O movimento estudantil, que levou 200 mil jovens às ruas em 1992 para pedir a saída do presidente Fernando Collor, hoje sofre por... falta de estudantes.
Cerca de 5% dos alunos do país se envolvem com as entidades. Boa parte diz sequer ter interesse. "Nem sempre é a maioria que toma as decisões, porque nem sempre a maioria participa dos debates", diz Clara Saraiva, 24, líder da Anel (dissidência da UNE, veja à esquerda).
Ela está entre os líderes estudantis cujo perfil você confere aqui .
Ligados a partidos que, fora das salas de aula, têm pouca representatividade (como o PC do B e o PSTU), esses jovens levam uma vida diferente da maioria dos colegas.
O presidente da UNE, Augusto Chagas, 29, faz faculdade há dez anos. Tarcísio Boaventura, líder dos estudantes de ensino médio de SP, tem 22 e está no cursinho. Ambos optaram por atrasar a graduação e depender dos pais para complementar a ajuda de custo recebida (na UNE, cerca de R$ 2.000).
Clara, aluna de serviço social na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), quer se mudar para São Paulo, sede da Anel. Deve trancar ou transferir o curso.
"Meus pais ficavam bem preocupados em eu não conseguir me graduar. Hoje me admiram, pois não fico apática diante de injustiças."
Nas entidades, tanto a situação quanto a oposição são de esquerda. Como de costume, esquerdas que não se entendem. O PSTU, por exemplo, critica o PC do B, que lidera a UNE, por receber dinheiro federal.
Se falta participação de estudantes, dinheiro há. A UNE recebe R$ 2,5 milhões do governo federal ao ano, além de R$ 2,7 milhões emitindo carteirinhas (aquelas para pagar meia entrada). Para Augusto, é "obrigação do poder público apoiar os estudantes".
Ele deixará de ser líder da UNE neste ano e diz que agora quer se formar --faz sistemas da informação na USP, mas começou a graduação na Unesp. Augusto discorda de que esteja demorando muito para pegar o diploma.
"Tive experiências além da sala de aula, a militância foi uma segunda faculdade." Não cogita deixar o que chama de "luta": "Você passa a acreditar em certas coisas. É difícil abrir mão da militância."
Adriano Vizoni/Folhapress Estudante participa, no fim de março, de protesto contra o aumento da tarifa do ônibus em São Paulo -
(DES)INTERESSE DOS JOVENS
O que pensam sobre o movimento estudantil
5% dedicam parte do seu tempo participando de entidades estudantis como UNE, Ubes ou Umes
55% declaram não ter nenhum interesse em participar dessas entidades estudantis tradicionais
Fonte : Pesquisa "Jovens Brasileiros" (Datafolha, maio de 2008), com 1.541 jovens de 16 a 25 anos
CONHEÇA AS ENTIDADES ESTUDANTIS
UNE
União Nacional de Estudantes
Fundada em 1937
Presidente: Augusto Chagas (presidenciaune@gmail.com ), 29, filiado ao PC do B
É a entidade mais tradicional do movimento estudantil brasileiro. Teve participação decisiva durante a ditadura militar, e levou jovens para as ruas para pedir a saída do então presidente Fernando Collor, em 1992
Anel
Assembleia Nacional de Estudantes - Livre
Fundada em 2009
Coordenadora-geral: Clara Saraiva (clarasaraiva.anel@gmail.com ), 24, filiada ao PSTU
A Anel surge como uma dissidência da UNE, liderada por militantes do PSTU. A principal crítica feita por essa oposição é que a UNE tem tido relação boa demais com o governo _além de operar a chamada "indústria de carteirinhas de estudantes" como fonte de renda
Ubes
União Brasileira de Estudantes Secundaristas
Fundada em 1948
Presidente: Yann Evanovick (ubespresidencia@gmail.com ), 20, filiado ao PCdoB
Upes
União Paulista de Estudantes Secundaristas
Não tem site
Fundada em 1948
Presidente: Tarcísio Boaventura (presidente.upes@gmail.com ), 22, filiado ao PC do B
Poligremia
União dos grêmios de vários colégios paulistanos
Não tem site
Fundado em 2010
Sem líder. Contato geral: poligremia@gmail.com
POR ONDE ANDAM?
Alguns dos ex-presidentes da UNE
José Serra
(de 1963 a 1964)
Ex-governador de São Paulo e candidato a presidente no ano passado
Honestino Guimarães
(de 1971 a 1973)
Foi preso e morto pela ditadura
Aldo Rebelo
(de 1980 a 1981)
Hoje é deputado federal pelo PC do B
Lindberg Farias
(de 1992 a 1993)
Liderou as manifestações pelo impeachment de Collor em 1992. Hoje é senador pelo PT do Rio de Janeiro
Orlando Silva
(de 1995 a 1997)
Hoje é ministro do Esporte. Sua pasta abriga Wadson Ribeiro (presidente de 1999 a 2001, que é Secretário Nacional de Esporte Educacional) e Ricardo Capelli (presidente de 1997 a 1999, coordenador do programa da Lei de Incentivo ao Esporte)
Gustavo Lemos Petta
(de 2003 a 2007)
Não conseguiu se eleger deputado federal pelo PC do B no ano passado --na época, declarou ao TSE ainda não ter se formado
Lula Marques/Folhapress Lindberg Farias lidera protesto contra uma revisão da Constituição em 1993 e é arrastado para fora do Congresso. Em 2011, cumprimenta o senador Collor, agora seu colega