“Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade”. (1 Timóteo 2.1,2)
Vamos ao contexto
Na época em que a carta foi escrita por Paulo, dando orientações a Timóteo, o apóstolo batalhava para combater as heresias de um grupo de líderes que havia se infiltrado entre os verdadeiros cristãos. Ele instruiu a Igreja sobre a adoração e a ordem, recomendando que se fizessem súplicas, intercessões e ações de graças.
Sabendo que orar é falar com Deus, através de palavras ou pensamentos, então devemos considerar que há algumas formas diferenciadas de oração. A variedade de termos serve para enfatizar a riqueza desse exercício espiritual.
Oração — a palavra hebraica traduzida por oração é “prosukê”. A mesma palavra é usada também para os “locais de oração” usados pelos judeus, onde não havia sinagoga, conforme explica o hebraísta Getúlio Cidade.
Súplica — do original “deêsis”, significa implorar a Deus por ajuda em algum assunto particular. Conforme explica o hebraísta, suplicar é prostrar-se diante de Deus pedindo solução mediante alguma necessidade. Para o pastor Augustus Nicodemus “súplica é um tipo de oração onde se destaca a grandeza de Deus e a nossa pequenez”.
Intercessão — do original hebraico “entiuksis”, significa “ir ao encontro” ou ainda “atingir a mosca” que significa — acertar o alvo. “A intercessão bíblica seria esperar no Senhor em contínua petição para se atingir a vontade divina”, disse o hebraísta.
“Interceder é alinhar o intercessor a essa vontade, para que ela se cumpra no objeto da petição. Isso explica porque nem toda intercessão ou oração tem a resposta que esperamos, mas a resposta de acordo com a vontade de Deus”, resumiu.
Normalmente, oração e súplica estão mais atreladas a nós mesmos, enquanto que a intercessão envolve outra pessoa.
Ações de graças — a gratidão pode ser expressa por meio de diversas ações — adorando, louvando, orando ou emitindo palavras que reconhecem que tudo vem de Deus. Pessoas gratas celebram Deus em suas vidas.
Vale lembrar, porém, que a gratidão parece ter um tempo limitado de vida dentro dos corações humanos. Muitos acabam se esquecendo dos favores e das provisões que Deus envia.
“Nós, seres humanos, somos extremamente ingratos e a nossa memória é tão curta que a gente consegue viver o milagre e, um segundo depois, não lembrar de agradecer”, lembrou o pastor Deive Leonardo.
Além disso, ele destacou que muitos só se lembram de Deus na hora de pedir, mas nunca para agradecer: “A gratidão nos dá oportunidades maiores, mantém a porta e os céus abertos sobre nós. Quem não é grato encerra o milagre no dia em que o recebeu, mas quem é grato dá abertura para o próximo milagre e para a próxima provisão”
“Gratidão é entrar na presença de Deus com a memória de todo o bem que Ele já fez. Gratidão mantém nossos pés no chão, no sentido de não perder a essência, nem a pureza”, disse ainda.
Quando Paulo recomendou orações, súplicas e intercessões, é muito provável que tivesse tudo isso em mente.
Por que orar pelas autoridades governamentais?
O texto bíblico que estamos estudando deixa claro que o motivo da oração “é buscar uma vida tranquila e pacífica”. Lembrando que a paz é o cenário perfeito para a pregação do Evangelho e a mensagem da salvação.
Sejam os governantes bons ou maus, justos ou injustos, corretos ou incorretos, eles devem estar em nossas orações por um motivo muito simples — os cidadãos cristãos podem e devem influenciar o curso das questões nacionais.
Lembrando que quem estava governando na época em que Paulo exortou os cristãos para que orassem pelas autoridades era Nero — um sujeito ‘inclassificável’. Como lembrou o pastor Hernandes Dias Lopes: “Foi o sujeito que mandou matar a própria mãe, entre outras pessoas da família”.
“Era um louco, um devasso, um monstro”, disse Hernandes ao questionar: “Como orar por um cara desse?”. E Nicodemus ainda lembra que havia entre as autoridades o Senado, conhecido pelas suas intrigas e falcatruas, além dos governadores imorais, prefeitos, procuradores, juízes e centuriões.
“Era uma vasta rede hierárquica, montada com sabedoria pelo Império Romano, que dominou o mundo por mais de quatro séculos”, mencionou ao reconhecer que os cristãos e os judeis poderiam ter dificuldades em seguir a orientação de Paulo.
“O sistema era bruto, corrupto e cruel, os impostos eram pesados, a máquina militar era violenta”, cita Nicodemus ao dizer que, mesmo assim, a orientação era orar por todos eles.
Por quê? “Para que a Igreja possa gozar de paz e prosperidade, por uma vida tranquila e mansa, sem conflitos ou perseguições. Também devemos orar por uma vida de piedade e respeito — piedade tem a ver com a prática da religião, e respeito com aquilo o que o mundo vê em nós”, explicou.
“Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas”. (Romanos 13.1)
Como podemos obedecer autoridades que não servem a Deus?
Além de orar, devemos obedecer. Até que ponto? Nicodemus explica que as autoridades que abusam do seu poder vão prestar contas a Deus, aqui neste mundo ou no mundo vindouro.
Além disso, os cristãos devem obedecer às autoridades somente até certo limite. “Não devemos obedecer leis que vão contra a autoridade de Deus”, disse Nicodemus.
“É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens!” (Atos 5.29)
“Ao cristão compete, havendo oportunidade, denunciar através dos meios legais e legítimos, mas nunca deixar de orar”, disse ao destacar que agir assim é um testemunho para o mundo. Orando, mostramos que a autoridade de Deus está acima de qualquer autoridade.
‘Deus é Senhor sobre todas as nações’
Nós não dependemos de autoridades humanas, nós dependemos de Deus. Portanto, orar pelas autoridades é uma forma de mostrar que Deus comanda cada uma delas, em todas as nações do mundo: “Deus é Senhor sobre todas as nações”, reforçou Nicodemus.
Deus levanta governantes, e é Ele quem derruba governos. E quando oramos pelos políticos, mostramos que existe uma autoridade maior que a deles. “Nossas orações não são uma jogada cega no tabuleiro de xadrez cósmico, mas elas têm um propósito. Deus ouve a oração da Igreja”, continuou.
Segundo o pastor, devemos orar por todo tipo de pessoa, incluindo políticos corruptos e falsos profetas, pois a verdade do Evangelho precisa ser anunciada. “Deus quer salvar pessoas do erro”, disse.
Orando com sabedoria
Nicodemus aponta para um fator interessante: “Podemos pensar que é impossível que certas pessoas se convertam. Deus opera em tudo o que Ele manda. Se Ele nos manda orar pelas autoridades, é porque Ele pode fazer algo. Nunca despreze ninguém, nem desista de alguém, pois nosso Deus reina sobre tudo e todos. Tudo Ele faz para Sua glória e para o bem do seu povo”, apontou.
Segundo o pastor, “podemos orar para que Deus remova uma autoridade ímpia que nos persegue e que quer acabar com a Igreja de Deus. Podemos participar de movimentos e atos contra o governo, desde que sejam legítimos e permitidos por lei, como greves e passeatas, mas sempre com respeito e temor”, resumiu Nicodemus.
E o pastor Rodrigo Mocellin também deixa um conselho sábio, dizendo que, em muitos casos, é melhor resolver a questão no nível espiritual, ao relacionar o Salmo 73, que mostra como até o salmista quase desistiu de sua fé ao se deparar com a impunidade, em seu tempo.
“Muitas vezes, temos medo do amanhã por não estarmos no santuário, não enxergando as coisas de maneira espiritual”, disse ao destacar que não devemos nos esquecer da soberania de Deus.
Ouvir mais notícias do que dar ouvidos ao Evangelho pode ser algo perigoso. Precisamos mais de Bíblia e menos de jornal. “Temos que falar de política, mas o Evangelho ainda é superior”, disse Mocellin.
Homens corruptos podem manipular a justiça humana, mas não a justiça de Deus. Descanse nesse pensamento.
“Pois se vocês viverem de acordo com a carne, morrerão; mas, se pelo Espírito fizerem morrer os atos do corpo, viverão, porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Pois vocês não receberam um espírito que os escravize para novamente temer, mas receberam o Espírito que os adota como filhos, por meio do qual clamamos: Aba, Pai”. (Romanos 8.13-15)
“Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada”. (Romanos 8.18)
E esse foi o estudo desta semana. Espero ter tirado sua dúvida e também colaborado para seu crescimento espiritual. Beijo no coração e até a próxima, se Deus quiser!
Por Cris Beloni, jornalista cristã, pesquisadora e escritora. Lidera o movimento Bíblia Investigada e ajuda as pessoas no entendimento bíblico, na organização de ideias e na ativação de seus dons. Trabalha com missões transculturais, Igreja Perseguida, teorias científicas, escatologia e análise de textos bíblicos.
* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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