Estamos vivendo um tempo marcado, cada vez mais, por conceitos racionais. Existe um esforço direcionado para explicar a fé de forma racional. Neste caminho, percebo muitas igrejas, grupos, teologias, liturgias, perdendo em seus escritos e práticas aquilo que sempre esteve presente na caminhada do povo de Deus, o mistério, o invisível, o incompreensível.
É um tempo no qual as pessoas exigem explicações, provas, testemunhas, que possam validar de forma racional a fé, justificando, clarificando, conceituando o ato de se ter fé como sendo algo verificável, testado e aprovado. Quando, pelo lado da Bíblia, a fé é aquele sentimento que espera naquilo que não vê, ou seja, a fé em muitas das suas características bíblicas não cabe na caixinha da racionalidade.
Então chegamos aos debates acalorados que se travam hoje a respeito da verdade. O que é a verdade? Cada um, nestes tempos atuais, tem a sua verdade. Cada um racionaliza sua própria verdade, lançando mão de filosofias, ideologias, intelectuais os mais diversos, gurus de todas as linhas de pensamento, tudo para se defender uma verdade própria. Também aqui, os mistérios que caminham pelas estradas da fé são descartados.
Eis o problema. A verdade num curso de engenharia, por exemplo, é diferente da verdade no campo da fé. A verdade acadêmica é empírica, é fruto de experiências e cálculos que a provam. A verdade no campo da fé é para quem crê e foi invadido pelo Espírito Santo e passou a receber a Jesus em sua vida, e este receber, nas palavras do evangelho, não foi a carne e nem o sangue que revelou, mas o Pai que está no céu. Em uma palavra, fé.
O que é a verdade? Esta é a pergunta feita a Jesus por Pilatos: “Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade? E, dizendo isto, tornou a ir ter com os judeus, e disse-lhes: Não acho nele crime algum.” João 18:38. Volte e leia novamente o versículo. Procure atentamente qual foi a resposta de Jesus. Leu? Não achou? Isso mesmo, Jesus não deu nenhuma resposta a Pilatos.
E por quê? Porque no Evangelho, assim como em toda a Bíblia, a verdade é uma pessoa. A única resposta que caberia é aquela que deu aos discípulos em João 14, “Eu sou o caminho, e a verdade...”. Porém Pilatos não era discípulo, não era íntimo, não carregava em si o componente da fé, apenas tinha curiosidade, talvez um pouco de ironia, mas fé definitivamente não tinha.
Como Pilatos, multidões estão entrando e saindo dos templos, ficam diante da verdade e não a reconhecem. Pois depois daqueles minutos de liturgia saem exatamente como entraram, apenas para continuarem cometendo os mesmos pecados e erros de sempre, afinal, vivem um tipo de fé racional, que encontra explicação e justificativa para todos os seus desvios e assim vão racionalizando e relativizando a fé, não existe mais mistério, surpresa, tremor, temor.
A verdade é Jesus, que também é o caminho e a vida. A avalanche de “verdades” que o mundo tenta te empurrar tem apenas o propósito de confundir, anarquizar, pressionar e sufocar qualquer vestígio de uma fé pura, romântica, piedosa e temente aos mistérios e caminhos de Deus que ainda possa existir em você. Saia fora de tais armadilhas, ouça o Mestre, leia sua Palavra, confie, creia, tenha fé em suas promessas e siga o caminho que Ele propõe, a verdade estará junto, viva, ativa e mais próxima do que você consegue imaginar.
Edmilson Ferreira Mendes é escritor, pastor, teólogo, observador da vida.
* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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