Uma empresa da Zona Sul de São Paulo especializada na venda de planos de saúde pendura seis mil panfletos em postes da cidade a cada noite. Durante o dia, os papeizinhos, de 5cm x 3cm, vão sendo arrancados pelos pedestres, que os colocam no bolso ou jogam no chão. A técnica é usada para driblar a fiscalização da Lei Cidade Limpa. Na tarde desta segunda-feira, 20 de julho, a reportagem do G1 encontrou postes ocupados nas esquinas da Avenida Nove de Julho com as ruas Caçapava, Cravinhos, Presidente Prudente e Estados Unidos.
Por telefone, o gerente de marketing da empresa identificada nos panfletos disse que já recebeu três multas de R$ 5 mil cada mas, ainda assim, de acordo com ele, vale a pena correr o risco.
A Subprefeitura da Sé informou que vai identificar e punir os responsáveis com multa de R$ 5 mil. Como a avenida corta áreas de influência também da Subprefeitura de Pinheiros, o trabalho depende de identificar as equipes de fiscalização responsáveis e finalmente autuar os infratores. Ainda segundo a Subprefeitura da Sé, toda vez que a prática é detectada, os folhetos são imediatamente retirados.
Por meio do número de telefone fixo impresso nos panfletos encontrados na Nove de Julho, a reportagem do G1 localizou o escritório responsável pela venda dos planos de saúde.
Uma funcionária disse, por telefone, que a empresa funciona na Zona Sul da cidade. O homem que a sucedeu e que se apresentou como gerente de marketing contou que a empresa contrata free-lancers, que amarram cerca de 6 mil panfletos em postes a cada noite.
"Cada vendedor faz a própria campanha. Quem inventou eu não sei, mas sei que dá resultado. Recebemos em média dez ligações por dia de gente que viu o folheto. É a melhor forma de ter resultado rápido", afirmou.
O esquema de distribuição dos panfletos busca em cada etapa terceirizar a responsabilidade pela irregularidade.
Cada panfleto pendurado no poste tem o nome de sete planos de saúde, mas os impressos expõem apenas os preços mensais cobrados por faixa etária de cliente. Não há divulgação do telefone ou CNPJ do plano de saúde. Em um espaço em branco do folheto, a empresa corretora de planos carimba o nome e os telefones fixo e celular dos vendedores de planos de saúde, mas não deixa claro o próprio nome.
Terceirizar para não ser multado
O cliente que liga para o número indicado recebe uma proposta de visita em casa. O endereço da empresa só aparece após muita insistência. O gerente esclarece que a terceirização não impediu a aplicação de multas. "É claro que quando a multa cai, a empresa acaba sendo responsável. Mas o primeiro contato é com o vendedor", afirmou.
Na entrevista por telefone, o funcionário deu detalhes da operação. Cada vendedor contrata o distribuidor que vai passar a noite amarrando os panfletos aos postes.
"Tem vendedor que paga R$ 50 e tem vendedor que paga R$ 35, mais a condução, por noite. Cada poste recebe pelo menos dez panfletos. Por noite são distribuídos 6 mil panfletos, em todas as regiões.
"Cada um trabalha de uma forma em cada região da cidade. Por exemplo, a Sandra ( vendedora que tem o nome impresso no folheto) trabalha aqui há três meses e ela faz esse trabalho há três meses em vários locais da cidade. Ela paga pessoas para fazer isso", afirmou.
Embora reconheça que está praticando uma irregularidade, o gerente de marketing afirma que falta conscientizar a população, para que os folhetos não sejam jogados na rua.
"A população é mal educada. A gente está fazendo o trabalho e tem muita gente que passa, tira o panfleto e joga no chão. Nós temos um pessoal que passa durante a semana limpando os postes, tirando os barbantes. É complicado trabalhar em uma cidade assim. Isso (amarrar panfletos em postes) não é legal e todo mundo sabe. Mas as pessoas não tem consciência. Tiram aquele bolo de panfletos e jogam na via", afirmou.