A pergunta do título deste texto, trocando a palavra milagre, fez sucesso no Brasil através de uma música tocada e cantada exaustivamente: “Que país é esse?”. Até hoje, e principalmente nos dias de hoje, continuo me perguntando que país é esse. Décadas atrás, quando a música era executada pelo Legião Urbana, existia a esperança de que no futuro a música teria se tornado antiga, com letra obsoleta, mas não, “Que país é esse?” segue mais atual que nunca.
Desta vez parece que os profetas das catástrofes tinham razão. Aquilo que os analistas vinham falando, denunciando e alertando durante 2014, mal começou 2015 tudo desabou sobre nós. Aumentos, arrochos, desempregos, queda nas vendas, alta do dólar, crise aqui, ali, no mundo.
Cada dia um escândalo novo com personagens velhos, manjados, irritantes. B põe a culpa em A, A em B. A imprensa, que deveria informar e sempre que necessário e justo, denunciar, se traveste em algo semelhante a uma torcida organizada, com a chula filosofia “se meu time ganha, pouco importam os meios e os recursos, afinal, a taça é nossa.” Que droga! Que caos! Que decadência! Que trágico fim de linha.
É nesse contexto que escrevo este texto. Pois é em meio a tudo isso que tenho recebido pedidos de socorro que, confesso, nunca havia recebido antes. Pelo menos não com tanta veemência e desespero. Pastores, profissionais, líderes e muita gente do bem estão literalmente com a corda no pescoço. Enforcados em dividas, ameaças, humilhações, vergonhas, enfim, enforcados em situações aparentemente insolúveis. Ou seja, só falta um empurrão no banquinho e pronto, forca concluída.
Por isso, a pergunta: Que país é esse?, que maltrata sua gente em filas e serasas por conta de míseros reais, enquanto promove farras com os Eikes Batistas, doleiros e políticos da vida. Que país é esse? Já perguntaram há milênios Habacuque, Jeremias e Elias. E cada um desses profetas sofreu a vergonha da sua época, assim como testemunhou os milagres do seu contexto.
Precisamos todos de um milagre específico para o nosso tempo. Um milagre de Deus. Genuíno, real, verdadeiro. O Senhor continua tendo compaixão do oprimido, do injustiçado, do órfão, da viúva, do iludido, do miserável, do enganado, do traído.
O milagre da vida é viver. Estamos vivendo. Estamos tentando, lutando, batalhando, suando. Estamos enfrentando monstros, pois todos os dias vamos suportando os mais duros ataques e, no fim, como agora, como aí, como aqui, descobrimos que somos sobreviventes, apesar de tudo. Somos, enfim, milagres.
Que milagre é esse que precisamos? O milagre de não desistir frente a todas as injustiças que nos esmagam. O milagre de sorrir quando motivos já quase não existem. O milagre de levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. O milagre de não se conformar com este estado de coisas. O milagre de perseguir obstinadamente as mudanças essenciais da vida, nem que seja apenas a nossa vida e a de alguns poucos que possamos influenciar.
Olhe para os montes assustadores ao redor, o mar bravio, o faraó raivoso, os acusadores com pedras nas mãos, os famintos leões no interior da cova, o eloquente Balaão com suas palavras sedutoras e as afiadas e assassinas lanças de Saul. Olhe bem. Toda essa lista já foi obstáculo para a realização de grandes milagres. Mas só obstáculos. Apavorantes, é verdade. Mas não páreo para Aquele que administra a forma, a hora e a intensidade do milagre.
Milagres, enfim, são para os loucos que ousam viver pela fé. Afinal, quando todas as placas de sinalização das estradas da vida dizem “impossível”, eis que brilha no céu as possibilidades dAquele que verdadeiramente tomou sobre si as nossas dores. Soframos com Ele até finalmente triunfarmos com Ele, pois a carreira cristã, por si só, já é um milagre.
Paz!
- Edmilson Mendes
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