Passado um ano da guerra de cinco dias que devastou a província autônoma da Ossétia do Sul, no leste europeu, a situação na região não mudou muito. Segundo analistas ouvidos pelo G1, o clima de tensão é permanente, com recentes ameaças verbais de Rússia e Geórgia, apesar de avanços obtidos pelas missões de paz da Otan e da União Europeia.
''É bem possível que outro conflito ocorra. Especialmente agora, quando há tantas declarações provocadoras. Há também na Rússia a tentativa de convencer a opinião pública de que a Geórgia está tentando nos atacar. Mas isso é quase impossível, é como se a Nicarágua tentasse atacar os Estados Unidos!'', afirmou o analista político russo e autor do livro ''Another Look Into Putin's Soul'' (''Outro olhar sobre a alma de Putin'', sem tradução em português), Andrei A. Piontkovsky.
A guerra do ano passado começou quando a Geórgia fez uma incursão militar em sua província autônoma alegando ter sido atacada nos últimos dias por separatistas. No dia seguinte, a Rússia, dizendo querer proteger cidadãos russos que vivem na região, atravessou a fronteira com suas tropas, que chegaram até as proximidades da capital Tbilisi. A Justiça da Ossétia do Sul calculou em mais de 500 o número de mortos. A guerra deixou cerca de 30 mil refugiados.
O conflito terminou com a assinatura pela Rússia do acordo de cessar-fogo proposto pela França. Em agosto Moscou reconheceu independencia de Abkházia e da Ossétia do Sul.
Moradora da Ossétia do Sul caminha por destroços em Tskhinvali, na Geórgia. ''Pouco mudou na região. Tivemos um desenvolvimento por causa das missões da ONU que ajudaram muito. E agora vivemos sob a possibilidade constante de desentendimentos'', disse Lawrence Sheets, analista do instituto International Crisis Group. Segundo ele, a Geórgia tem pouco incentivo para entrar numa guerra.
Após os confrontos do ano passado, a Rússia ampliou sua presença militar na Ossétia do Sul e vem apoiando separatistas. Passaportes russos foram entregues à população, o que dá ao país argumentos para enfrentar as tropas da Geórgia em caso de um novo conflito.
Histórico
Separatistas e georgianos se acusaram mutuamente de iniciar as hostilidades na Ossétia do Sul, território de quase 70 mil habitantes etnicamente distintos dos georgianos que falam sua própria língua, parecida com o persa.
O colapso da União Soviética alimentou o nascimento de um movimento separatista na Ossétia do Sul, que sempre se sentiu mais próxima da Rússia do que da Geórgia. A região livrou-se do controle georgiano durante uma guerra travada em 1991 e 1992 e na qual milhares de pessoas morreram.
Georgianos e ossetas assinam um acordo de cessar-fogo em junho de 1992, após o qual uma força de interposição tripartite, integrada por soldados ossetas, georgianos e russos, se movimenta ao longo da fronteira entre a Geórgia e a Ossétia do Sul para assegurar a manutenção do status quo.
Mas os incidentes entre georgianos e ossetas continuam. Em agosto de 2004, os enfrentamentos deixam vários mortos em ambos os grupos.