Uma pesquisa divulgada pelo Inca (Instituto Nacional do Câncer) nesta segunda-feira (30) revela que a população que ganha menos de meio salário mínimo por mês e as pessoas sem instrução são as maiores vítimas do cigarro no Brasil. O levantamento mostra ainda que, para essa parcela da população, alimentar o vício está mais fácil e mais barato.
A Pesquisa Especial de Tabagismo (PETab), a mais completa sobre o assunto, segundo o Inca, foi feita em 51.011 domicílios, entrevistando fumantes, não fumantes e ex-fumantes. Ela marca o Dia Nacional de Combate ao Fumo, celebrado no domingo (29).
Segundo a pesquisa, os maiores percentuais de fumantes no Brasil, entre ambos os sexos, foram encontrados na população sem instrução (25,7%) e entre as pessoas de menor renda (21,3%), o que correspondia à população que ganhava menos de meio salário mínimo por mês.
Considerando o preço médio do cigarro no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) e o salário mínimo de setembro de 2008 quando foram realizadas as entrevistas , um fumante de baixa renda podia comprar 150 maços ao mês naquele ano. Segundo o relatório, utilizando as mesmas variáveis, em janeiro de 2003 era possível comprar 112 maços e, em 1996, 83 maços.
- Ou seja, com o passar do tempo, ficou mais fácil para pessoas de baixa renda comprarem mais maços de cigarros.
A PETab revela que existem cerca de 25 milhões de fumantes no Brasil com idade igual ou superior a 15 anos. Isso representa 13% da população do país. A pesquisa ainda aponta que uma em cada cinco pessoas fica exposta à fumaça do cigarro em locais públicos em geral. Isso corresponde a cerca de 26 milhões de pessoas, das quais 22 milhões eram não fumantes.
O tabagismo é a principal causa de tumores malignos evitáveis, como explica o cirurgião torácico e diretor do Hospital do Câncer I, Paulo de Biasi.
- Se as pessoas não fumassem ou parassem de fumar isso evitaria dezenas de tipos de câncer, entre eles, os de pulmão, estômago, bexiga e colo do útero. 90% dos pacientes com câncer de pulmão no Inca são fumantes.
Homens jovens fumam duas vezes mais que as mulheres
Entre os jovens, a pesquisa do Inca mostra que os homens fumam 2,5 vezes mais do que as mulheres. Já nas outras faixas etárias essa proporção é menor. A explicação para isso é que elas param de fumar numa proporção duas vezes maior do que a deles.
Mas se, por um lado, as mulheres se esforçam mais para abandonar o cigarro, por outro, elas começam a fumar mais cedo do que eles. Ao analisar a população que inicia o vício com menos de 15 anos, a pesquisa percebeu que o número das mulheres nessa situação era 22% maior que o número de homens.
Já ao analisar os jovens que têm até no máximo 30 anos, o Inca notou que a média de idade em que eles começaram a fumar é de 17 anos. O relatório diz ainda que os jovens são a parcela da população que menos procurou algum tipo de ajuda para deixar de fumar.
Segundo o relatório do Inca, esses resultados reforçam a necessidade de campanhas antitabagismo voltadas para o público jovem.
- De modo geral, os dados demonstram a necessidade de explorar melhor as ações de controle do tabagismo entre a população de 15 a 24 anos.
Segundo Liz Maria de Almeida, gerente de Divisão de Epidemiologia do Inca, para que o quadro mude, outras medidas são necessárias, como acabar com os fumódromos.
- É preciso que a legislação em vigor, que ainda permite fumódromos, seja alterada para impedir 100% o uso de produtos do tabaco que emitem fumaça em ambientes coletivos e fechados.
Além disso, de Biasi alerta que o fumo passivo é outro problema grave.
- Quanto mais cedo uma pessoa é exposta ao cigarro em ambientes com fumantes, maior a possibilidade de vir a desenvolver câncer na vida adulta.