200 muçulmanos invadem e destroem retiro de jovens cristãos, na Indonésia

Multidão ataca retiro cristão em Sukabumi; imóvel é vandalizado e jovens são evacuados em meio a gritos de intolerância e tensão religiosa.

Fonte: Guiame, com informações do Morning Star NewsAtualizado: quarta-feira, 2 de julho de 2025 às 13:46
Governador de Jabar visitou a casa invadida e atacada em Cidahu. (Captura de tela/Instagram/sukabumi_satu)
Governador de Jabar visitou a casa invadida e atacada em Cidahu. (Captura de tela/Instagram/sukabumi_satu)

Cerca de 200 muçulmanos invadiram um retiro de jovens cristãos, na sexta-feira (28), realizado em uma residência na Indonésia, expulsando os participantes e causando danos ao imóvel.

A ação ocorreu diante de policiais e militares, que não interferiram, segundo relatos de fontes locais.

Após as orações da sexta-feira, uma multidão muçulmana marchou pela vila de Tangkil, em Sukabumi, carregando faixas e declarando palavras de ordem como “Destruam aquela casa, destruam aquela casa”.

Destruição

Por volta das 13h30 [horário local], o grupo atacou a residência utilizada para um retiro cristão, causando danos a janelas, banheiros, um mirante e ao jardim, segundo informações do portal Sukabumisatu.com.

Alegando que a casa não era apropriada para atividades religiosas, pessoas da multidão lançaram uma motocicleta em um rio nas proximidades e danificaram o portão principal da residência.

Imagens divulgadas nas redes sociais mostram um homem escalando um muro para remover uma cruz de madeira, posteriormente utilizada para quebrar uma janela da residência.

Em outro vídeo, indivíduos aparecem destruindo objetos com cadeiras e ferramentas. Há ainda registros que evidenciam danos causados a um veículo.

Retirados às pressas

De acordo com fontes locais, policiais retiraram 36 participantes do retiro cristão juvenil e três veículos para um local seguro, a fim de evitar possíveis agressões físicas.

Em um dos vídeos divulgados, é possível ver meninos e meninas visivelmente assustados tentando entrar em um carro enquanto são pressionados pela multidão, que grita para que deixem o complexo.

Os moradores que participaram do protesto alegaram não agir por intolerância religiosa, mas por acreditarem que a realização de cultos em um imóvel sem licença oficial poderia comprometer a ordem pública.

“Não é que sejamos intolerantes, mas se o culto é realizado de forma secreta, envolvendo pessoas de fora e sem autorização, em uma comunidade que é 100% muçulmana, nós ficamos preocupados”, disse um dos moradores. “Por que simplesmente não ir a um local oficial de culto?”

Reação da multidão

A manifestação e o subsequente ataque teriam sido desencadeados após a visita de autoridades locais de Cidahu, acompanhadas pelo líder da filial de Sukabumi do Conselho de Ulemas da Indonésia, à residência por volta das 10h30.

Durante o encontro com Wedi, irmão mais novo da proprietária ausente, Maria Veronica Ninna, houve questionamentos sobre o uso do imóvel.

Segundo o portal Sukabumisatu, uma suposta provocação por parte de um morador teria contribuído para a reação da multidão.

A casa usada para retiro em Cidahu, província de Java Ocidental, Indonésia. (Foto: Syam Ciremai/Creative Commons)

O chefe da Agência de Unidade Nacional e Política da Regência de Sukabumi, Tri Romadhono, afirmou que os ataques foram espontâneos.

“Este incidente ocorreu devido à reação espontânea dos moradores ao uso de uma casa como local de culto sem autorização oficial”, disse Tri, segundo o Sukabumiupdate.

“Esta não é uma igreja nem um local oficial de culto. Esta casa está sendo usada de forma inadequada para atividades religiosas.”

Não precisa de autorização

Segundo o ativista de direitos humanos indonésio Permadi Arya, conhecido como Abu Janda, apenas a construção de uma igreja requer uma licença de construção.

“Realizar cultos em casas, lojas comerciais e cafés não exige autorização”, segundo o Decreto Conjunto dos Dois Ministros, Capítulo 1, Artigo 3, conforme escreveu Permadi em 2023.

Ele afirmou que casas, cafés e estabelecimentos comerciais utilizados para culto podem ser equiparados às tradicionais salas de oração muçulmanas (musholla), que não exigem autorização formal. Por isso, segundo ele, os cristãos deveriam ter o mesmo direito garantido.

O chefe do bairro, identificado como Hendra, afirmou que a casa foi usada para cultos em três ocasiões distintas, atraindo dezenas de veículos, entre eles um ônibus que teria transportado fiéis de outras localidades até o local.

“Nós já os alertamos e proibimos, mas a atividade continua sendo realizada”, disse Hendra, segundo relatos.

“Os moradores não podem mais tolerar, porque este local não é oficialmente destinado ao culto e já vem causando inquietação há algum tempo.”

Um líder comunitário, que preferiu não se identificar, afirmou que os esforços de mediação vêm sendo realizados desde abril, "mas as atividades de culto continuam".

Ação por conta própria

O chefe da vila, Ijang Sehabudin, confirmou que as autoridades estão conversando com o proprietário e os moradores, de acordo com o Matanusa.com.

“Aconselhamos que não usassem o local para cultos, mas isso foi ignorado”, disse Ijang, segundo relatos.

“Por isso, mais cedo os moradores foram diretamente até a casa. Eles sentiram que seus direitos relacionados ao ambiente estavam sendo violados, já que legalmente a residência é apenas um espaço para moradia, não um local de culto.”

Afirmando que um espaço designado para culto tem regras específicas, ele disse: “Este local deve ser considerado uma casa, não um local de culto. Há regras a serem seguidas caso você queira solicitar uma autorização para local de culto.”

Segundo Ijang, os moradores envolvidos no protesto concordaram em arcar com os custos dos danos causados ao imóvel. No entanto, ele ressaltou que o local atingido se tratava de uma residência particular, “não de uma igreja ou de um espaço formal de culto”, conforme declarou ao Beritasukabumi.id no sábado.

Em comunicado oficial, autoridades distritais informaram que as negociações culminaram em um acordo pelo qual a igreja decidiu não acionar judicialmente os responsáveis pelo ataque, optando por resolver o conflito por meio de diálogo.

As autoridades acrescentaram: “Solicitamos ao proprietário que utilize o imóvel exclusivamente como residência, não para cultos.”

“Acreditamos que incidentes semelhantes não voltarão a ocorrer no futuro”, diz o comunicado. “Estamos preparados para compensar quaisquer danos e reparar a casa afetada... Reafirmamos que o episódio em questão não foi um ato de destruição de um local de culto.”

Intolerância e fobia cristã

O ativista pela liberdade religiosa Permadi descreveu o caso como uma questão de intolerância e “fobia cristã”, afirmando que o governo faz vista grossa aos cristãos.

“Não há cura para a intolerância no oeste da Indonésia”, escreveu ele nas redes sociais. “Estudantes cristãos em retiro em Sukabumi foram atacados por moradores, expulsos de suas casas de repouso, que foram destruídas pela multidão.”

Segundo ele, a atitude das autoridades reflete um sentimento anticristão.

“Isso não é uma questão de permissões”, disse. “É pura fobia cristã, que vem sendo tolerada pelo Estado desde o mandato do [ex-presidente] Sr. Jokowi até o atual presidente, Sr. Prabowo.”

Desde a promulgação do Decreto Ministerial Conjunto em 2006, extremistas islâmicos têm se valido da ausência de alvarás de construção como justificativa para fechar ou atacar locais de culto cristãos na Indonésia.

A medida tornou quase inviável para novas congregações obterem as licenças exigidas. Mesmo quando pequenas igrejas conseguiram reunir as 90 assinaturas de membros da congregação e 60 de famílias locais de diferentes religiões – como estipulado pelo decreto – os pedidos frequentemente enfrentaram atrasos injustificados ou ausência total de resposta por parte das autoridades.

Segundo a organização Portas Abertas, a sociedade indonésia tem adotado uma orientação islâmica mais rígida nos últimos anos, o que torna igrejas engajadas em atividades evangelísticas especialmente vulneráveis a ações de grupos extremistas islâmicos.

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