Após 12 dias de greves e protestos na Bolívia, líderes da Central Operária Boliviana (COB) alcançaram um acordo com o governo e anunciaram, na noite de segunda-feira, a suspensão das manifestações e a volta ao trabalho.
A decisão foi tomada após 36 horas de reunião entre líderes do movimento e autoridades do governo do presidente Evo Morales. Os trabalhadores pediam um ajuste salarial de 15% para diversas categorias, mas o governo concedeu 11% para algumas delas.
"Suspendemos temporariamente esta nossa etapa de luta e decidimos suspender a greve, os protestos e os bloqueios das ruas e estradas", disse Bruno Apaza, da Central Operária. Durante a reunião, o ministro da Presidência, Oscar Coca, disse que o governo não poderia aumentar a oferta.
O acordo final prevê aumento de 11% para o pessoal de saúde e de educação, e não inclui outros setores que protestaram, como médicos e mineiros, por exemplo. "Para nós, o conflito já não tem mais sentido. O governo propôs o aumento máximo possível para os salários dos trabalhadores das áreas de saúde e de educação", disse Coca.
O diretor executivo da COB, Pedro Montes, afirmou entretanto que os protestos serão retomados "se o governo não cumprir o que prometeu".
Reajuste
Segundo Oscar Coca, foi formada uma comissão com integrantes do governo e da COB para continuar discutindo as reivindicações. "Vamos analisar a possibilidade de aumentar estes 11% para 12% futuramente", disse.
O ministro de Habitação e Obras Públicas, Walter Delgadillo, disse que um ajuste salarial de 12% significará "mais que duplicar a proposta anterior do governo".
Já o vice-ministro de Orçamento, Emilio Pinto, afirmou que o "1% adicional vai gerar investimento de US$ 30 milhões" para o Tesouro e que qualquer ajuste mais deverá contar com "credito externo".
O ministro da Comunicação, Ivan Canelas, afirmou que o conflito era "desnecessário" e, na sua opinião, houve "tentativa de politizar" a reivindicação salarial.
O acordo foi tratado com tom crítico em alguns setores da imprensa local. A Red Ebol, que reúne emissoras de rádio em todo o país, disse que "Aumento de 12% dá para onze almoços, doze passagens de ônibus e 260 pães". Já a agência oficial ABI (Agência Boliviana de Informação) destacou que "apesar da violência houve diálogo e acordo".
Os protestos se intensificaram na última sexta-feira, nono dia de paralisação, quando manifestantes bloquearam o trânsito em vários pontos do país. A polícia tentou reprimir o bloqueio na estrada que liga os Estados de La Paz e Oruro. O motivo original do protesto, segundo líderes da COB, foi a reposição da alta da inflação dos últimos meses.
Em 2006, o apoio da Central Operária foi decisivo para a eleição do presidente Evo Morales, que se tornou o primeiro indígena a assumir a Presidência do país. Os trabalhadores das áreas de saúde e de educação devem retornar ao trabalho nesta terça-feira.