Tribunal da Alemanha decide manter estátua antissemita de “porca judia”

A escultura de uma porca amamentando judeus é considerada um insulto neonazista.

Fonte: Guiame, com informações de AP NewsAtualizado: terça-feira, 14 de junho de 2022 às 12:51
A escultura da porca com os judeus ao redor é retratada na fachada da Stadtkirche, Town Church, em Wittenberg, Alemanha. (Foto: Wikipedia)
A escultura da porca com os judeus ao redor é retratada na fachada da Stadtkirche, Town Church, em Wittenberg, Alemanha. (Foto: Wikipedia)

Um tribunal federal alemão rejeitou, nesta terça-feira (14), a tentativa de um judeu de remover uma estátua antissemita de 700 anos, da igreja em Wittenberg. 

Ela faz parte das mais de 20 relíquias da Idade Média que ainda adornam igrejas em toda a Alemanha e em outros lugares do mundo. 

A estátua do animal que é considerado impuro para o judaísmo, já foi muito popular e está na igreja onde Martinho Lutero pregou.

O caso foi parar nas mãos de juízes federais depois que os tribunais do estado oriental da Saxônia-Anhalt decidiram, entre 2019 e 2020, contra o demandante Michael Duellmann. 

Ele argumentou que a escultura era “uma difamação e um insulto ao povo judeu” que tem “um efeito terrível até hoje”, e sugeriu transferi-la para o museu Luther House, que fica nas proximidades.

Sobre a estátua

A escultura, que é considerada um insulto neonazista, é do século 13 e sua popularidade durou mais de 600 anos.  Trata-se de uma “judensau” ou “porca judia” rodeada por judeus que estão em contato com ela. 

A estátua, que está cerca de 4 metros acima do nível do solo, retrata pessoas identificadas ​​como judeus sendo amamentados pelas tetas de uma porca, enquanto um rabino levanta a cauda do animal. 

Em 1570, após a Reforma Protestante, foi acrescentada à estátua uma inscrição referente a um panfleto antijudaico de Lutero. 

Em 1988, um memorial foi colocado abaixo, referindo-se à perseguição aos judeus e aos 6 milhões de pessoas que morreram durante o Holocausto. Além disso, uma placa informa sobre a escultura em alemão e inglês.

“Ridiculariza o judaísmo”

O tribunal federal considerou que, vista isoladamente, a estátua original “ridiculariza e denigre o judaísmo como um todo”, mas que a paróquia corrigiu a situação adicionando ao memorial uma explicação de seu contexto histórico. 

O sistema legal do tribunal federal não permitiu sua remoção sob o argumento de que existem outras maneiras de remediar o problema.

Dessa forma, ficou entendido que a questão já foi resolvida, já que a mensagem difamatória e antissemita foi “anulada” através do memorial. 

“Estamos enfrentando nossa história”

O principal grupo judaico da Alemanha defendeu que o memorial fosse reformulado, e o bispo luterano regional sinalizou que a igreja o fará.

O chefe do Conselho Central de Judeus, Josef Schuster, disse que a decisão do tribunal de permitir a permanência da estátua era compreensível, mas argumentou que o memorial e a placa não contêm “uma condenação inequívoca da escultura antissemita”.

“Tanto a paróquia de Wittenberg quanto as igrejas como um todo devem encontrar uma solução clara e apropriada para lidar com esculturas antissemitas”, disse Schuster em comunicado. 

“A difamação dos judeus pelas igrejas deve pertencer ao passado de uma vez por todas”, continuou. O bispo regional Friedrich Kramer disse que a igreja vai apoiar a reformulação do memorial.

Para o bispo é bom que o efeito difamatório da estátua seja quebrado. “Para nós, como igreja, não há dúvida de que estamos enfrentando nossa história com todos os seus crimes e precisamos saber lidar com isso”, concluiu.

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