Quem matou o zelador Jezi Lopes Souza usou um serrote para esquartejá-lo em 17 partes, informa laudo do Instituto Médico-Legal (IML), ao qual o G1 teve acesso. O idoso de 63 anos foi morto no dia 30 de maio no prédio onde trabalhava, na Zona Norte de São Paulo, e teve o corpo encontrado aos pedaços em 2 de junho. Acusado de cometer o assassinato, o publicitário Eduardo Tadeu Pinto Martin confessou ter tentado se livrar do cadáver queimando os pedaços na churrasqueira de uma casa em Praia Grande, litoral paulista.
Eduardo e sua mulher, a advogada Ieda Cristina Cardoso da Silva Martins, moradores do edifício, estão presos pela morte e o esquartejamento do funcionário. Para a Polícia Civil e o Ministério Público (MP), o publicitário foi o executor e a mulher o ajudou. O casal também é investigado por outro crime: o assassinato do ex-marido dela no Rio de Janeiro em 2005.
O exame necroscópico aguarda os resultados de outros laudos complementares para tentar determinar a causa da morte de Jezi. De acordo com o documento, ainda não é possível saber o que matou o zelador, porque as análises no cadáver foram prejudicadas pelo número de pedaços e o estado de decomposição dele. Novos testes foram solicitados à Superintendência da Polícia Técnico-Científica. Eles ainda não ficaram prontos.
17 partes
“Examinamos um corpo fragmentado em 17 segmentos, tendo dois outros segmentos (vísceras abdominais e órgãos torácicos) em adiantado estado de putrefação”, indica exame necroscópico do cadáver de Jezi. “As imagens observadas das estruturas ósseas fragmentadas são compatíveis com as produzidas por uma serra (serrote)."
Para a investigação e acusação, a conclusão do exame necroscópico demonstra que quem matou e esquartejou Jezi quis dificultar a identificação do corpo e impedir a descoberta da causa da morte. De acordo com o documento, antes de atear fogo no cadáver, foi colocada cal. Segundo peritos ouvidos pela equipe de reportagem, o produto químico poderia ressecá-lo.
Procurado para comentar o resultado do laudo, o promotor Eduardo Campana afirmou que o documento comprova que o acusado tentou esconder provas do crime. "Eduardo destruiu parcialmente o corpo de Jezi, fazendo uso até de cal para se livrar do cadáver e destruir evidências que poderiam ser encontradas nele para demostrar como executou o crime”, disse. "O laudo mostra a brutalidade empregada contra a vítima", afirmou Robson Lopes de Souza, advogado da família de Jezi que irá atuar como assistente da Promotoria na acusação.
Defesa do casal
O advogado Marcello Primo, que defende o casal Martins, negou que o laudo necroscópico do IML demonstre que o publicitário planejou esconder provas porque segmentou Jezi em 17 partes. “Eduardo ficou desesperado, serrou o corpo e ficou sem saber o que fazer e achou que isso seria melhor saída”, alegou o defensor.
Apesar de ter confessado o esquartejamento do zelador, Eduardo alegou que a morte dele foi acidental, após briga com troca de socos quando o funcionário entregava cartas no 11º andar.
Segundo a defesa, Jezi teria batido a cabeça e morrido no apartamento 111 onde o casal morava com o filho de 10 anos, no condomínio da Rua Zanzibar, no bairro da Casa Verde. Ieda e a criança não estariam no local na hora da confusão.
Câmeras de segurança do edifício gravaram Jezi ao sair do elevador no andar dos Martins e não aparecer mais. As imagens também mostram o publicitário e a advogada levando as bagagens ao carro deles que estava na garagem. Apesar dessas filmagens, Eduardo inocentou a mulher.
O publicitário disse ter colocado o corpo dentro de uma mala e seguido com ela para Praia Grande. Lá, segundo sua versão, esquartejou a vítima com um serrote. A família de Jezi registrou seu desaparecimento e a polícia passou a investigar o sumiço do zelador. No litoral, policiais prenderam Eduardo em flagrante queimando os restos mortais da vítima.
Tanto para a investigação quanto para a acusação, Ieda ajudou o marido a matar, esquartejar e esconder o cadáver de Jezi. Peritos encontraram manchas na parede do apartamento, que seriam do sangue do zelador. “A vítima foi agredida violentamente pelo agressor, inclusive dentro do apartamento”, disse o promotor.
Mas nos cinco interrogatórios que deu à polícia, Eduardo declarou que agiu sozinho. Ele alegou que a advogada não sabia de nada. Ieda também negou em seus quatro depoimentos ter participado dos crimes.
Causa da morte
Para Rosangela Monteiro, ex-diretora do Núcleo de Crimes Contra a Pessoa da Polícia Técnico-Científica, o mais provável é que Jezi tenha morrido em decorrência de asfixia ou de uma pancada na cabeça. "A radiologia e a tomografia esclarecerão se houve lesão, fratura óssea ou fratura de vértebra para saber se houve estrangulamento ou uso de instrumento contundente, projétil de arma de fogo", disse.
De acordo com o laudo do IML, os legistas informaram que “um novo laudo complementar definitivo será efetuado, com todos os registros dos exames”. Eles adiantam que “poderá ocorrer ou não mudança na causa da morte vinculada diretamente com os exames complementares”.
Segundo o exame necroscópico, por causa do estado do cadáver, a perícia não conseguiu responder se Jezi foi envenenado, queimado, asfixiado, torturado ou atingido por algum objeto.
Zelador assassinado
Independentemente dos resultados dos laudos, para a polícia e o MP o caso da morte do zelador está esclarecido. A versão da investigação é a seguinte: Jezi foi assassinado dentro do apartamento do casal Martins por causa de brigas e discussões frequentes que tinha com o funcionário por causa do condomínio.
Eduardo, de 47 anos, e Ieda, de 42, estão presos até um eventual julgamento. O publicitário responde por homicídio doloso, no qual há a intenção de matar; ocultação de cadáver; falsificação de documento e porte ilegal de arma. A advogada Ieda é acusada de homicídio, ocultação e porte de arma.
Apesar de a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) ter informado na sexta-feira (1º), que Eduardo permanecia preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) da Vila Independência, na Zona Sul da capital, seu advogado afirmou ao G1 que ele está no presídio de Tremembé, interior de São Paulo, desde a semana passada.
Rio
Quanto a Ieda, a pasta e o advogado confirmaram que ela permanece detida no Rio de Janeiro. A advogada está presa por decisão da Justiça daquele estado, onde foi acusada de matar o ex-marido, o empresário José Jair Farias, 57, em 20 de dezembro de 2005. A Justiça paulista, no entanto, determinou que Ieda seja transferida novamente para São Paulo, onde deverá ficar presa pela morte do zelador Jezi.
O publicitário também é investigado pela Polícia Civil do Rio por suspeita de ajudar Ieda a assassinar José a tiros perto da empresa da vítima. Tanto Eduardo quanto Ieda negaram à polícia qualquer envolvimento neste crime. O caso do assassinato do empresário já havia sido encerrado sem apontar culpados, mas foi reaberto após a repercussão da morte do zelador.
A polícia fluminense decidiu reabrir o inquérito que apurava a morte de José após a polícia paulista apreender armas que estavam com o casal em São Paulo e em Praia Grande. Foi pedido um laudo de comparação balística entre elas e as balas que mataram o empresário no Rio. O resultado apontou que o cano de pistola 380 e silenciadores apreendidos no apartamento dos Martins foram usados para matar o ex-marido de Ieda.
Um revólver calibre 38, encontrado no litoral, teria sido usado para dar uma coronhada na cabeça de Jezi. Todo o armamento estava em situação irregular, pois o casal não tinha autorização para tê-lo. Questionados pela polícia, Eduardo e Ieda não derem informações de como conseguiram as armas.