Mesmo em meio à pandemia e quarentenas de COVID-19, a perseguição contra os cristãos não diminuiu. Para os cristãos que são, em sua maioria, diaristas e já não têm acesso aos serviços locais porque foram “boicotados” por sua aldeia, a pandemia deu lugar a outra camada de perseguição.
O CEO da Portas Abertas (EUA), David Curry, explica que a pandemia se tornou um “catalisador para a discriminação baseada na fé” em uma escala internacional. Ele ressalta que em muitos desses países, os cristãos são consistentemente tratados como cidadãos de “segunda classe”, “traidores” e “infiéis”.
“Cristãos e outras minorias religiosas estão enfrentando uma nova punição: distribuição discriminatória de ajuda emergencial e atendimento médico”, diz Curry.
Em alguns casos, os cristãos foram até mesmo chantageados enquanto os líderes muçulmanos e hindus tentavam coagi-los a retornar à sua religião anterior para comer.
Confira abaixo uma lista de sete países onde os cristãos não recebem ajuda do governo, simplesmente porque optaram por andar com Jesus.
1. Índia: Boicote social em crise
Para os cristãos nas aldeias hindus da Índia, a pandemia exacerbou uma situação que já era difícil. Os funcionários do Portas Abertas, Samuel* e Heena*, detalham o cenário:
“Imagine que você tem uma família cristã em uma aldeia hindu. É muito provável que os moradores estejam boicotando você socialmente. Eles não permitem que você compre na loja local ou tire água do poço. Para viver, você deve ir às casas de cristãos próximos ou viajar para vilas onde a oposição à sua fé não é tão forte. Agora sua aldeia está fechada. Você perdeu sua renda. A ajuda do governo está sendo distribuída ao comitê da vila local, que já está boicotando você. Então, eles não vão te dar a comida, mesmo com um cartão de racionamento de comida”, contaram.
2. Malásia: uma questão de vida ou morte
Também no sudeste da Ásia, vários relatórios indicam que os cristãos na Malásia, que é um país de maioria muçulmana, estão sofrendo uma dupla camada de perseguição em áreas remotas, enquanto os moradores muçulmanos exploram a crise pandêmica. Já sofrendo por se converter do Islã ao cristianismo, os malaios estão lutando para sobreviver e permanecer firmes em sua fé. Sam conta uma história particularmente comovente de jovens no leste da Malásia que recentemente se tornaram cristãos.
“Para atendê-los, nossos parceiros viajavam quatro horas de barco e outras duas horas de caminhada pela selva até suas aldeias”, afirma. “Mas o bloqueio da Covid-19 interrompeu todo o transporte para suas aldeias. Quando o transporte foi inaugurado no mês passado, nossos parceiros locais mais uma vez foram às suas aldeias para encorajá-los e levar comida. Quando eles chegaram, eles descobriram que alguns dos jovens haviam voltado ao Islã”, relatou.
3. Bangladesh: ‘Você não receberá este apoio’
Nesta nação de maioria muçulmana que faz fronteira com a Índia e Mianmar, o governo está oferecendo ampla assistência aos seus cidadãos. Mas alguns cristãos, especialmente aqueles que vêm de origem muçulmana ou budista em áreas rurais, não estão recebendo esse apoio. Sam explica: “Eles não podem receber o apoio porque quando vai para as aldeias, o chefe da aldeia normalmente discrimina os cristãos. Ele [chefe da aldeia] diz: 'Bem, você é cristão. Você se tornou um cristão, então você não receberá este apoio'”.
Após terem sofrerem discriminação por parte do governo de seu próprio país, cristãos do Vietnã recebem alimentos enviados pela Missão Portas Abertas. (Foto: Portas Abertas)
4. Vietnã: ‘Você não está na lista’
As quarentenas também criaram situações difíceis nas regiões montanhosas do norte e central do Vietnã, especialmente nas áreas rurais onde os cristãos estão se esforçando para colocar comida na mesa. “Eles consomem o arroz aos poucos, todos os dias”, diz Nguyen Van Quan*, um dos parceiros locais da Portas Abertas no norte do Vietnã.
O governo distribui ajuda alimentar através das aldeias locais para famílias com rendas escassas ou para aqueles que perderam seus empregos durante o bloqueio. Mas quando 18 famílias cristãs no Vietnã do Norte - um total de 107 pessoas, incluindo idosos e crianças - foram recolher sua parte, as autoridades locais lhes disseram: “Vocês não estão na lista”.
“As autoridades disseram: ‘Vocês são cristãos e o seu Deus cuidará da sua família! O governo não é responsável por suas famílias!'”, contou o parceiro local.
5. Filipinas: Sem apoio para os cristãos
Relatórios como esses chegaram em toda a Ásia. Um parceiro da organização cristã relata que no sul das Filipinas, um vilarejo recebeu ajuda do governo durante o bloqueio, mas a única família cristã do vilarejo não recebeu o apoio.
“Quando nossa equipe veio trazer ajuda, o chefe da aldeia realmente queria atacar nossa equipe, além de dizer à aldeia que, porque essa família havia se tornado cristã, a pandemia chegou para a comunidade” Sam compartilhou. “Esse tipo de situação acontece o tempo todo”.
6. Etiópia: ‘A igreja está com grandes problemas’
O pastor Adane * diz que “a igreja no leste da Etiópia está com grandes problemas”. Apesar de se registrar com o governo para obter ajuda, os cristãos etíopes foram deliberadamente deixados de fora de qualquer ajuda, diz o líder cristão etíope.
“Houve diferentes tipos de apoio em nossa área por parte do governo. Eles deram óleo, arroz e massa para algumas pessoas. Quando as pessoas se cadastram, elas [autoridades] excluem a comunidade protestante. Especialmente se eles são crentes de origem muçulmana ... não os vimos dar nada aos protestantes. Perguntamos aos membros de nossa igreja, tanto nas áreas rurais quanto urbanas, mas eles não receberam nenhum apoio do governo”, relatou.
7. Nigéria: seis vezes menos comida que os muçulmanos.
Na Nigéria, as equipes da Portas Abertas na África estão relatando os mesmos tipos de injustiças contra os cristãos, que estão recebendo as sobras da ajuda do governo, enquanto os muçulmanos recebem maior apoio de emergência, especialmente em áreas regidas pela lei sharia.
A situação econômica dos cristãos na Nigéria reflete o sudeste da Ásia. Mais da metade da população da Nigéria trabalha como diarista, incapaz de fornecer o necessário para a vida de suas famílias. Os bloqueios criaram condições terríveis para a África Subsaariana - e situações que expõem a discriminação e a perseguição aos cristãos.
Alcance da ajuda
Sempre que possível, a Portas Abertas responde aos crentes nessas áreas com ajuda tangível. Os parceiros da organização sabem dessas histórias e se disponibilizaram a servir, levando aos cristãos a comida e os suprimentos que precisavam, quando enfrentaram discriminação ou foram deixados de fora dos esforços de socorro em suas aldeias por causa de sua fé.
Mais de 100.000 cristãos perseguidos da Ásia e 9.000 famílias da África receberam ajuda de urgência por meio das equipes locais da Portas Abertas e redes de parceiros.