Desde 1967, quando Israel retomou o controle da Cidade Velha de Jerusalém na Guerra dos Seis Dias, apenas muçulmanos têm permissão para orar no Monte do Templo, um local sagrado para as religiões judaica e islâmica. Enquanto isso, os judeus podem orar no Muro Ocidental abaixo, mais conhecido como Muro das Lamentações.
O Monte do Templo tem sido palco de conflitos religiosos e o acordo entre os povos inimigos tem sido cumprido para manter o status quo na região. Entretanto, uma mudança tem sido observada nos últimos meses.
O governo de Israel está permitindo, discretamente, que um número de judeus cada vez maior ore no Monte sagrado. Como o caso do rabino Yehudah Glick, que fez uma transmissão ao vivo orando no local.
Há décadas, Yehudah Glick, um ex-deputado de direita nascido nos Estados Unidos, tem liderado uma batalha pelo direitos dos judeus oraram no Monte do Templo. Para o rabino, se trata de uma questão de liberdade religiosa.
“Deus é o Senhor de toda a humanidade. E ele quer que cada um de nós esteja aqui para adorar, cada um em seu próprio estilo”, afirmou ao New York Times.
Já para Ehud Olmert, ex-primeiro-ministro israelense, a mudança pode agravar a instabilidade em Jerusalém Oriental e ocasionar um conflito religioso. “É um lugar sensível. E locais sensíveis como este, que têm um enorme potencial de explosão, precisam ser tratados com cuidado”, ponderou Olmet.
Conforme o compromisso de longa data entre Israel e Jordânia, o governo jordaniano faz a supervisão administrativa do Monte do Templo e Israel tem autoridade geral de segurança e possui uma pequena delegacia no local.
Oficialmente, o governo de Israel permite que não-islâmicos entrem no Monte do Templo todos os dias pela manhã, com a ressalva de não orarem no local. Apesar de não existir nenhuma lei que registre a proibição, judeus que tentaram adorar no Monte foram historicamente repreendidos e retirados pela polícia.
Mudança no status quo
O rabino Yehudah Glick orando no Monte do Templo na segunda-feira (23), enquanto um policial patrulhava nas proximidades. (Foto: Amit Elkayam/The New York Times).
Esta política começou a mudar durante o governo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que liderou coalizões entre partidos religiosos e de direita. Segundo o rabino Glick, a polícia começou a permitir que ele e seus aliados orassem no Monte do Templo há cinco anos.
A nova política não foi amplamente divulgada a fim de evitar uma repercussão negativa, mas o número de judeus orando no lugar sagrado foi aumentando discretamente. Quando Naftali Bennett assumiu o poder, isso mudou. A imprensa israelense passou a divulgar imagens e vídeos de orações judaicas no Monte.
Bennett confirmou a mudança na política e declarou que todas as religiões teriam “liberdade de culto” no Monte do Templo. Porém, um dia depois de seu pronunciamento, após críticas da Jordânia e de membros árabes e esquerdistas de sua coalizão, o primeiro-ministro voltou atrás, afirmando que o status quo não seria alterado.
Mas, conforme o jornal The New York Times, dezenas de judeus continuam orando todos os dias em uma parte isolada do lado oriental do local e os policiais israelenses não tentam mais os impedir.
Construção do Terceiro Templo
O rabino Yehudah Glick orando no Monte do Templo na segunda-feira (23), enquanto um policial patrulhava nas proximidades. (Foto: Amit Elkayam/The New York Times).
A discreta abertura para a oração judaica no Monte do Templo, iniciada recentemente, pode ser um passo na realização do sonho de muitos judeus de construir o Terceiro Templo no local, que acreditam ter abrigado os templos de Salomão e de Herodes.
O rabino Glick afirmou que a construção do novo templo seria possível por meio de diálogo com os muçulmanos e que ele seria aberto a todas as religiões. Ativistas judeus do grupo Temple Institute já levantaram um altar de pedras próximo ao local, para que assim que a política permitir, o altar possa ser movido para o Monte.
O grupo também já planejou com arquitetos a planta do futuro templo. Embora o movimento seja considerado para muitos como periférico, a organização afirma que seus ideais estão ganhando força aos poucos.
“Vinte ou 30 anos atrás não havia nenhum discurso público sobre isso”, observou o rabino Israel Arieli, presidente do conselho do Temple Institute, que como um jovem paraquedista ajudou a tomar o Monte em 1967.
Para Arieli, a discussão sobre liberdade de culto levantada pelo primeiro-ministro Naftali foi importante. “Este foi um debate muito benéfico. Está trazendo muito mais pessoas ao Monte do Templo”, disse o rabino.