Rogério Sampaio critica dirigentes do judô por não levarem atletas reservas para Pequim

Rogério Sampaio critica dirigentes do judô por não levarem atletas reservas para Pequim

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:32

Rogério Sampaio critica dirigentes do judô por não levarem atletas reservas para Pequim

"Começamos mal", disse o campeão olímpico em carta aberta à imprensa

 

"Garantir uma vaga na seleção nacional, ter a oportunidade de disputar os Jogos Olímpicos e brigar muito para conquistar uma medalha é o sonho de 10 entre 10 atletas de alto nível nos quatro cantos do mundo.

Nos esportes coletivos, a presença de um reserva é parte do jogo. Nos individuais, como o judô, nas últimas três Olimpíadas essa foi a rotina na seleção brasileira. Os titulares contaram com o apoio de reservas, legitimamente classificados, que não só proporcionaram o respaldo necessário durante o período de treinamento e preparação, como também permaneceram à disposição da Comissão Técnica para substituir qualquer titular, caso esse, por alguma eventualidade, não tivesse condições de disputar as lutas em sua categoria.

Lembro-me dos Jogos de Sydney 2000, quando Edelmar "Branco" Zanol foi cortado da equipe em virtude de uma contusão e Carlos Honorato, o reserva, estava a postos para substitui-lo. Mostrando-se devidamente gabaritado para representar o Brasil, Honorato tornou-se vice-campeão olímpico na categoria médio. O Brasil comemorou a conquista de um judoca que, devidamente valorizado, deixou de ser reserva para entrar na nossa seleta galeria de medalhistas olímpicos.

Durante os Jogos de Atlanta, Sydney e Atenas, o judô brasileiro esteve seguro de que não correria o risco de perder uma medalha olímpica por W.O. Ninguém pode se dar a esse luxo, não é verdade?

Apesar da decisão de enviar os reservas juntamente com os titulares ter se mostrado acertada em três Olimpíadas, dessa vez, a Confederação Brasileira de Judô optou por dispensá-los, levando em seu lugar a equipe Júnior, que se prepara para o Campeonato Mundial da Tailândia, em outubro.

Ora, se os juniores têm prioridade na participação de treinamentos de alto nível, por que, então, não embarcar com uma delegação formada por três equipes? Não haveria dramas se os reservas da equipe principal tivessem acompanhado os titulares e juniores no Japão.

Por ironia do destino, a apenas três dias da abertura da competição, foi detectada uma grave contusão no joelho da meio-leve Érika Miranda e atleta não terá condições de lutar em Pequim.

Segundo informações da Confederação Brasileira de Judô, Érika teria sofrido a lesão no dia 22 de julho, o que significa dizer que a atleta saiu do Brasil contundida. Acredito que, nessas condições, não tenha participado dos treinamentos realizados pela equipe no Japão, dedicando-se integralmente à fisioterapia.

Como campeão olímpico e conhecedor da importância da disputa de uma competição que marca para sempre não só a carreira, mas a vida de um atleta, não posso deixar de questionar: por que a judoca reserva não foi deixada de sobreaviso quanto à possibilidade de disputar os Jogos, caso a lesão da titular evoluísse, como evolui, negativamente?

Parece lógico que, numa situação como essa, a reserva fosse orientada a providenciar passagem, visto, bagagem e todos os detalhes necessários para viajar para a China a qualquer momento. Quero enfatizar que melhor ainda seria se toda a equipe reserva tivesse embarcado para o Japão para treinar ao lado dos titulares das seleções adulta e júnior.

Tanta coisa poderia ter sido feita e agora nos deparamos com a triste notícia de que o Brasil não terá representante nas lutas da categoria meio-leve feminina, que acontecerão no próximo domingo.

Andressa Fernandes garantiu no tatame a vaga de reserva de Érika Miranda na categoria meio-leve. A atleta tem experiência em competições internacionais, está no peso e bem preparada, mas não vai lutar em Pequim porque a seleção brasileira foi para os Jogos Olímpicos sem reservas. Ela até poderia ter viajado, meio de última hora, porém, a CBJ alega que não haveria tempo hábil para a aclimatação. Se Andressa poderia superar todas as adversidades e conquistar uma boa colocação em Pequim será uma dúvida que permanecerá para sempre. Com certeza, a história seria outra se ela já estivesse lá, na reserva, pronta para assumir o seu posto como fez Carlos Honorato, em Sydney.

Apesar da evolução e de todas as conquistas dos últimos anos, esse episódio denuncia que o judô brasileiro ainda carece de melhor organização. Abrir mão de disputar uma medalha olímpica mesmo tendo uma atleta reserva em plenas condições de realizar esse sonho me parece surreal. A função do reserva é substituir e, para isso, é imperativo que ele esteja no local de competição!

Contundida, Érika chora a oportunidade perdida. Já Andressa lamenta a chance que lhe foi negada e o Brasil inteiro perde diante de uma questão tão simples quanto a substituição de atletas numa competição esportiva."

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