Carolina Cimenti, de Nova York
Após confirmação de ex-governador de Massachusetts como candidato republicano, disputa se concentra em nove Estados e em minorias
É o voto dos eleitores de nove Estados e de algumas minorias que decidirão as eleições presidenciais dos EUA em 6 novembro. Apesar de os dois principais candidatos precisarem conquistar esses mesmos eleitores, as campanhas do presidente americano, o democrata Barack Obama, e do ex-governador republicano Massachusetts Mitt Romney, são radicalmente diferentes.
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Combinação de fotos mostra presidente dos EUA, Barack Obama (E), em Iowa em 24/5, e seu rival republicano nas eleições, Mitt Romney, na Califórnia em 31/5
Foto: AP
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Embora Romney tenha conquistado o número necessário de delegados para nomeação na primária do Texas, em 29 de maio, a campanha eleitoral começou de verdade quando Rick Santorum, seu principal rival republicano, desistiu da disputa republicana em abril. O fim da corrida eleitoral republicana deu lugar ao início oficial da campanha de Obama, e mudou o tom e a direção das acusações de Romney.
Os nove Estados que serão decisivos nas eleições são os chamados "swing-states", que oscilam entre democratas e republicanos e onde os eleitores indecisos estão mais concentrados: Colorado, Flórida, Iowa, Nevada, New Hampshire, Ohio, Pensilvânia, Virgínia e Wiscosin. Os eleitores nos outros Estados americanos já estão relativamente mais decididos ou são tidos tradicionalmente como democratas ou republicanos. Na eleição de 2008, Obama venceu em todos eles. Mas dois anos mais tarde, nas eleições legislativas de 2010, para a Câmara e para o Senado, os republicanos os conquistaram de volta.
“Engana-se quem pensa que os eleitores desses nove Estados se parecem. Muito pelo contrário, cada um deles tem um perfil bem diferenciado, o que exige praticamente uma campanha eleitoral feita sob medida para cada um deles”, disse Paul Frymer, analista político da Universidade de Princeton.
A Flórida, por exemplo, um Estado tradicionalmente disputado e indeciso em quase todas eleições, continua sofrendo o baque da crise econômica e, com uma população predominantemente jovem e de imigrantes, deverá seguir o candidato que mais convencer o eleitorado hispânico. Já Ohio, apesar de ser bastante conservador, tem uma economia em vias de recuperação, com o índice de desemprego em queda, e pode acabar votando no atual presidente por causa disso.
Eleição das minorias
Também é comum afirmar que essas serão as eleições das minorias. “O eleitor republicano é tradicionalmente mais velho, mais rico, mais conservador e tende a sair mais de casa para votar. Os jovens e as classes mais pobres normalmente são mais democratas, mas tendem a comparecer menos às urnas (afinal, o voto nos EUA não é obrigatório)”, disse analista política Jennifer Duffy, que escreve para o The Cook Political Report.
Como as pesquisas eleitorais mostram um placar completamente empatado por enquanto, a decisão tende a ficar a cargo dos grupos que não se enquadram nessa métrica, como as mulheres, religiosos, homossexuais, negros e latinos. A população negra, como ocorreu em 2008, deverá apoiar Obama, então alguns analistas dizem que essa será, na verdade, a eleição que dará voz às mulheres e aos latinos.
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Segundo Duffy, até o dia das eleições, as táticas dos dois candidatos terão de ser muito diferentes. “Obama está buscando uma reeleição, e toda a eleição que envolve um presidente ainda no cargo acaba se transformando em um referendo sobre os quatro anos de governo. Romney, por outro lado, tem de se apresentar e convencer o país de que ele pode fazer um trabalho melhor do que o atual presidente”, explicou a analista política. “E, para complicar ainda mais, os eleitores não gostam muito de mudanças, então Romney terá de atacar Obama com agressividade para fazê-los mudar de ideia”, disse Duffy.
Atualmente, Obama tem investido em uma rede vigorosa de voluntários espalhados por todo o país e tem aparecido pelo menos uma vez por semana com alguma celebridade que o apoia, como o ator George Clooney, a atriz Olivia Wilde ou os músicos da banda Red Hot Chilli Peppers. Além disso, a cada 10 ou 15 dias, ele lança um debate ligado a um tema polêmico que possa ajudá-lo a conquistar as minorias.
Em abril, um estrategista democrata acusou Romney de não entender e respeitar as mulheres por ter sempre sido um empresário rico e sua mulher ser dona de casa. Obama veio em defesa da mulher do republicano e, depois disso, conquistou todas as manchetes de todos os jornais ao se transformar no primeiro presidente americano a apoiar o casamento gay.
Romney, por outro lado, tem mostrado uma campanha mais tradicional, baseada em propagandas na TV, investimentos bastante altos em publicidade e ataques contra Obama e a situação econômica do país. O pré-candidato Newt Gingrich, quando abandonou a disputa, disse em uma coletiva que “a campanha de Romney será uma das mais caras da história, mas não necessariamente a mais inovadora”.
“Romney não precisa inovar. Enquanto Obama tentará trazer temas novos para conquistar as minorias e fazer de tudo para lembrar ao eleitorado que a situação econômica estava ainda pior quando ele assumiu a presidência, o candidato republicano deve concentrar os seus ataques na economia e nos altos índices de desemprego, que é onde está a insatisfação das pessoas. Ele tem, em primeiro lugar, que desqualificar o presidente”, disse ao iG Jennifer Donahue, especialista em política do Eisenhower Institute, em Washington.
E mesmo que a campanha de Obama comece com mais voluntários e uma estratégia vencedora, que já foi utilizada em 2008, Frymer acredita que até novembro Romney também conquistará e dependerá de milhares de voluntários. “Assim que a briga ficar mais feroz, acredito que os mórmons, evangélicos e defensores do Tea Party (o braço ultraconservador republicano) também se voluntariarão”, explicou o analista político.
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Foto: AP
Em 15 de maio, uma pesquisa do jornal The New York Times e da rede de televisão CBS mostrou que, se as eleições fossem hoje, Romney teria 46% dos votos, enquanto Obama contaria com 43%. A margem de erro da pesquisa, porém, é de 4%, ou seja, seria um empate técnico. Ao mesmo tempo, o índice de aprovação do presidente cresceu nos últimos seis meses, e atinge 48% atualmente.
Apesar disso, todos os analistas ouvidos para esta matéria concordam que ainda é muito cedo para avaliar qual campanha será mais eficiente e qual candidato terá mais chances de vencer. Tradicionalmente, as maiores acusações e as grandes sacadas de cada equipe só são apresentadas a partir de agosto, durante o verão americano. Por enquanto, seis meses antes das eleições, “eles ainda estão aquecendo as máquinas”, concluiu Frymer.