Eterno pecador

Faz parte da tragédia humana não saber bem como separar o bem do mal, ou se perder na linha tênue que divide um do outro.

Fonte: Guiame, Sergio Renato de MelloAtualizado: terça-feira, 25 de junho de 2024 às 17:39
(Foto: Pixabay)
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Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará é uma frase bíblica de muitos conhecida. O que ela quis dizer? A Bíblia, cremos, é um manual de todas as verdades, inclusive e, principalmente, sobre a criatura mais importante de Deus.

A Bíblia gostaria que soubéssemos de coisas importantes, por exemplo, sobre o que é o ser humano. Portanto, as passagens sobre a mais importante criatura divina parecem longe de serem proféticas. O aviso sobre o que aquele homem era no Paraíso, o que ele se tornou pela desobediência e sua eterna permanência nesse estado, não era exatamente para que buscássemos transformá-lo para melhor, retornando-o ao estado anterior de bondade, pois isso é impossível. Em vez disso, o objetivo era controlá-lo, um controle sobre o estado de seu ser que só é possível pela crença no que estava escrito naquela palavra que até hoje se diz eterna.

Faz parte da tragédia humana não saber bem como separar o bem do mal, ou se perder na linha tênue que divide um do outro.

Existe a reincidência penal. Quando alguém pratica outro crime depois de ter sido condenado por um crime anterior. Existe a reincidência humana, o pecador eterno. Por esta, o ser humano é infinitamente reincidente, tanto que merece perdão “setenta vezes sete”. Ele nunca deixará esta condição mesmo pagando a pena mais alta que existe, mesmo se ressocializando, mesmo perdoando e sendo perdoado. A Bíblia deixa claro que seria necessário que todos o conhecessem para evitar conflitos.

Saber da humanidade trágica faz parte do bem viver. Antes de julgar o outro julgue-se a si mesmo sabendo que todos somos iguais em maldade e perversão.

E, ainda, os tempos difíceis e terríveis são por causa do homem e suas maldades. O tempo em si não age sozinho. A faca não entra sozinha, o tiro não saiu sozinho. É preciso uma mão humana para manusear o instrumento e municiá-lo, colocar o dedo no gatilho ou empunhar o objeto, direcioná-lo ao desafeto, enfim empurrá-lo ou apertar o gatilho. Os tempos difíceis da Palavra de Deus vêm por causa dele, homem, longe de serem tempestades, ventos, maremotos, terremotos, cheias, disparos, facadas, golpeadas os verdadeiros causadores dos males humanos. Mas o diabo é esperto, na tentativa de livrar os seus da responsabilidade, ao insinuar que a culpa é da vida em sociedade.

Será que então estarei arriscando em dizer que o homem mau de hoje é o mesmo daquele tempo? Nada. Não me arrisco nem um pouquinho. A maldade é a mesma, sim. Ele é aquele mesmo incivilizado, rudimentar, o mesmo bárbaro, mas adaptado, muito mais tecnológico, mais contido pelo Espírito Santo. Mas é aquela mesma ruindade. E os cabelos também mudaram, as rugas e a calvície aparecem menos, a barriga mais tanquinho, menos violento, é verdade. A mulher, menos rixosa. Tudo isso é verdade, mas a essência é a mesma. Ele não muda nunca. O homem eterno, não aquele de Chesterton, claro.

Ao mesmo tempo em que a Bíblia nos alerta sobre a existência deste ser potencialmente maldoso em qualquer um, pronto para atacar caso não controlado devidamente, do mesmo livro também vem a recomendação (ela não manda, apesar de chamada de fascista) para que nos afastemos dele se quisermos viver bem aqui e no por vir.

A Bíblia não diz que os homens são o que são por serem de um jeito num determinado momento da história e outro em outra, ou seja, mutantes. A palavra diz, por serem sempre assim, lamentando, que “os homens serão egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem amor pela família, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem, traidores, precipitados, soberbos, mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando o seu poder… Não irão longe, porém; como no caso daqueles, a sua insensatez se tornará evidente a todos.”.

A Bíblia é sempre atual. Jesus disse, em Mateus, que a sua palavra nunca passará. De fato, chama a atenção hoje que as pessoas sejam o que são. Em primeiro lugar estão os meus direitos. Elas presumem a maldade alheia a todo o momento (seus olhos são sempre maus). Falam em primeiro, em segundo e em último lugar porque a verdade está com elas. Desonram autoridades, inclusive familiar, nunca querem ceder, mentem sempre, não conseguem conter os sentimentos, traem o amigo confidente, se precipitam no julgamento. Enfim, são enganadores. Prestam-se a perdoar apenas da boca para fora.

Mas o eterno pecador tem uma vantagem sobre aquele que pratica vários crimes seguidos. Ele já tem o perdão de Deus. Deve reconhecer e se converter de seu erro, pagará por ele (não se livrará da colheita maldita), mas tem um benefício que supera qualquer diminuição de pena, perdão judicial ou absolvição: não ser jogado tão logo no lago de fogo.

 

Sergio Renato de Mello é defensor público de Santa Catarina, membro da Igreja Universal do Reino de Deus e autor de obras jurídicas e dos seguintes livros: Fenomenologia de Jornal, O que não está na mídia está no mundo e Voltaram de Siracusa.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

 

Leia o artigo anterior: Cristofobia nos presídios

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