Introdução
Texto: Lucas 6:6-10 (Mt. 12.9-14; Mc. 3:1-8)
Uma coisa que chama a atenção logo de início ao ler essa passagem, é o fato de Lucas enfatizar que Jesus entrou na sinagoga no sábado. O Templo de Jerusalém era demasiadamente longe de muitas cidades, o que dificultava a visitação regular de muitos Judeus. Por essa razão, existiam as sinagogas nessas localidades, que serviam como lugar de ensino e adoração. Sendo assim, durante a semana, os meninos judeus recebiam ensinamentos sobre o Judaísmo e as leis do AT.
O sábado é um dia sagrado para os judeus, e era comum os homens se reunirem para ouvir lições sobre as Escrituras. Essas lições eram ministradas por um rabino, e como não havia um rabino permanente em cada sinagoga, o líder de cada uma tinha a incumbência de convidar um mestre para ensinar, e essa é a razão do por que Jesus muitas vezes pregou nas sinagogas das cidades que passou.
Como isso era um fato comum, com certeza não foi essa a razão de Lucas enfatizar que Jesus entrou na sinagoga no sábado, não é mesmo? Ele fez isso exatamente pelo que aconteceu depois, a cura do homem com a mão mirrada, algo que para os judeus era inadmissível, já que pela tradição religiosa deles, ninguém poderia ser curado no sábado. O argumento usado por eles era que ministrar a cura era o mesmo que praticar a medicina, e na visão deles ninguém poderia exercer sua profissão no sábado, mostrando que para eles, a lei era muito mais importante do que livrar alguém do sofrimento.
Porém, o foco principal dessa passagem é o homem com a mão mirrada. Assim como ele, nós muitas vezes temos áreas “mirradas” em nossas vidas. Problemas que nos impedem de continuar, que nos travam, nos envergonham, entristecem e até influenciam em nossa relação com as outras pessoas. E a atitude desse homem nos deixa 4 importantes lições:
1 - Devemos buscar a cura no lugar certo
O erro de muitas pessoas é que elas buscam a resolução dos seus problemas no lugar errado, isso quando buscam, pois, muitas se acomodam e não fazem nada esperando o milagre acontecer. Este homem estava no lugar certo, na hora certa e com a pessoa certa, e por isso foi curado.
E aqui eu gostaria de abrir um parêntese, sobre algo da cultura judaica que eu acredito ser muito interessante, além de fazer uma grande diferença na compressão do que aconteceu naquele dia.
Vimos anteriormente, que Jesus entrou na sinagoga no sábado, ou “Shabat” como é chamado pelos judeus e que é o dia em que eles mudam o texto da Torá, também chamado de Pentateuco, que correspondem aos livros de Genesis (Bereshit), Êxodo (Shemot), Levítico (Va-Ikra), Números (Be-Midbar), Deuteronômio (Devarim).
Sendo assim, o texto bíblico é dividido em 54 partes chamadas de “parshiot” que são lidas semanalmente. Em cada sábado à tarde se inicia a leitura de uma “parasha” nova, que se segue durante a semana, até que sua leitura seja completa na manhã do sábado seguinte. Por essa razão, no sábado eles se reúnem na sinagoga para findar os textos lidos durante a semana, podendo assim “virar a página” para o próximo grupo de versículos.
Para eles era um dia especial, mas ainda assim era só o “virar de uma página” ou a mudança na porção dos textos que eles deveriam ler na próxima semana, a partir daquele sábado.
Mas para aquele homem, era algo muito maior, Jesus estava ali como rabino, como mestre, e não só para finalizar e iniciar a leitura de novo um texto, mas para dar fim a um tempo ruim e dar início a um novo tempo em sua vida. E é exatamente isso que acontece quando Deus se manifesta em nosso mundo, é para pôr fim em uma fase e dar início a uma nova.
2 - Devemos vencer o preconceito religioso
Por mais incrível que possa parecer, um dos maiores empecilhos para uma pessoa ter uma experiência com Deus é a religiosidade. E é incrível observar nos evangelhos, que sempre que Jesus operava algum milagre, estava cercado de pessoas religiosas.
Esse homem queria tanto ser curado, que decidiu enfrentar o pré-conceito dos religiosos que estavam à sua volta. Além do pré-conceito dos escribas e dos fariseus, ele teve que enfrentar o próprio pré-conceito.
O mesmo acontece nos dias de hoje! Sempre que Jesus manifesta seu poder, existem pessoas que assim como aqueles escribas e fariseus, estão apenas observando, com olhar crítico ou apático. É interessante observar que o zelo deles pela lei os levou a se irarem e as duas coisas somadas os levaram à conspirarem para matar Jesus, algo totalmente contrário a lei! Paradoxal não é mesmo?
Isso nos mostra também, que existem duas posturas quando estamos próximos à manifestação do poder de Deus, a do homem da mão ressequida e a dos religiosos. Qual tem sido a sua postura? Se nossas convicções não permitem que nós ajudemos outras pessoas, pode ser que elas não estejam sintonizadas com a Palavra de Deus!
3 - Devemos assumir publicamente nossa fé em jesus
Às vezes queremos a bênção de Deus, mas não o Deus da benção! Assumir publicamente nossa fé em Jesus não é apenas verbalizar que acredita n’Ele, mas sim assumir nossa fé e obediência ao Senhor diante dos outros. É obedecer a Palavra!
E quantas vezes nós temos vergonha disso! Temos o receio de ser criticados, rejeitados ou até mesmo ser taxados como “fanáticos”. No entanto, Deus só tem compromisso com quem assume compromisso com Ele:
"Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus" Mateus 10:32-33
4 - Devemos ter humildade para assumir nossas deficiências
Imagino o quanto foi difícil para aquele homem assumir publicamente aquela deficiência, não só por expor uma deficiência, mas também porque naquela época os enfermos eram vistos como amaldiçoado por causa de algum pecado seu ou de um antepassado e por isso eram excluídos. Isso sem contar também, todo o simbolismo que a mão direita tem na cultura judaica, veja alguns:
- Era a mão pura - Salmos 16:8: “Tenho posto o SENHOR continuamente diante de mim; por isso que ele está à minha mão direita, nunca vacilarei. ” Salmos 73: 23: “Todavia estou de contínuo contigo; tu me sustentaste pela minha mão direita. ”
- Era a mão da promessa - Isaías 41:13: “Porque eu, o SENHOR teu Deus, te tomo pela tua mão direita; e te digo: Não temas, eu te ajudo. ”
- Era a mão da bênção – Gênesis 48:14: Mas Israel estendeu a sua mão direita e a pôs sobre a cabeça de Efraim, que era o menor, e a sua esquerda sobre a cabeça de Manassés, dirigindo as suas mãos propositadamente, não obstante Manassés ser o primogênito. ”
- Era a mão que ofertava - Mateus 6:3: “Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita; ”
- Era a mão que abraçava - Cânticos 2:6: – “A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a sua mão direita me abrace.”
Da mesma forma nós às vezes não temos coragem e humildade para assumir nossas deficiências de forma pública. Jesus poderia curar aquele homem onde ele estava, sem precisar chamá-lo ao meio, sem expô-lo, mas o fez porque era necessário. E porque obedeceu e foi humilde, aquele homem foi curado.
Conclusão
Todos nós temos áreas em nossa vida que precisam de cura, por isso nossa postura tem que ser sempre semelhante à desse homem. Devemos buscar no lugar certo, devemos vencer todo pré-conceito religioso que tenta nos impedir e, acima de tudo, ter humildade para assumir publicamente para sermos curados.
Por Ricardo Soares - Pastor de jovens e líder de louvor na Igreja Ministério Fonte de Vida, em Vila Velha (ES). Para saber mais, acesse soteologia.com .
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