Governo Obama não deve fechar economia norte-americana, diz embaixador
Não se deve esperar um fechamento do mercado norte-americano no governo de Barack Obama. O maior protecionismo dos democratas é um mito, assegura o embaixador Roberto Abdenur, que comandou a Embaixada do Brasil em Washington de 2004 a 2007. "Não vamos ver movimento, para frente, em matéria de abertura de mercados, mas não acho que vamos ver um fechamento de mercados", afirmou.
De acordo com Abdenur, a economia norte-americana depende do intercâmbio comercial com outros países. "Não acho que os Estados Unidos, mesmo com toda a gravidade desta crise, vão virar uma fortaleza e fechar-se ante ao comércio internacional porque é de seu próprio interesse trazer produtos mais baratos de fora e porque só vão superar essa crise no médio e longo prazo dando a volta por cima nas suas contas externas e passando a exportar mais do que importam", disse, em entrevista exclusiva à Agência Brasil.
O embaixador lembrou que, até o começo da crise, os americanos importavam US$ 2 trilhões por ano. A China, sozinha, tem saldos comerciais com os EUA da ordem de US$ 300 bilhões. Até mesmo o Brasil tem superávit comercial com os americanos. "Em termos gerais, a economia americana é extremamente aberta", afirmou.
Essa também é a avaliação do do diretor-geralda Câmara Americana de Comércio (Amcham), Gabriel Rico. "A economia americana é a mais aberta que existe no mundo todo, a que mais dá espaço para transações comerciais. Eles têm um déficit comercial enorme, o que demonstra essa abertura grande. Se a gente souber negociar e estabelecer bons acordos, espaço, lá, sempre existe", disse.
Abdenur acredita que o momento nos Estados Unidos, em razão da crise, é de "parada para arrumação de questões comerciais". Mas aposta, inclusive, na retomada da Rodada Doha dentro de uns dois anos. "Os americanos precisam colocar a casa em ordem, evitar uma catástrofe econômica que ainda está ameaçando, reativar a economia, mudar seu sistema de proteção social, dar mais proteção ao trabalhador, aumentar o seguro desemprego, ampliar a previdência social e o sistema de saúde, recapacitar a economia americana para a competição. E isso vai levar algum tempo", disse.
O embaixador alerta, no entanto, para um trunfo que o Brasil terá nos próximos meses e que, em vez de beneficiar, poderá criar arestas na relação comercial com os Estados Unidos. A organização Mundial do Comércio deverá, finalmente conceder ao Brasil direito de retaliação no caso dos subsídios concedidos pelo governo americano aos produtores de algodão. "Nestas situações, é preciso ter muita cautela para não exacerbar os ânimos e não precipitar ações que tragam satisfações mas que tenham conseqüências indesejáveis depois", afirmou.
A regra, segundo Abdenur, vale para qualquer contencioso comercial entre Brasil e Estados Unidos. "Nesse momento importantíssimo de transição nos Estados Unidos, de mudança para melhor nas suas posturas internacionais, com imensas possibilidades de progresso na relação entre os dois países, temos que evitar aplicar sanções. Em particular, evitar aplicar sanções na área de propriedade intelectual porque esse é um tema politicamente muito sensível nos EUA", disse.
De acordo com o embaixador, o Brasil não deve adotar esse tipo de postura seria "um tiro no pé". Atrapalharia, também, a relação comerciais com outros países." Isso afetaria os nossos interesses com outros países desenvolvidos. É importante que na área de política comercial e de política externa não precipitemos essas ações que, embora tenhamos o direito de fazer, possam ter conseqüências negativas e conturbar um panorama que hoje é de céu de brigadeiro nas relações bilaterais", afirmou.