As mídias sociais são uma extensão dos relacionamentos sociais que tínhamos antes. Relacionamentos sempre foram complicados, exatamente porque nós, seres humanos, somos repletos de complicações. Somos diferentes nas preferências, nos temperamentos, nas escolhas, nos hábitos, nos gostos, nos paladares, nos esportes, enfim, nas muitas opções que a vida dá. Só isso já explica satisfatoriamente o porquê de tanta complexidade.
As mídias sociais aumentaram exponencialmente tais complicações. De dez amigos passamos para mil amigos. Antes, mal conhecíamos os dez, afinal, conhecer alguém é tarefa de muitos anos, hoje nem sabemos quem são os mil. Pra piorar, nas redes sociais todos aparecem bem, sorridentes, dando opinião sobre tudo, discutindo, tretando, debochando, lacrando, passando uma imagem bem distante da realidade, o que é facilmente verificado sempre que encontramos pessoalmente alguns destes mil amigos.
Na pressa, na necessidade de interagir, de ser legal, de ser aceito, de alcançar visibilidade, de ser minimamente pop nos espaços digitais, vejo um monte de gente curtindo de tudo, adoidado, sem qualquer critério, simplesmente vão lá, dão uma olhada superficial, emitem um “kkk” qualquer e deixam seu like, ou seja, sua curtida.
Que mal há? A princípio, nenhum, o que poderia existir de errado numa curtida? O problema é que uma curtida não é só uma “curtida”. Cada vez que você clica em cima do ícone com um positivo, uma curtida é registrada. E o “curtiu” tem significado. Tal significado nos compromete. Além de ser uma aprovação ao conteúdo que se curtiu também é uma informação daquilo que gostamos e aprovamos.
Não conheço ninguém que goste de todos os estilos de filmes, de lugares, de esportes, de viagens, de eventos, de receitas, de sucos, de carros. Cada pessoa tem suas preferências e, em relação aos estilos, coisas e pessoas que não gosta, simplesmente justifica suas opções com um simples e direto “não curto”. E todo mundo entende. Ou seja, não faço isso porque não curto, não assisto determinado tipo de filme porque não curto, não saio com determinados tipos de pessoas porque não curto. Percebeu? O “não curto” é legítimo, compreensível e totalmente aceitável.
Mas então chegamos às redes sociais, essa terra de ninguém onde a maioria curte tudo. De vez em quando me assusto, vejo postagens frontalmente contra a moral e os ensinos cristãos, publicados por gente que se apresenta como sendo da fé, e pra completar, numa primeira olhada nas curtidas também é fácil encontrar pessoas que conhecem e aprovam os valores cristãos, e que mesmo assim, deixam ali suas curtidas.
É muito complicado, comprometedor, diria até que é alienante. E por que é? Acompanhe, a pessoa literalmente e propositadamente pegou um caminho que a distancia de Deus, que afronta a vontade revelada de Deus em Sua Palavra. Até aí, ok, cada um é livre pra escolher seu caminho e arcar com sua consequência. Então vem alguém que discorda daquele caminho, que não quer para si as mesmas consequências, mas vai no post e... curte!?!?
Só tem uma explicação, curtidores em condições como a exemplificada no parágrafo anterior, querem no fundo fazer média, sair bem na foto, passar uma mensagem do tipo “sou moderno, te entendo, te respeito e tá tudo bem”. Infelizmente pra quem pensa assim, o tiro sai no pé. Pois a curtida significa “eu te respeito, também te aprovo, que legal que você está feliz, é isso aí, bora rumo as realizações”. Ou seja, no lugar de ajudar, empurra a pessoa para mais longe de Deus, pois a mesma se sente “aprovada”.
A real é: precisamos ser coerentes com o que cremos e pregamos. Simples assim. Com isso não quero dizer pra entrar no post do outro e criar climão, barraco, ofensa. Nada disso. Se não concorda, simplesmente não curte. E só. No lugar da curtida para aquelas coisas que você na verdade não curte, meu conselho é um só: ore. Apresente a Deus aqueles que insistem em se afastar, espere e confie.
Termino com Romanos 14:26, o contexto deste texto era uma discussão se podia ou não comer carne sacrificada a ídolos. Queiramos ou não, as mídias sociais tornaram-se ídolos para milhares de pessoas que delas passaram a depender, tornando-se um vício escravizante. A fala de Paulo aos romanos encaixa-se aqui: “Feliz aquele que não se condena naquilo que aprova.” Dependendo das coisas que a pessoa curte, portanto aprova, ela está se condenando, se deixando levar por conceitos, filosofias e práticas evidentemente contra os valores que abraçou. Neste ponto, sem qualquer reflexão, restará apenas um “E daí se eu curtir?”.
Edmilson Ferreira Mendes é escritor, pastor, teólogo, observador da vida.
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