Chapéu de líder indígena desaparecido desde sexta-
feira (18) (Foto: Reprodução/TV Morena) Três dias após o ataque ao acampamento indígena Guaiviry, na faixa de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, um casal de adolescentes de 12 anos de idade ainda não retornou ao local, segundo os acampados. Além deles, segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), o cacique de 59 anos permanece desaparecido desde sexta-feira (18) , quando a área foi alvo da ação de pistoleiros armados.
No acampamento que fica às margens da rodovia MS-386, viviam entre 60 e 100 indígenas, e a maioria se dispersou para a mata após o incidente. A maioria dos acampados retornou nesta segunda-feira (21), e o Guaviry foi ampliado com a chegada de pelo menos 70 indígenas de outras aldeias e acampamentos. Os indígenas, da etnia guaraní-kaiwá, afirmam que o cacique teria sido morto a tiros durante o ataque feito por aproximadamente 40 homens. Eles relatam ainda que o corpo do cacique teria sido colocado em uma caminhonete.
A Polícia Federal abriu inquérito para investigar o caso, e representantes do Ministério Público Federal estiveram no local na última sexta-feira (18). A perícia policial colheu fragmentos de munição e vestígios de sangue. Exames devem apontar se as amostras são de material humano.
O acampamento ocupa uma área de 20 hectares, situada entre fazendas nos municípios de Aral Moreira e Amambaí, no sul do estado, que encontra-se em estudos para identificação de terras indígenas. Presidência
Na sexta-feira (18), a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH) publicou nota em que repudia a violência contra os povos indígenas, e reafirma a proteção e a defesa dos direitos dessas populações.
O órgão informou ainda que membros do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) viajarão a Mato Grosso do Sul para acompanhar a situação e dar apoio às famílias indígenas que permaneceram no acampamento. "O Governo Federal e o CDDPH não medirão esforços para fazer cessar práticas desumanas de execução sumária e não poupará esforços para identificação e responsabilização dos criminosos", diz a nota.
Local onde fica o acampamento indígena alvo de
suposto ataque (Foto: Arte/G1) Entenda o conflito
Brigas por terras entre indígenas e produtores rurais são cada vez mais comuns em Mato Grosso do Sul. Dados do censo feito em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística revelam que MS é o segundo estado com mais indígenas (73.295), perdendo apenas para o Amazonas (108.080). O ataque ao acampamento Guaviry foi mais um episódio da violência provocada pela briga.
O historiador Antônio Brand explica que os indígenas foram expulsos de suas terras à medida que os colonizadores chegaram. Segundo ele, aos poucos, as fazendas foram construídas, áreas verdes desmatadas e os nativos mudaram-se para outras localidades. Hoje, grande parte mora em acampamentos e tenta tomar por conta própria o espaço que a eles pertenceu.
O assessor para assuntos fundiários indígenas da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Josiel Quintino dos Santos, afirma que a maioria das terras dos produtores do estado são regulares. Segundo ele, existem aproximadamente 49 fazendas ocupadas por índios no estado, todas com titulações válidas do ponto de vista jurídico.