Sábado (10) foi o último dia como gari para Walkíria Aparecida Benites, de 36 anos. Ela foi até a sede da empresa onde trabalhava no setor de limpeza urbana em Campo Grande para encerrar o contrato mantido por sete meses, e com isso dedicar-se exclusivamente à vida acadêmica. Walkíria começou a frequentar aulas no curso de Biologia da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), em Dourados, a 225 km de Campo Grande.
O supervisor da empresa, Zezito Sales de Amaral, disse que uma mistura de sentimentos tomou conta dos colegas de trabalho quando ela passou no vestibular. “Por um lado, ficamos um pouco tristes, pois perdemos uma de nossas melhores funcionárias. Mas, por outro, ficamos muito felizes em vê-la ir atrás de seu sonho, ela merece”, afirmou.
Antes de ser gari, Walkíria trabalhou como faxineira, diarista e babá para se manter. A mudança na vida de Walkíria começou há dois anos. Ela havia concluído o Ensino Médio 12 anos atrás e se sentiu instigada quando a sobrinha terminou o 2º grau. “Percebi que estava ficando para trás, já tinha perdido muito tempo e precisava voltar a estudar”, disse ao G1.
Walkíria matriculou-se no cursinho do Instituto Luther King, entidade que oferece cursos preparatórios gratuitos para vestibular e de informática básica. O fundador e presidente do instituto, Aleixo Paraguassu, disse que ela serviu de exemplo para professores e alunos. “Durante dois anos, ela teve 100% de presença, é uma pessoa humilde, com uma garra e uma força de vontade incríveis, tenho a maior admiração por essa mulher”, disse.
Depois que iniciou o cursinho pré-vestibular, teve que aliar os estudos à rotina do trabalho de gari. Diariamente, acordava às 5 horas, percorria aproximadamente 40 quarteirões para fazer a limpeza das ruas em Campo Grande. “Era muito cansativo, eu só chegava em casa depois do cursinho, quase à meia-noite”, lembra.
Após dois anos de estudo, o esforço foi recompensado. No dia 17 de janeiro deste ano, foi divulgado o resultado do vestibular da UFGD. Walkíria passou na primeira chamada, em 29º na colocação geral e 9º pela cota social, destinada a egressos do ensino público, sistema de reserva existente na universidade em Dourados. Foram oferecidas 60 vagas para o curso, com aulas em tempo integral.
“Descobri que tinha mesmo capacidade, fiquei muito emocionada, parece que saí de uma caverna e vim para a vida real. Até ontem era gari e, agora, sou universitária”, disse Walkíria.
Dificuldades
Walkíria mudou-se para Dourados, alugou uma casa pequena e trabalha como diarista para pagar as contas. A maior dificuldade, segundo ela, é aprender a lidar com informática, já que a maior parte das pesquisas é feita com ajuda de dados da internet. “Para quem superou o que eu superei, aprender a mexer em um computador é fácil, fácil”, brinca.
A ex-gari mal começou o curso de Biologia e já traça metas para os próximos anos. “Sei que ainda é o começo, ainda tenho um longo caminho pela frente. Mas, depois que terminar a faculdade, quero fazer mestrado e doutorado”, disse. “Eu vou ser doutora”.