Segundo a extensa literatura disponível sobre a metodologia supracitada no título, autoajudar-se é uma tarefa tão possível e relevante para o espírito humano, que eles, os teóricos desta abordagem, nos prestaram o inagradecível favor – para não dizer “inútil” – de catalogar em suas obras, as mais belas virtudes da vida, a fim de suscitar nos leitores a enganosa possibilidade de obter, através da leitura, o conjunto etéreo de todas essas qualidades.
Digo “enganosa”, não por acreditar em má-fé por parte desses escritores, mas por considerá-los também como “sinceramente enganados” neste processo. A autoajuda, em sua gênese acadêmica, teve como razão de existir o fato de que a população em geral não tem acesso a consultas com psicólogos, a seções de psicoterapia e a consultórios psiquiátricos. A partir deste cenário, observou-se uma necessidade de tecer um meio pelo qual a saúde mental estivesse mais alcançável aos menos favorecidos economicamente e aos que se constrangem diante dos profissionais da mente.
A partir desta constatação, surgiram desde modestos livretos a enciclopédias inteiras redigidas pelos autoajudantes, ou melhor, pelos desbravadores do óbvio, que estão a fim de nos revelar suas descobertas. Assim, sugestões como “seja autêntico”, “seja criativo”, “seja equilibrado” ou “tenha mais paciência”, “aprenda a ouvir” e “organize seu tempo”, surgiram como se tivessem sido desenterradas ou encontradas no fundo do mar. A verdade, no entanto, é que estas instigações tratam de necessidades humanas tão perceptíveis por qualquer imbecil, que reafirmá-las em um livro comprado só para reafirmá-las, faz com que a autoajuda se torne o maior pega-trouxa de todos os tempos.
Mas você ainda poderia me dizer: os livros de autoajuda que eu li não tinham apenas estes conselhos que você acaba de citar. Bem, é certo que não, pois o que os autoajudantes fazem é desmontar seus argumentos, que já são autoexplicativos, em páginas e mais páginas de conteúdo idêntico, porém, mascarado por palavras, analogias e exemplos diferentes, que geram a sutil aparência de “capítulos complementares” ao invés de “capítulos congêneres”, ou seja, iguais. É a incrível arte de encher linguiça. É uma roda de Hamster que só traz perda de tempo e dinheiro para o leitor.
Entretanto, não é só por esta repetição do óbvio, que classifico o método da autoajuda como a escória das ciências psíquicas. A mais ingênua conclusão desta ideologia é a que imagina que alguém, por mais aberto e disposto que esteja, deixará de ser ou passará a ser alguma coisa, em função da simples leitura de algo que antes já sabia por inferência lógica. Pensar desta maneira é, no mínimo, atribuir ao ato de ler, um poder místico de transformação da consciência, da personalidade e do comportamento, em um curtíssimo espaço de tempo.
Contudo, o problema não está na ineficácia da leitura (é evidente que não). O problema reside no ato de achar que ela produzirá evolução sem um acompanhamento técnico e especializado para o indivíduo que a deseja. Não estou, é claro, desfazendo-me do autodidatismo, ou seja, dos que aprendem e aplicam sozinhos o que aprenderam. Mas, em regra, o crescimento pessoal não se limita somente ao conhecimento puro e simples, pois ninguém se alimenta decorando cardápios. Em síntese, o que a autoajuda faz é distribuir a ilusão antes do consumo e a ineficiência depois do mesmo. Portanto, não compre esta ideia, pois decepcionado ou não com o conteúdo, você será mais uma vítima deste pega-trouxa.
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Marlon Teixeira