As cenas de violência protagonizadas por cinco jovens, quatro deles menores de idade, na Avenida Paullista (São Paulo) ganharam destaque na mídia e deixaram muitas famílias indignadas. Os meninos de classe média foram reconhecidos, por meio de câmeras de segurança, como responsáveis por quatro ataques a pessoas que circulavam na região durante a noite. A motivação, segundo a polícia, seria homofóbica.
No entanto, os pais de dois dos acusados afirmaram em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo , no último domingo (dia 28), que os filhos nunca tiveram esse tipo de comportamento. Como, então, explicar a conduta dos garotos (até lâmpadas foram usadas para ferir), que agora estão na Fundação Casa, a antiga Febem? Para responder essa pergunta, conversamos com o psicólogo
Yves de La Taille , professor e pesquisador da Universidade de São Paulo. Veja a entrevista.
CRESCER: É possível prever esse tipo de situação?
Yves de La Taille: Nada é totalmente previsível. Mas, antes de pensar na agressão, é preciso pensar nos valores que o adolescente tem. Ele pode nunca ter sido agressivo com ninguém, mas o preconceito pode desencadear uma atitude violenta em algum momento da vida. Nunca ter sido violento não é um bom argumento.
C: Em que os pais devem estar mais atentos?
Y.L.T.: Você precisa observar seu filho, estar perto, acompanhar o crescimento dele. É estar presente. Os valores que você passa para a criança vão acompanhá-la por toda a vida. E um bom parâmetro de que você está no caminho certo é quando seu filho sente indignação diante de uma situação injusta: perguntar por que há crianças vendendo balas no farol, por exemplo. Isso mostra que ele se importa com as pessoas - e aqui o outro não deve ser apenas pai, mãe ou um amigo da escola. O outro é qualquer um. Demonstrar indignação é legítimo, mostra que ele está atento com as questões do mundo. Mas é preciso saber o que ele vai fazer com esse sentimento. Se vai agir de maneira solidária ou se vai transformar a indignação em preconceito e violência.
C: Um dos pais entrevistados pelo jornal disse que o filho não agrediu ninguém, apenas ficou ao lado de quem batia. Isso reduz a responsabilidade desse adolescente diante do ocorrido?
Y.L.T.: Do ponto de vista legal, entendo que essa deva ter sido a orientação que o pai recebeu do advogado. Mas não tomar nenhuma atitude para evitar a violência faz de você um cúmplice. Para aquele jovem, a violência seria aceitável. É como saber que a vizinha é espancada todos os dias pelo marido e não denunciar.
Conte para gente: o que faria se seu filho fosse uma vítima de bullying ou o agressor?