O rei do Marrocos, Mohammed VI, ordenou a incorporação de aulas sobre o Holocausto no programa educacional do país árabe. A informação foi divulgada na quarta-feira (3) pelo site marroquino Le Desk.
A decisão da autoridade marroquina foi anunciada através de seu ministro da Educação, Said Amzazi, em uma mesa redonda de alto nível, enquanto acontece a Assembleia Geral da ONU.
Em sua mensagem, o rei classifica o antissemitismo (hostilidade contra judeus) como o “antônimo da liberdade de expressão”. “[O antissemitismo] manifesta a negação do outro e é a admissão do fracasso, insuficiência e incapacidade de coexistir”, declarou.
“[O antissemitismo] representa o retorno anacrônico a um passado mítico. É este o passado que queremos deixar como legado para as futuras gerações?”, o soberano questionou.
“A batalha contra essa praga não pode ser tratada de forma descuidada. [A batalha] não é travada nem com militares nem com dinheiro; depende sobretudo da educação e da cultura”, acrescentou Mohammed.
O vice-ministro do Gabinete do Primeiro Ministro, Michael Oren, elogiou na sexta-feira (5) a decisão do rei do Marrocos em sua página no Twitter.
“O rei do Marrocos, Mohammed V, enviou uma profunda mensagem moral ao mundo. A negação do antissemitismo e do Holocausto está aumentando no Ocidente. O líder de um orgulhoso país árabe está introduzindo a educação sobre o Holocausto nas escolas marroquinas com o objetivo de combater o antissemitismo. Existe realmente esperança”, afirmou.
Mudanças históricas
Em 2008 já havia surgido a proposta de revisar o conteúdo religioso dos manuais escolares do Marrocos para incluir a história judaica e o Holocausto, mas pouco foi colocado em prática, segundo a publicação do Le Desk.
Em 2016, foi assinado um acordo entre os Arquivos do Marrocos e o Centro Memorial do Holocausto na França para estabelecer “cooperação em todos os tópicos relacionados à história dos judeus nos países do norte da África”, citou Le Desk.
No ano passado, o Marrocos aprovou uma proposta para trabalhar com o Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos para educar sobre o Holocausto e combater a intolerância.
Em abril deste ano, um membro da família real marroquina, a princesa Lalla Joumala Alaoui, enfatizou o compromisso de seu país com a história dos judeus em uma carta à comunidade judaica marroquina em Nova York.
“A herança judaica do Marrocos continua sendo parte integrante de nossas vidas e quem nós somos. Sua Majestade, o rei Mohammed VI, está comprometido em seguir os passos de seus antepassados e não poupa esforços na preservação dessa herança”, escreveu a princesa.
A carta marcou uma abertura significativa entre Marrocos e Israel, que alguns vêem como parte de uma mudança contínua de atitudes em relação à comunidade judaica da região.
Israel não é oficialmente reconhecido por Rabat, capital do Marrocos, de acordo com a Liga Árabe. No entanto, supostas relações clandestinas entre os dois países têm sido estabelecidas nos últimos anos, especialmente entre os seus serviços de segurança.
Ao contrário da maioria dos países árabes, os israelenses podem visitar Marrocos em algumas épocas do ano, caso obtenham um visto de viagem.