Você é casado e tudo o que deseja são momentos sozinho?

A solidão pode ser abrigo. Mas o afeto partilhado… ah, esse é lar.

Fonte: Guiame, Clarice EbertAtualizado: sexta-feira, 20 de junho de 2025 às 13:22
(Foto: Pexels/Vera Arsic)
(Foto: Pexels/Vera Arsic)

Casamento, por essência, é uma aliança de presença: dois indivíduos que escolhem partilhar o amor, caminhar lado a lado, construir uma história, cultivar intimidade.

É legítimo desejar um tempo só. A solitude saudável nos reconecta com quem somos, recarrega energias, nos dá espaço para refletir e despertar para a vida. Mas quando, com o tempo, os momentos de alívio no casamento e os mais aguardados são aqueles longe do outro, longe da rotina compartilhada, algo mais profundo está em jogo.

Talvez o que se perdeu não foi o amor, mas a mutualidade (sinergia, confluência, ligação). Sente como se estivessem junto, mas não exatamente com.

É aí que mora o risco: quando o vínculo permanece, mas a mutualidade se desfaz. Quando a vida a dois vira gestão, escala de tarefas, convivência viciada e exaurida, sem conexão. Quando o casal deixa de ser parceria e se transforma em dois indivíduos com o coração distante e praticando silêncio em cômodos diferentes.

Mutualidade não é apenas fazer junto, é importar-se junto: com os sentimentos, com as fragilidades, com as pequenas alegrias cotidianas e mesmo em meio aos desafios nos dias difíceis. E quando a mutualidade se fragiliza, o relacionamento pode escorregar da parceria para a convivência automática, que já não mais acende corpos, corações e nem orações.

A parceria em mutualidade é mais do que estar ao lado; é sentir-se parte. É compartilhar não só as tarefas, mas os sonhos, as dúvidas, as prioridades, emergências e urgências, falas e escutas, do corpo e da alma.

Quando os momentos de solidão se tornam o que sustenta a sanidade emocional, talvez o que esteja faltando não seja tempo longe — mas presença verdadeira perto. Estar sozinho pode ser um pedido da alma. Mas talvez o desejo não seja apenas de afastar-se... e sim de reencontrar o outro de um jeito novo.

A ideia não é escapar do casamento, mas é despertar e reaprender a estar dentro dele com presença. Com verdade. Com parceria de alma, não só de rotina. A solidão pode ser abrigo. Mas o afeto partilhado… ah, esse é lar.

 

Clarice Ebert (@clariceebert) é psicóloga (CRP0814038), Terapeuta Familiar, Mestre em Teologia, Professora, Palestrante, Escritora. Sócia do Instituto Phileo de Psicologia, onde atua como profissional da psicologia em atendimentos presenciais e online (individual, de casal e de família). Membro e docente de EIRENE do Brasil.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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