Mulheres que fizeram reposição hormonal tiveram maiores incidências de câncer de mama em estágio avançado e foram mais propensas a morrer dele quando comparadas a mulheres que tomaram uma pílula placebo, o que aumentou a preocupação das autoridades norte-americanas sobre esses medicamentos muito usados por mulheres daquele país.
O estudo, publicado na revista científica da Associação Médica Americana, é o primeiro a reportar mais mortes por câncer de mama entre mulheres usuárias da terapia de reposição hormonal. E mais: o primeiro a contradizer os resultados de pesquisas anteriores que sugeriram que mulheres em terapia de reposição de hormônios, quando acometida por tumores de mama, tinham cânceres menos agressivos e mais fáceis de tratar.
"Ao contrário da idéia que tínhamos dois anos atrás, de que o câncer associado à reposição de estrogênio e progesterona seria de evolução favorável e sem grandes problemas para a mulher, estamos vendo hoje que essa reposição está associada a um risco maior de morte por câncer de mama" disse Rowan Chlebowski, do Instituto de Pesquisa Biomédica de Los Angeles, pesquisador líder do estudo, em entrevista telefônica à Reuters.
As conclusões foram baseadas no acompanhamento, ao longo de 11 anos, dos dados de mais de 12 mil mulheres que participaram do estudo "Womens Health Initiative", o mesmo que em 2002 apontou que o uso contínuo de estrogênio e progesterona por cinco anos aumentava o risco de câncer de ovário e mama, assim como de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Na época, a venda da terapia de reposição hormonal líder no mercado norte-americano caiu pela metade.
Dobro de mortes
Analisando os dados das mulheres do estudo "Womens Health Initiative" e encontraram duas vezes mais mortes por câncer de mama entre as que fizeram reposição hormonal 2,6 mulheres em cada 10 mil por ano contra 1,3 em cada 10 mil por ano entre as que tomaram placebo. Quase 24% dos cânceres de mama das usuárias de hormônios se espalharam para os linfonodos, contra 16% entre as usuárias de placebo.
"Os índices de todos os cânceres preocupantes, com prognósticos desfavoráveis, também aumentaram" afirmou Chlebowski, citando as formas agressivas de câncer de mama e não apenas os tumores não relacionados ao estrogênio, que são mais fáceis de tratar.
"Pela primeira vez mostramos que as mortes por câncer de mama também aumentaram significamente" disse o pesquisador.
Alguns fabricantes de medicamentos alertam aos médicos nas bulas dos medicamentos para prescreverem a reposição nas doses eficazes mais baixas e por um período curto de tempo. Mas mesmo essa conduta não está isenta de risco, sugere Peter Bach, do Centro de Câncer Memorial Sloan-Kettering, de Nova York (EUA), em um comentário publicado na mesma revista onde consta o estudo de Chlebowski e sua equipe.
"É importante enxergar os dados no contexto mais amplo, tanto em relação aos sintomas da menopausa quanto ao grande corpo de informações desenvolvido em mais de 60 anos de estudos sobre os benefícios e riscos da terapia de reposição hormonal".
Muitos especialistas apontaram que a idade média das mulheres acompanhadas no estudo era de 63 anos uma faixa de idade posterior à menopausa e que os resultados encontrados podem não ser aplicáveis a mulheres que fazem outras formas de reposição hormonal ou àquelas que iniciam a terapia imediatamente após a menopausa.