'A lembrança não se apaga', diz irmã de PM morto em ataque em 2006

'A lembrança não se apaga', diz irmã de PM morto em ataque em 2006

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:44

Anderson Andrade foi morto em rua em Santo André (SP)

Com registros de ataques a bases da Polícia Militar, delegacias e até unidades do Corpo de Bombeiros, a noite de 12 de maio de 2006 marcou o início da maior onda de violência já vivida em São Paulo. Do dia 12 ao dia 21 de maio, segundo relatório da Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo, 493 pessoas morreram vítimas de crimes violentos no estado. Dessas, de acordo com estudo divulgado nesta semana, pelo menos 261 tiveram relação com ações de uma facção criminosa.

Os ataques do crime organizado em São Paulo completam cinco anos. A partir desta quinta-feira (12), o G1 publica uma série de reportagens sobre os nove dias que marcaram a história de São Paulo.

  Entre os mortos em maio de 2006, está o soldado Anderson Andrade, à época com 26 anos. Ele foi morto em Santo André, cidade onde morava e trabalhava, na madrugada de 13 de maio, um sábado.

“Ele estava cuidando da viatura em frente a um estabelecimento comercial enquanto colegas, também policiais militares, compravam comida. Estava fardado e sozinho. Quando homens que passavam em uma moto o viram, voltaram e atiraram”, conta a irmã de Anderson ao G1 .

Desde esta noite a família de Anderson convive com a saudade do jovem carinhoso e sempre presente, que sonhava se tornar tenente da Polícia Militar. “Foi um choque. Ficamos todos muito abalados, e até hoje meus pais viajam quando a data se aproxima porque não conseguem ficar bem. Foi perto do Dia das Mães, então foi ainda pior. Éramos três irmãos, muito próximos, unidos. Agora, nessa época do ano, não há mais clima para comemorações”, diz a jovem, que preferiu não ter o nome citado.     Anderson havia se formado em 2002 e, segundo conta a irmã, era apaixonado pela profissão. “Ele adorava ser PM e pensava em crescer, estava se preparando para isso”, diz. Mesmo cinco anos depois da morte do rapaz, a jovem ainda se emociona ao lembrar do irmão. “Por mais que o tempo passe, a lembrança dele nunca se apaga. Ele faz muita falta, era uma pessoa maravilhosa."

O início dos ataques

O primeiro relato oficial sobre os ataques da facção criminosa em São Paulo chegou ao comandante-geral da Polícia Militar na ocasião por volta das 19h da sexta-feira 12 de maio de 2006. O coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges, que hoje está aposentado, conta que estava em Franco da Rocha (SP) quando soube da ação.     “Eu estava em Franco da Rocha (SP) e por volta das 19h recebi a comunicação de que havia um carro da polícia metralhado, com um policial morto e um ferido na região do ABC. Ficamos preocupados e passamos o alerta para a rede pedindo cautela. Cerca de duas horas depois, outro caso foi registrado em Osasco, com outro policial baleado e um morto. Naquela noite de sexta-feira já tivemos vários ataques a bases, quartéis e delegacias”, afirma Borges ao G1 .

De acordo com a Polícia Militar, o que aconteceu a partir daquela sexta-feira, apesar de inesperado, teve sua provável origem em ações de segurança realizadas no início daquela semana. “Na terça ou quarta-feira antes dos ataques nós fomos convocados para uma reunião com representantes da Secretaria de Administração Penitenciária porque estava ocorrendo uma série de rebeliões e, segundo o que foi apurado por uma escuta interna, uma grande rebelião estava prevista para ocorrer. O plano era então retirar todos os líderes, cabeças das facções criminosas, dos presídios e levá-los para Presidente Venceslau. Isso movimentou mais de 700 detentos, entre quarta e quinta-feira, e exigiu uma logística enorme”, afirma o coronel.     “Subestimou-se o tamanho desses ataques e muitas mortes poderiam ter sido evitadas se houvesse, de fato, um alerta geral. Era uma noite tranquila, deixamos nossos postos normalmente e qualquer um poderia ter sido alvo”, conta o major Olímpio Gomes, deputado estadual, na época subcomandante do 34º Batalhão da Polícia Militar do Interior, em Bragança Paulista.

Na tarde de sexta-feira, um dos líderes de uma facção criminosa foi levado ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) para ser ouvido e, em seu depoimento, ameaças de retaliações pelas transferências foram registradas. De acordo com Borges, após os primeiros ataques, a força policial inteira foi colocada em alerta.

"Já tínhamos um mapeamento dos ataques e a definição do modo de operação da facção. No fim de semana, começamos ações de contenção e revide”, diz o coronel. Com a constatação de que os ataques ocorriam, principalmente, durante a noite, a polícia se reorganizou, suspendeu folgas, férias e concentrou as ações no período da noite.

"É muito difícil voltar para casa sabendo que dezenas de famílias não verão mais seus entes queridos. Como comandante, isso vinha à minha mente a todo o momento. E isso não tem retorno, não tem solução, não se refaz, são famílias. Acredito, ao menos, que a PM cumpriu seu papel, combateu, prendeu quando necessário e usou a força necessária", completa Borges.        

Mais do Guiame

O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições