“E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8.30).
O texto em epígrafe diz, com diáfana clareza, que a salvação é uma obra de Deus. Ele a planejou, a executou e a consumou. O homem não é o agente de sua própria salvação, Deus é. Quatro verdades solenes são, aqui, acentuadas:
Em primeiro lugar, Deus predestina para a salvação. A predestinação é um decreto eterno e soberano de Deus, no qual, ele, livremente, nos escolheu para a salvação, não com base nos nossos méritos, mas conforme a sua própria determinação e graça. A eleição divina não ocorreu no tempo, mas antes da fundação do mundo. Não com base em nossas obras, mas conforme o seu favor imerecido. Não porque Deus previu que iríamos crer em Jesus, mas para a fé a Jesus. Não porque Deus previu que iríamos ser santos, mas para sermos santos e irrepreensíveis perante ele.
Em segundo lugar, Deus chama eficazmente para a salvação. Há dois chamados, um externo e outro interno. Um dirigido aos ouvidos e outro dirigido ao coração. Muitos são chamados, mas poucos escolhidos. Jesus diz que suas ovelhas ouvem sua voz e lhe seguem. Ele dá a elas a vida eterna e ninguém as arrebatará de suas mãos. A voz do pastor é o evangelho. Quando o eleito ouve o evangelho, o próprio Deus tira o tampão de seus ouvidos, a venda de seus olhos e transforma o seu coração de pedra num coração de carne. O chamado divino é eficaz. A voz de Deus é poderosa. O evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. É evidente, portanto, que a doutrina da predestinação não é um desestímulo à pregação, mas uma garantia de sua eficácia. O Senhor Jesus disse a Paulo, na cidade de Corinto: “Fala e não te cales, porque tenho muito povo nesta cidade” (At 18.9,10).
Em terceiro lugar, Deus justifica os que são chamados para a salvação. A justificação é um ato livre e soberano de Deus, no qual, ele declara justo, diante do seu tribunal, todos aqueles que creem em Cristo. A justificação não acontece em nós, mas fora de Deus. Não é um processo, mas um ato. Não possui graus, ou seja, todos aqueles que são justificados estão plenamente quites com a lei de Deus e com sua justiça. Na justificação, nossos pecados foram imputados a Cristo e a justiça de Cristo foi imputada a nós. Na cruz, Jesus pagou a nossa dívida e agora, portanto, nenhuma condenação há mais para aqueles que estão em Cristo Jesus. Não apenas nossa dívida foi paga, mas temos um crédito infinito diante do tribunal de Deus, a justiça de Cristo depositada em nossa conta.
Em quarto lugar, Deus glorifica a todos quantos foram predestinados, chamados e justificados. A glorificação é uma realidade futura. Dar-se-á na segunda vinda de Cristo, quando os mortos ressuscitarão com corpos glorificados, semelhantes ao corpo da glória do Senhor Jesus e os vivos serão transformados e arrebatados para encontrar o Senhor nos ares. Muito embora, esse auspicioso evento se dará no fim, nos decretos de Deus, a glorificação já um fato consumado. Por isso, Paulo colocou o verbo “glorificou” no pretérito perfeito. A salvação não apenas é uma obra exclusiva de Deus, mas é, também, assegurada pelo próprio Deus. É impossível um salvo perder a salvação. É impossível alguém predestinado, chamado, justificado e glorificado perecer eternamente. O mesmo Deus que começou a boa obra em nós, completá-la-á até o dia de Cristo Jesus. Ninguém pode ir a Jesus sem que o próprio o Pai o traga a ele e ninguém vai a ele para ser lançado fora. Das mãos de Jesus ninguém pode nos arrebatar. É digno de nota, porém, que não somos salvos no pecado, mas do pecado. Somos salvos para vivermos uma vida santa e irrepreensível. A evidência da salvação é a santidade, pois sem santidade ninguém verá o Senhor.
Hernandes Dias Lopes é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, escritor, membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil e diretor executivo da Editora Luz para o Caminho.
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