torna negociável ou não. Não posso julgar a caminhada dos meus irmãos, mas acho que o custo é alto”, acrescenta.
“A nossa mensagem limita o nosso engajamento. E se não limita, nós estamos limitando a nossa mensagem”.
— Fred Arrais
Para Fred, é melhor negociar o engajamento do que a mensagem. “Não podemos vender nossa essência para alcançar multidões. Porque temos alcançado a multidão com uma mensagem dissolvida, com um evangelho errado, um evangelho sem cruz, que está em busca de engajar e ganhar seguidores. Jesus não estava em busca de seguidores. Há um momento em que foi falado a Jesus ‘duro é o teu discurso’ e a multidão foi embora.”
Fred lembra ainda de uma frase que ouviu do pastor Mike Bickle, fundador do IHOPKC, onde estudou com sua esposa nos Estados Unidos. “Ele quase não viaja para pregar. E ele diz: ‘É impossível um pregador com a agenda cheia ter tempo para Deus em sua agenda’. Eu acredito nisso porque eu já vivi isso”, revela.
O cantor então conclui: “Temos que achar um ponto de equilíbrio e saber que não podemos estar nos comparando com grandes artistas desse mundão, porque eles carregam outro tipo de mensagem. A nossa mensagem limita o nosso engajamento. E se não limita, nós estamos limitando a nossa mensagem.”
Veja a entrevista completa no vídeo acima.