Mais de dois anos depois que as 276 estudantes de Chibok foram raptadas pelo Boko Haram na Nigéria (2014), acredita-se que 217 ainda permaneçam em cativeiro.
Na semana passada, duas meninas foram resgatadas, aumentando as esperanças dos familiares e amigos, que as garotas sequestradas ainda estejam vivas.
Até o momento, apesar da campanha ardente das das famílias e afirmações ousadas do governo sobre as promessas de erradicar o grupo jihadista, os progressos ainda parecem pequenos diante do que precisa ser feito.
No aniversário dois anos do sequestro, em abril deste ano (2016), o Boko Haram divulgou um vídeo que supostamente mostra 15 das alunas sequestradas. Foi a primeira visão possível das meninas desde um vídeo publicado em maio de 2014.
Agora que duas meninas - Amina Ali Darsha Nkeki e Serah Luka - foram resgatadas, renascem as esperanças de que as outras 217 meninas de Chibok e os milhares de outros sequestrados que vivem sob domínio do Boko Haram também estejam vivos.
A questão é complexa, segundo informou uma pesquisadora da organização 'Christian Solidarity Worldwide' atuante na Nigéria.
"As meninas de Chibok são consideradas 'posses de valor' para o Boko Haram, porque após o sequestro delas, houve uma grande campanha e publicidade, clamando pela libertação delas. Sendo assim, o grupo terrorista certamente irá libertar as meninas somente mediante alguma troca valiosa", explicou.
Amina Ali Darsha Nkeki apresenta seu bebê ao presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari (Foto: Reuters)
Governo
O presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari disse que "o resgate de Amina dá uma nova esperança e oferece uma oportunidade única de informação vital". Enquanto isso, o governador do Estado de Borno, onde Chibok está localizada, disse que o exército está elaborando de planos para adentrar um reduto da floresta, dominado pelo Boko Haram, em uma tentativa de resgatar as meninas que ainda permanecem em cativeiro.
"Acreditamos que nas próximas semanas vamos recuperar o restante das meninas", disse o Governador Kashim Shettima ao repórteres locais. "Os militares já estão se mobilizando para adentrar à floresta".
Autoridades nigerianas têm enfrentado duras críticas por sua incapacidade de encontrar as meninas ao longo dos últimos dois anos. O presidente Muhammadu Buhari, eleitos em uma disputa contra o ex-presidente Goodluck Jonathan em maio do ano passado (2015), se comprometeu a lutar contra a insurgência brutal do Boko Haram, fazendo disso um dos principais pilares de sua campanha. No entanto, apesar do caso das garotas de Chibok ter chamado a atenção da mídia internacional por meio da campanha "#BringBackOurGirls" ("#TragamDeVoltaNossasGarotas") e uma série de falsos rumores sobre as libertações das reféns, as meninas permanecem desaparecidas.
O Boko Haram tem atuado no norte da Nigéria há quase sete anos, tentando impor a sua severa interpretação do islamismo na nação mais populosa da África.
Cerca de 20.000 pessoas morreram e mais de 2,5 milhões foram deslocadas como resultado da insurgência.
É crescente o número de relatos de que o Boko Haram está perdendo forças e o resgate dos 100 cativos na última semana (grupo do qual uma das meninas Chibok fazia parte) parece reforçar essa ideia.
Incerteza
No dia 14 de maio, o presidente francês, François Hollande, disse a uma cúpula de segurança na Nigéria, que "[Boko Haram] tem perdido forças, está sendo barrado, perseguido e perdeu os territórios que estava controlando, mas ainda assim, continua sendo uma ameaça".
"Parece que Boko Haram está em retirada e enfraquecendo, mas sabendo sobre o grupo de quem é aliado em tantos países, não podemos contar com isso", disse a pesquisadora da CSW, se referindo a uma possível união de forças entre o grupo terrorista africano e o Estado Islâmico.
"Por exemplo, em 2015 o líder divulgou um vídeo, muito deprimido, dizendo que o Boko Haram foi derrotado, e depois outro foi lançado, com o objetivo de negar isso. Não está claro se eles estão realmente abalados. Parece que eles estão simplesmente cautelosos", disse ela.
A pesquisadora da 'CSW' disse que, de acordo com fontes locais, o "marido" da primeira menina resgatada disse que ele tinha escapado do Boko Haram com ela e o filho a quem ela deu à luz porque temiam morrer de fome.
"Consta que o exército esteja começando a bloquear rotas de abastecimento e operações militares estão aumentando em intensidade. Sendo assim, fome e doenças estão se tornando problemas, tanto para os reféns, como para os combatentes do Boko Haram", explicou.
O território mantido pelo Boko Haram está aparentemente diminuindo, e que traz a esperança de que mais reféns serão libertos. Isto é, em parte, devido à publicidade que a campanha '#BringBackOurGirls' alcançou, mas a campanha também é a razão pela qual as garotas ainda podem ser mantidas em cativeiro. Acredita-se também que seis das meninas sequestradas podem ter morrido - o que diminuiria o número de remanescentes de 217 para 211.
"Estamos orando para que mais reféns sejam libertos, incluindo as meninas de Chibok. Duas já foram resgatadas e até mesmo é parte de um milagre", disse a pesquisadora da 'CSW'. "Nós ainda precisamos que esse milagre aconteça com as outras meninas".