Falar da ética cristã na vida pública deveria ser tão natural quanto tratar da saúde, mas infelizmente essa não é uma temática tão fácil de abordar, considerando que, apesar de sabermos o seu significado, o que vemos na prática são realidades partindo de pessoas da Igreja que muitas vezes contrariam o pensamento cristão.
Há décadas atuando como ativista conservadora no meio político, posso assegurar que muitos ditos cristãos desse meio não carregam consigo o compromisso que deveriam ter com a Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus, acima de quaisquer outros interesses.
Quem tem esse compromisso sabe que todas as suas ações, pensamentos e, portanto, posicionamentos, devem ser reflexos da ética cristã, que por sua consequência se revela na moral cristã – resultado prático do exercício ético. É daí que extraímos as concepções conservadoras, por exemplo, sobre família, liberdade, sexualidade, educação etc.
Indissociável
Para quem ainda tem dúvida, a ética cristã deve ser um exercício indissociável das nossas ações, quer sejam no meio público ou privado. Em "A Bíblia e a Ética", Johannes Reinier Bucks demonstra isso muito bem através do pensamento do filósofo judeu Emmanuel Lévinas.
Bucks explica que “o judeu vive sua religião antes de tudo como ética", de modo que a relação com o próximo lhe obriga a tomar decisões e, portanto, executar ações que sejam coerentes com àquilo que acredita a partir das Escrituras Sagradas.
Lévinas, por sua vez, em "Difficile liberté: essais sur le judaïsme", confirma isso explicando que "a relação com o divino atravessa a relação com os homens e coincide com a justiça social, eis todo o espírito da Bíblia judia. Moisés e os profetas não se preocupam com a imortalidade da alma, mas com o pobre, com a viúva, com o órfão e com o estrangeiro".
Não é justamente com a "justiça social" que todos os agentes públicos deveriam mais se preocupar? Para o político cristão esse deve ser o alvo natural, porque reflete àquilo que Deus deseja, visto que, como diz o filósofo, o fruto moral da ética resulta da própria natureza de Deus.
"A relação moral reúne então ao mesmo tempo a consciência de si e a consciência de Deus", diz Lévinas. "A ética não é o corolário da visão de Deus, ela é esta visão mesma. A ética é uma ótica. De sorte que tudo o que eu sei de Deus e tudo o que eu posso entender de Sua palavra e dizer a Ele razoavelmente deve encontrar uma expressão ética".
O seguidor de Jesus Cristo, portanto, não pode ser uma pessoa na vida pública e outra fora dela. Isso vale para o político e demais servidores. O modo de não haver essa dissociação é exercitando a ética bíblica de forma permanente, fazendo dela um guia de pensamento e conduta. É nisso que acredito.
Marisa Lobo é psicóloga, especialista em Direitos Humanos, presidente do movimento Pró-Mulher e autora dos livros "Por que as pessoas Mentem?", "A Ideologia de Gênero na Educação" e "Famílias em Perigo".
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