Os Arrais: “Os deveres do Reino não se resumem à música”

Os Arrais: “Os deveres do Reino não se resumem à música”

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:02
Os Arrais: “Os deveres do Reino não se resumem à música”“Não fale que O conhece se O esquece em cada esquina (...)”. A letra causa impacto, mas traduz uma realidade da sociedade nos dias atuais em sua relação com Deus e é exposta pelos irmãos André e Tiago Arrais em seu novo CD pela Sony Music, “Mais”.
 
Conhecida por suas letras de conteúdo profundo, apresentadas em um formato considerado atualmente inovador – voz violão e percussão – a dupla tem conquistado cada vez mais admiradores de seus projetos.
 
Em entrevista exclusiva ao Portal Guiame, Tiago Arrais falou sobre os projetos da dupla - que atualmente mora no estado de Michigan (Estados Unidos) -, sua carreira, composições e parcerias em seus trabalhos.
 
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
 
Portal Guiame: Sabe-se que vocês não moram no Brasil e sim nos EUA (Michigan). Como tem sido administrar a carreira de vocês neste contexto? Quais os maiores obstáculos que vocês têm enfrentado neste sentido?
 
Tiago Arrais: Nossa “carreira” não se limita à música. Meu irmão e eu vivemos em uma universidade onde estudamos teologia. O André está terminando um mestrado em teologia e logo irá começar um doutorado em teologia. Eu terminei o mestrado em 2009 e agora estou na fase final do doutorado em teologia. Nosso ministério está diretamente ligado a Palavra. Usamos a música com o fim de ensinar a Palavra, e por mais que seja difícil viver longe do Brasil neste momento, temos certeza de que nosso tempo aqui apenas contribui para nossos planos a longo prazo. As músicas que escrevemos não nascem num vácuo. Elas surgem de estudo, experiência, com a Palavra. Por isso, viver longe do brasil é necessário para que possamos estar melhores preparados para servir o Reino e o Rei. Um dos maiores obstáculos é claro, fora viver longe da família, é não poder atender todos os convites que chegam até nós. Mas tentamos sempre deixar claro que os deveres do Reino incluem a música, mas não se resumem à música. É necessário arar a terra, para plantar na terra, e regar a terra, para que o fruto cresça e finalmente seja colhido. Nosso ministério musical se encaixa neste processo, e não é um fim em si mesmo.
 
Guiame: Algumas músicas de vocês têm influenciado jovens a escreverem sobre a importância dos princípios cristãos e do evangelho. Como isso reflete para vocês? “Fazer pensar” e “ir mais fundo” já eram intenções do trabalho de vocês?
 
Tiago: Claro. Hoje em dia vivemos num momento histórico peculiar. Mais de dois mil anos de Cristianismo. O cristianismo tem uma história longa e complexa se pensarmos apenas no Brasil. E hoje, vivemos imersos em um mar de clichês. Clichês sobre as histórias da Bíblia, na ética, no dia a dia, na música. Nossas músicas e trabalho têm também o propósito de quebrar os óculos dos clichês que nos fazem ver uma realidade distorcida, para usar os óculos da Palavra, e buscar entender o máximo possível a realidade como ela é. Sempre seremos influenciados pela nossa bagagem existencial, passadas experiências, mas a beleza da Palavra é que calibra nossa visão. Eu não acredito/apoio um Cristianismo que não pensa. Um Cristianismo que não pensa não é o Cristianismo inaugurado pelo próprio Cristo. Ele mesmo disse que conhecimento é central, não somente para conhecer a verdade mas para permanecer nEle mesmo (Veja João 8:31 e 17:3). Hoje em dia não conhecemos a Palavra. Conhecemos versões dela diluídas em sermões e músicas superficiais. São ecos longínquos da verdade, mas não chegam nem perto. Nossas músicas são feitas como uma ponte entre o ouvinte e a Palavra. Elas não são um fim, são um meio. Para que na Palavra o ouvinte possa recalibrar suas concepções pré-estabelecidas. Se chegarmos ao ponto de dizer que temos a verdade e não há nada mais que preciso saber da Palavra, não poderíamos estar mais longe do que a Palavra diz e consequentemente do Cristo que ainda fala através da Palavra. Ir mais fundo é o caminho de todo verdadeiro seguidor de Cristo. O problema é que todos nós nos satisfazemos com pouco. 
 
Guiame: Em duas músicas do CD “Mais” vocês contam com a participação de Daniela Araújo (“Não Fale” e “A Voz”). Como surgiu a ideia desta parceria?
 
Tiago: Em nossos projetos sempre tentamos envolver amigos. No CD “Mais” vários amigos nos ajudaram e nos apoiaram. As letras foram revisadas por nosso amigo Edson Nunes Jr., a pós-produção contou com a ajuda do Leonardo Gonçalves e com o irmão dele André Gonçalves, e a produção do CD foi feita pelo nosso amigo Andy Gullahorn. As pessoas reconhecem mais a Dani já que ela cantou em duas músicas. Mas o projeto sempre tem a participação de amigos. Nós conhecemos a Dani faz tempo e temos grande admiração pelo trabalho dela. Foi um privilégio poder envolve-la no CD e não poderíamos estar mais satisfeitos com o resultado. 
 
Guiame: Na canção “Rojões”, encontra-se os sentimentos de alguém que “cantou vitórias de guerras que nunca viu”. Em que contexto esta canção surgiu? O que especificamente ela expressa?
 
Tiago: A letra da música rojões é baseada em um poema que postamos na nossa página do facebook (facebook.com/osarrais) para quem quiser ler. O poema conta a história de um indivíduo que sempre quis fazer grandes coisas pelo Reino, pelo Rei, mas ele sempre era aparentemente “deixado de lado” para realizar coisas menores: cuidar do portão, plantar um jardim, etc. Durante o poema todo ele não entende que estas pequenas coisas são importantes para o Rei. E apenas no final ele se entrega a vontade do Rei, ele se entrega a ideia de que o Rei sabe o que é melhor para nós, e que tudo que é feito para a glória Dele é em si uma grande obra. Sempre gostei deste poema porque me encontro nele. Eu sou esta pessoa que sempre quis fazer grandes coisas pelo Rei, ir para a frente de batalha, mas era convocado para cantar de guerras que nunca vi. Por ser um poema especial decidimos coloca-lo de uma maneira resumida na música rojões.
 
Guiame: Vocês já falaram sobre a canção “17 de Janeiro” e o que inspirou sua composição: “Palavras que seriam ditas por um Tiago mais experiente ao Tiago atual (da época em que foi escrita)”. Estas palavras se modificaram em algum ponto? Ou ainda continuam semelhantes?
 
Tiago: De nenhuma maneira. Creio que a música 17 de Janeiro é uma promessa Divina a todos que trilham o caminho estreito (Mateus 7:14). O caminho pode ser escuro mas Cristo é a luz do mundo. Falaria tudo isto a um Tiago mais novo, simplesmente porque o Tiago de hoje encontra paz e esperança nesta realidade que talvez não estava tão clara no passado. Mas a verdade não muda. Hoje olhando para o futuro incerto, esta frase ecoa nas paredes de nossa vida: o caminho pode ser escuro, mas Cristo é a luz do mundo. 

Por João Neto – www.guiame.com.br 

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