Já pensou em aposentadoria antecipada? Eu não, até que me deparei com um artigo do New York Times [ver referência ao final] sobre um movimento de pessoas que sonham em se aposentar antes da velhice, às vezes até mesmo na juventude.
São um grupo impressionante de pessoas. Trabalham duro, economizam tanto e muitas vezes conseguem se aposentar mais cedo do que o normal. Mas, ao ler o artigo, também fiquei com pena delas. Muitos sonhavam com a riqueza e a aposentadoria como uma solução para o sofrimento que haviam experimentado quando crianças. Por exemplo,
Mesmo antes de saber realmente o que isso significava, Allen Wong queria ser rico. Quando criança, ele ainda não associava a palavra a "luxo", "status" ou "coisas caras"... O que "rico" parecia representar era algo mais simples, mais elementar, mais um sentimento do que qualquer outra coisa: liberdade da dor. Os pais de Wong haviam fugido da pobreza... Wong cresceu vendo um dos pais vendendo ervas medicinais o dia inteiro enquanto o outro trabalhava em uma fábrica esquálida em Chinatown... O pai de Wong foi demitido, entrou em depressão e cometeu suicídio; sua mãe caiu em uma espiral de doença mental... Assim, ele turbinou suas ambições.
O artigo relata os vários empreendimentos que Wong lançou e como ele acumulou riqueza impressionante. Mas também mostra que os bens não são uma solução para a dor que Wong sente – e são apenas bens. Portanto, o autor conclui,
A vida após a aposentadoria precoce: o elefante na sala. O que fazer depois dos cruzeiros, do paraquedismo, da pilha de livros balançando na mesa de cabeceira? O principal perigo da [aposentadoria precoce] é que você pode estar fugindo de algo em vez de estar buscando algo – que você é impulsionado apenas pela ideia muito nebulosa de fuga.
Em muitos casos, o excesso de trabalho e a aposentadoria precoce são esforços para escapar de algo em vez de alcançar algo. Em geral, somos mais motivados a evitar o sofrimento do que a alcançar um objetivo desejável. O pensamento não expresso é: “Não posso sentir essa dor novamente! Nunca mais vou me encontrar em uma situação como essa!”
Uma pergunta esclarecedora que podemos nos fazer é: do que estou tentando escapar? Para Wong, foi ver seus pais serem explorados no trabalho, processar o suicídio de seu pai e lidar com a doença de sua mãe. E para você? Que dor o torna vulnerável a falsas promessas? O que consome seus pensamentos? O que o fascina mais do que deveria? O que o faz pensar: “Quando eu conseguir isso... a vida finalmente vai valer a pena?”
Quanto mais tivermos sofrido, mais sonharemos com soluções para esse sofrimento. Se tivermos recebido pouca atenção, ansiaremos por muita atenção. Se tivermos sofrido injustiças, vamos nos interessar por questões de justiça. Se nossa família tiver passado por apuros financeiros, faremos tudo o possível para que isso nunca mais aconteça conosco.
Mas o autor do livro de Hebreus escreve: "Não amem o dinheiro; estejam satisfeitos com o que têm. Porque Deus disse: ‘Não o deixarei; jamais o abandonarei.’” (Hebreus 13:15). Da mesma forma, o livro de Provérbios nos aconselha a
Não se desgaste tentando ficar rico;
tenha discernimento para saber quando parar.
Num piscar de olhos a riqueza desaparecerá;
criará asas e voará para longe, como uma águia. (Provérbios 23:4-5)
Como explico em O Paradoxo da Felicidade, em Cristo sabemos que temos o suficiente. Ao entregarmos a Cristo as feridas que nos tentam a trabalhar demais ou a outros mecanismos de fuga, nos tornamos serenos e ricos dentro.
Quanto mais compreendermos essa verdade, mais seguros nos sentiremos e menos escravos seremos do dinheiro. Jesus – não as riquezas – é nossa fonte de segurança e paz.
Referência:
https://www.nytimes.com/2024/05/07/magazine/retire-early-saving.html
René Breuel é um escritor brasileiro que mora em Roma, na Itália. Autor das obras O Paradoxo da Felicidade e Não É fácil Ser Pai, possui mestrado em Escrita Criativa pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e em Teologia pelo Regent College, no Canadá. É casado com Sarah e pai de dois meninos, Pietro e Matteo.
* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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