Os cananeus são conhecidos como as pessoas que viveram em uma “terra que mana leite e mel” até serem vencidos pelos antigos israelitas e desaparecerem da história. Mas um relatório científico publicado nesta quinta-feira (28) revela que a herança genética dos cananeus está presente em muitos judeus e árabes modernos.
Segundo o estudo publicado pela Cell Press, a equipe extraiu o DNA dos ossos de 73 indivíduos enterrados ao longo de 1.500 anos em cinco locais cananeus espalhados por Israel e Jordânia. Eles também levaram em consideração dados de mais 20 indivíduos de quatro sites relatados anteriormente.
“Indivíduos de todos os locais são geneticamente similares”, diz o coautor e evolucionista molecular Liran Carmel, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Embora os cananeus vivessem em regiões longínquas e nunca tenham se tornado um império, eles compartilhavam genes e uma cultura comum.
Os pesquisadores também fizeram uma comparação entre o DNA de povos antigos e modernos e descobriram que a maioria dos árabes e judeus da região têm mais da metade de seu DNA vinculados aos cananeus e outros povos que habitavam regiões como Síria, Líbano, Israel, Palestina, Iraque e Irã.
O estudo é resultado de uma colaboração entre o laboratório de Carmel, o antigo laboratório de DNA da Universidade de Harvard — liderado pelo geneticista David Reich — e outros grupos. Suas descobertas são as mais recentes de uma série de avanços na compreensão dos cananeus, que deixou para trás poucos registros escritos.
Marc Haber, geneticista do Wellcome Trust’s Sanger Institute, em Hinxton, no Reino Unido, co-liderou um estudo em 2017 com cinco indivíduos cananeus da cidade costeira de Sídon. Os resultados mostraram que os libaneses modernos podem traçar mais de 90% de sua ascendência genética aos cananeus.
Os textos bíblicos registram que Deus prometeu a terra de Canaã aos israelitas após o êxodo do Egito. A Bíblia diz que os hebreus conquistaram a região, mas as evidências arqueológicas não mostram uma destruição generalizada das populações cananéias. Eles teriam sido gradualmente dominados por invasores posteriores, como os filisteus, gregos e romanos.
O novo estudo demonstra ainda que um número significativo de pessoas, e não apenas mercadorias, se movimentava durante a primeira era de cidades e impérios da humanidade. Os genes dos indivíduos cananeus indicam ser uma mistura de locais e migrantes do Cáucaso, parte da fronteira entre a Europa e a Ásia, no início da Idade do Bronze.
Carmel espera expandir em breve as descobertas coletando DNA dos restos daqueles que podem ser identificados como hebreus, moabitas, amonitas e outros grupos mencionados na Bíblia e em outros textos.