“Foi um chamado de Deus”, diz ex-paquito que faz missões na África há 19 anos

Em entrevista ao Guiame, Alexandre Canhoni conta seu testemunho e fala sobre seu trabalho missionário no Níger.

Fonte: Guiame, Luana NovaesAtualizado: sexta-feira, 12 de março de 2021 às 15:01
Conhecido na TV como Xand, Alexandre passou a se dedicar às missões. (Foto: Alexandre Canhoni)
Conhecido na TV como Xand, Alexandre passou a se dedicar às missões. (Foto: Alexandre Canhoni)

Alexandre Canhoni se tornou um rosto conhecido na TV Globo, quando ficou conhecido como o paquito Xand do "Xou da Xuxa" nos anos 1990. Mas um encontro com Deus mudou sua vida e despertou nele uma nova missão: alcançar crianças e adolescentes na África, onde mora com sua família há quase 20 anos.

Desde criança, Alexandre levava jeito para ser artista. Como paquito, ele participou de especiais de final de ano, diversos programas de televisão e fez três turnês nacionais e internacionais com o Xou da Xuxa. 

Anos mais tarde, em fevereiro de 1995, Alexandre estava andando pela Avenida Ipiranga, no centro de São Paulo, e foi atraído por um som. “Na verdade, eu segui o barulho porque eu não estava achando o som bom. Eu era muito nervosinho e queria brigar com quem estava tocando feio”, disse ele em entrevista ao vivo para o Guiame. “Quando eu percebi que era um culto evangélico, eu fiquei com mais raiva ainda”.

Mesmo incomodado com o som, Alexandre resolveu entrar na igreja e fazer uma oração. “Eu falei com Deus, da minha forma: ‘Se o Senhor de fato existe, mude a minha vida radicalmente’. Depois que eu falei isso, eu senti uma paz sobrenatural, como nunca senti em nenhum lugar, em nenhum segmento religioso que eu havia servido”.

“O impacto de Jesus na minha vida foi de uma forma sobrenatural. Não fui à igreja porque alguém me levou”, observa Alexandre. “Eu entendo que foi um chamado de Deus específico para a minha vida. O Senhor me tirou das trevas e me trouxe para o Reino da Luz.”

Os próximos anos da vida de Alexandre foram de intenso crescimento em Deus. Ele passou a se dedicar à música gospel e aos estudos, incluindo uma formação em Teologia na área de Missiologia Transcultural, além de um curso de Capelania em Boston (EUA).

Chamado missionário

Enquanto isso, Alexandre era impulsionado em fazer a obra de Deus com as pessoas mais necessitadas. “Eu não fui para a África sem começar aqui [no Brasil] primeiro. Eu montava cestas básicas, conseguia doações de cobertores, evangelizava moradores de rua embaixo das pontes em São Paulo, tinha um trabalho de capelania na área hospitalar e cheguei a pregar em presídios”, conta. 

“Cheguei a um certo momento em que eu disse: ‘Pai, eu gostaria de falar da sua Palavra para crianças e adolescentes do país mais pobre do planeta. Eu não tinha noção de onde era”, acrescenta.

A oração de Alexandre foi respondida durante uma ministração em uma igreja no interior de Minas Gerais, quando alguém falou a ele sobre o Níger, informando que aquele era “o país mais pobre do mundo”. “Eu nem sabia onde ficava esse país”, ele lembra.

De fato, o Níger é um dos países mais pobres do mundo — dois em cada três moradores do país vivem abaixo da linha da pobreza e mais de 40% da população ganha menos de 1 dólar por dia.

Segundo dados divulgados pelas Nações Unidas (ONU) em dezembro de 2020, o Níger está na última posição do ranking mundial do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), com o índice de 0,394.

Foi lá que ele e sua esposa, Giovana, estabeleceram a AGD Niger (Associação Guerreiros de Deus), em Niamey, capital do país, em 2002. Eles adotaram 19 filhos e têm desenvolvido vários projetos assistenciais.


AGD (Associação Guerreiros de Deus) tem sua base em Niamey, capital do Niger. (Foto: Alexandre Canhoni)

Além de alimentar mais de 1.000 crianças por dia, a missão mantém 4 creches, 11 projetos de nutrição pelas vilas do Níger e duas escolas de costura para mulheres. 

Também realiza trabalho de evangelização na prisão e no hospital da capital, onde construiu uma brinquedoteca e tem parceria com uma escola para cegos. Contam com um centro esportivo e seis equipes de futebol para evangelização e ações com refugiados. 

O trabalho da AGD também se estendeu para a Índia, onde atuam em parceria com missões locais há 10 anos, mantendo cerca de 100 crianças dalits —  uma das castas mais baixas do sistema hindu.

Perseguição religiosa

A missão no Níger trouxe muitos frutos, mas também desafios. Como um país de maioria muçulmana, cerca de 99,3% da população do Níger é adepta ao Islã.

Em janeiro de 2015, manifestantes muçulmanos no Neiger protestaram contra as charges do profeta Maomé publicadas pelo jornal francês “Charlie Hebdo”. Durante o ataque, radicais islâmicos  saquearam e incendiaram 45 igrejas, entre elas, duas brasileiras, além de cinco hotéis, 36 bares, um orfanato e uma escola cristã. 

Alexandre se preparava para o almoço com sua família, quando ouviu gritos. “Vieram algumas crianças dizendo: ‘A multidão está vindo para cá. Foge, papai!’”, conta.

De longe, ele viu uma multidão se aproximando com pedaços de pau e foices. “Chegamos a vê-los a dois quarteirões. Foi o tempo de entrar no carro e sair com a família. Tudo na casa foi praticamente destruído e queimado”, lembra.


Casa de Alexandre Canhoni, no Níger, passou por mutirão de reconstrução em 2015. (Foto: Alexandre Canhoni)

Depois de quase 30 dias se refugiando em outro local, Alexandre e sua família voltaram para casa e começaram a reconstrução. Mesmo com as constantes ameaças, o missionário permanece firme em Deus. 

“Estamos nas mãos do Senhor. No tempo que Ele quiser nos recolher, amém, glória a Deus. Eu só quero ter a convicção que vou escutar ‘bem-vindo’ de meu Pai”, destaca.

Trabalho no Brasil

A pandemia trouxe Alexandre e sua família de volta para o Brasil e, com a fechada dos aeroportos, adiou seus planos de voltar à África. Foi neste contexto que ele decidiu criar o projeto “Tive Fome e Me Destes de Comer”, distribuindo alimentos em comunidades carentes de São Paulo.

“Hoje são 20 pontos de pregação nas favelas de São Paulo, para a glória de Deus”, celebra. “Onde nós estamos, nós sabemos que somos a Igreja do Senhor. Enquanto eu aguardo para voltar para o Níger, eu faço a obra aqui”.


Alexandre durante entrega de doações em comunidade de São Paulo. (Foto: Alexandre Canhoni)

Saiba mais sobre a missão no site www.agdniger.com e nas redes sociais de Alexandre Canhoni no YouTube e Instagram.

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