O ideal seria que os tolos e sábios de um mesmo barco aceitassem que ele pode naufragar a qualquer momento por culpa não só da tripulação como de todos os seus ocupantes atrapalhados. Só que esta noção de perigo envolve crença, mistério, futuro. Envolve a noção que cada um tem a respeito da presença e da existência humana no mundo e seu futuro num além-vida. Ao contrário dos existencialistas anticristãos, envolve fé.
Salomão disse em Eclesiastes (Salomão não! Deus!) que diante dos mistérios da vida é melhor ser pessimista e cético, pois o destino dos sábios e dos tolos é um só: o pó.
Existe um tipo de pensamento coletivo anticristão de que tudo vem para o progresso. As barbaridades que vêm são pérolas ou memes, como essas: os jovens são mais sábios do que os antigos; a pandemia foi um presente de Deus. O progressismo deixa sequelas como depressão, angústia, desespero, sentimento de fracasso, de impotência, enfim, niilismo total diante da impotência de não estar no mesmo rumo. O sentimento de estar sendo usado como uma engrenagem de uma máquina de futilidades parece ser o menos pior, porque dele pode vir a luz para o caminho da saída.
O progressismo é enganoso. Suas vítimas são a alta cultura, que inventa sobre Deus e existência humana para conseguir bajulação, a política, mais leiga do que nunca, e depois desemboca no povo. A alta cultura é a base militar preferida do diabo, que tem cadeira cativa nas cátedras, ambientes propícios para a criação de exércitos teóricos e seu arsenal ideológico contra a base moral, religiosa e simbólica do cristianismo.
Quando ao progressismo, Eclesiastes é enfático: “Acaso há alguma coisa de que se possa dizer: ‘Veja, isso é novo’? Isso já aconteceu muito tempo antes de existirmos”.
Eclesiastes não diz que não devemos acreditar no futuro e que ele é bom. Diz apenas que não devemos nos deixar levar por crenças progressistas. A mais emblemática delas, a ideologia de gênero. Que levante a primeira pedra quem não se sente pelo menos um pouco de lado ou censurado quando a critica! Xingam de tudo. “Ultrapassado!” é o menor deles.
Se os estoicos ensinavam uma vida boa usando o logos, a cabeça, Deus provê uma vida espiritualmente abundante por meio da fé num existir limitado e finito. Fé para conseguir uma vida abundante aqui embaixo e, principalmente, a vida eterna.
A primeira coisa que salta aos olhos, no existencialismo anticristão, é sua preocupação com o terreno. Criaram teorias e mais teorias para fundamentar o humano no universo. Este pensamento existencial se atém ao homem enquanto no mundo, mais precisamente neste mundo. Já Eclesiastes olha para a criatura divina enquanto cidadã do céu, logo, preocupação para além da sepultura.
Quanto ao entusiasmo do conhecimento, Eclesiastes não diz que não devemos estudar e conhecer. Diz para não nos deixarmos nos enganar pela procura ilimitada de conhecimento, pois nunca saberemos tudo, assim: “Não há fim para a produção de livros e estudar demais é exaustivo para o corpo”. É conhecida a frase de Sócrates: “Sei que nada sei”.
É impossível viver o tempo todo pensando na morte. Kierkegaard parece que vivia assim, tanto que nos trouxe uma Filosofia da Existência que, ao fim, clama por Deus. Uma vida assim angustiada comprometeria nosso presente e nosso futuro porque viveríamos como aqueles tolos de Eclesiastes, preocupados com o aqui e agora, sem chance para um por-vir eterno.
Querem uma vida boa, sem depressão e tristeza? Ler Eclesiastes, que alerta sobre a futilidade das coisas terrenas e passageiras, que não definem o porquê de estarmos aqui e só nos fazem perder tempo com disputas inúteis.
Todos estamos debaixo do sol, símbolo bíblico deste mundo terreno. Portanto, Deus alerta a tolos e sábios por meio de Eclesiastes: a morte é a única certeza da vida; para morrer basta estar vivo; trabalhem com sorriso o rosto; todos voltarão ao pó, certamente sem sabedoria e sem ignorância; existam e se divirtam; cumpram seus compromissos; há tempo para tudo; aceitem a finitude e os mistérios; evitem extremos; obedeçam autoridades constituídas; não invejem a vida dos injustos e dos tolos.
Se quisermos algo mais direto: o temor a Deus é o princípio da sabedoria. O mais é pura prática.
Sergio Renato de Mello é defensor público de Santa Catarina, colunista do Jornal da Cidade Online e Instituto Burke Conservador, autor de obras jurídicas, cristão membro da Igreja Universal do Reino de Deus.
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