Quando Kelly Slater conquistou o seu primeiro título mundial, aos 20 anos, no Rio de Janeiro, Gabriel Medina nem existia - nasceu apenas um ano depois, em dezembro de 1993. Em 2011, o paulista se tornou o surfista mais jovem a entrar para o Circuito Mundial de Surfe (WCT), aos 17, na mesma temporada em que Slater conquistou o seu 11º caneco. Na última e decisiva etapa de 2014, no Havaí, ele pode ser o primeiro brasileiro campeão mundial, igualando o feito do mito, que foi o mais novo a conseguir tal glória. Hoje aos 42, Kelly busca o seu 12º troféu em um cenário bem diferente do que encontrou na juventude. Eram outros tempos, como ele mesmo define, com menos assédio e pressão. Apontados como fenômenos de suas gerações, os surfistas brigam pelo título nas ondas perfeitas e tubulares de Pipeline. A próxima chamada do campeonato será nesta sexta-feira, às 15h30m (de Brasília).
- O surfe cresceu exponencialmente, estamos em outro nível. Quando ganhei meu primeiro título, eu tinha muito mais espaço, não existiam as mídias sociais, a internet e essa máquina midiática maluca. Viajava para as etapas com um pequeno grupo de pessoas, não havia essa cúpula e atenção. Este é o momento do Gabriel. Ele deve ficar impressionado com tantas pessoas correndo atrás dele, querendo saber mais sobre a sua vida. Mas, antes que as pessoas fiquem celebrando, ele deve estar focado no seu trabalho, ter a sua liberdade e o seu espaço. E só ele pode saber como fazer isso - contou Slater.
O americano se reinventa a cada geração e continua dando as cartas do jogo. Embora tenha poucas chances de ser o melhor surfista da temporada, - precisa vencer o Pipe Masters e ainda torcer por um tropeço de Gabriel, que não poderia avançar à quarta fase - Kelly nunca pode ser menosprezado. A eliminação precoce na etapa de Portugal, ainda na terceira fase, o distanciou de Medina e o fez ser superado pelo australiano Mick Fanning.
Slater criticou o desempenho do brasileiro nas últimas etapas do circuito e disse que o jovem já poderia ter sido campeão. Após a vitória em Teahupoo, no Taiti, em uma final épica com Kelly, Gabriel ficou em quinto lugar em Trestles, nos Estados Unidos, e em Hossegor, na França. Na última parada, em Peniche, Portugal, terminou como 13º colocado.
- Ele deve sentir a pressão. É difícil ganhar um título de forma antecipada, mas ele poderia ter feito isso há uma ou duas etapas. Mas eu acho ótimo que o campeão seja definido em Pipeline. Só o Gabriel sabe o que passou na sua cabeça nos últimos eventos, mas ele definitivamente não teve o sucesso deste ano nos últimos. Há muitos de vocês (jornalistas) em volta e, literalmente, milhões de pessoas querendo que ele conquiste isso para o país. Eu vou fazer de tudo para que ele perca porque quero essa vitória. Não esperava estar há tanto tempo competindo no Tour, 42 anos de idade, e ainda com chances de conquistar o título mundial. Não estou pressionado, o que vier é lucro. Se o Gabriel ganhar, bom para ele, que teve um grande ano.
O atleta de Cocoa Beach, na Flórida, era o vice-líder do ranking mundial até a etapa portuguesa e tinha uma chance de ouro para encostar ou até superar Medina. No entanto, com um 13º lugar, somou 50.050 e caiu para terceiro, sendo ultrapassado por Mick Fanning (53.100). O brasileiro se manteve na ponta, com 56.550, e a decisão ficou para o Pipe Masters. No fim da temporada, dos 11 resultados de todas as etapas, os dois piores são descartados.
O QUE MEDINA PRECISA PARA SER CAMPEÃO MUNDIAL
- se for eliminado até a terceira fase => precisa que Kelly Slater não vença a etapa e que Mick Fanning não chegue às semifinais. Se Fanning for eliminado nas quartas, decide o título da temporada numa bateria homem a homem com o brasileiro.
- se for eliminado na quinta fase => Mick Fanning não pode chegar à final;
- se for eliminado nas quartas ou nas semifinais => Mick Fanning não pode vencer a etapa;
- se chegar à final => conquista o título, independentemente da campanha de seus rivais
Por Carol FontesDireto de Oahu, Havaí