O conceito de beleza sempre esteve vinculado à ideia da perfeição. Pergunte a uma pessoa mais velha de sua família se ela não se lembra de que a perda do título de Miss Universo 1954 pela brasileira Martha Rocha foi creditada a 5 cm a mais em seu quadril. Realidade ou lenda, o fato é que, felizmente, o tempo se encarregou de tornar aqueles "defeitos" capazes de derrubar até misses em marcas de sucesso de ícones da beleza mundial. O exemplo do momento é a holandesa Lara Stone e seu diastema, aquele pequeno espaço entre os dentes que já fez muita gente sofrer bullying na escola.
Queridinha da hora entre os fashionistas, Stone se tornou garota-propaganda da Louis Vuitton ao substituir ninguém menos que Madonna, também dona da famosa "janelinha", que virou traço de sua forte personalidade. Até Brigitte Bardot pertencia ao clube. "A beleza não anda sozinha, é um conjunto de fotogenia, charme e sex appeal. Tudo isso com um ar Lolita e muita jovialidade, características que as tops, atrizes e cantoras com diastema têm", considera o make up artist Rafael Senna, da Agência Glloss, de São Paulo. O sorriso com "janelinha", entretanto, é um caso clínico para os dentistas. A separação entre os dentes incisivos centrais tem como principal causa a diferença de tamanho entre a arcada óssea e o formato dos dentes. "Com isso, acaba sobrando espaço na arcada que não é preenchido pelos dentes. Outra causa muito comum é o freio labial superior inserido em nível mais baixo do que o normal, interpondo-se entre os incisivos centrais", explica o dentista Victor Schuina, autor do blog Doctor Victor, que relaciona temas da cultura pop ao vocabulário dos consultórios dentários.
Quando a causa é o freio labial superior, o problema pode ser solucionado ainda na infância. "Basta fazer uma microcirurgia para retirar esse freio, e, com o tempo, os dentes irão se realocar naturalmente", esclarece Schuina. Um hábito comum entre as crianças também pode atrapalhar o ajuste natural da dentição. "Muitas desenvolvem a mania de inserir a língua no espaço entre os dentes e essa inserção pode mantê-los separados", destaca a cirurgiã-dentista Maria Clara Azevedo, da Clínica OdoClean, no Rio de Janeiro.
Na fase adulta, os dentes não vão se reajustar naturalmente. A solução? "Ou utilizamos os aparelhos ortodônticos ou fazemos aplicação em resina para preencher o espaço", diz Azevedo. Apesar de a principal implicação do diastema ser o fator estético, o espaçamento pode afetar a fala. "Muitos fonemas são pronunciados com a ponta da língua no céu da boca, para aproveitar a acústica dos dentes. Nesses casos, além do dentista, é necessário buscar um fonoaudiólogo", completa Schiuna.
A autoestima é o termômetro para definir se a imperfeição deve ser tratada ou não. "Só vai merecer a atenção se a pessoa se sentir incomodada para sorrir em público. Um bom exercício é observarmos quando, ao sorrir, ela se incomoda com o olhar imediato para a famosa janelinha. Muitas pessoas já se protegem sorrindo com a boca quase fechada" detecta Marcelo Fonseca, presidente da Sociedade Brasileira de Odontologia Estática (SBOE). Para ele, qualquer tratamento estético nessa região deve ser harmonizado com as características faciais de cada paciente. "Temos que alcançar o máximo da beleza com naturalidade, não obedecendo a padrões", destaca.