Na quarta-feira (26), o coronel Maj Amadou Abdramane anunciou o golpe militar na TV estatal do Níger: “Nós, as forças de defesa e segurança decidimos pôr fim ao regime que você conhece”, disse na presença de outros nove soldados.
Segundo o oficial, as justificativas para o golpe são a falta de segurança e má gestão econômica e social. No entanto, o ministro interino e das Relações Exteriores do Níger, Hassoumi Massoudou, pediu a todos os democratas que “façam esta aventura fracassar”.
No momento, o que se sabe é que a Constituição do Níger foi dissolvida, as instituições suspensas e as fronteiras fechadas.
“Pede-se a todos os parceiros externos que não interfiram. As fronteiras terrestres e aéreas estão fechadas até que a situação se estabilize”, afirmou o coronel em rede nacional. Desde o anúncio, a população deve obedecer ao toque de recolher noturno das 22h às 05h.
Uma coalizão de forças democráticas formada pela sociedade civil, sindicatos e grupos de partidos políticos pretende se manifestar nesta sexta-feira (28), a partir das 14hs na capital Niamey e em todo o país, para apoiar o exército e reafirmar a sua posição de dizer não às forças militares estrangeiras na região.
Situação dos cristãos no Níger
Conforme a Portas Abertas, o país está em tensão agora. “Existem sentimentos mistos. Há algum tipo de mobilização nas redes sociais para que as pessoas protestem contra esse golpe, ou seja, aqueles que querem que o presidente volte ao poder. No entanto, ainda existem outros que apoiam os militares”, disse um parceiro local da organização.
“Não há certeza de como o golpe afetará as igrejas no Níger, mas houve ataques a cristãos em outros países da região que também enfrentaram o domínio militar”, explicou.
“Não sabemos se essa junta militar será amigável com a igreja, visto que há muitos muçulmanos dentro do exército que são do Movimento Izala e têm visões extremistas. Se eles estiverem entre essa nova junta, então a perseguição à igreja pode aumentar”, continuou.
Ele disse que a simples manifestação da população pode provocar uma tensão: “Há um grande medo entre os cristãos agora, porque ninguém sabe o que vai acontecer durante esses protestos”.
“Eles fizeram algo assim alguns anos atrás, que acabou provocando o incêndio de igrejas e propriedades cristãs, como lojas e casas. Portanto, há necessidade de oração em relação à manifestação de hoje”, destacou.
Movimentação internacional
O Níger era uma das poucas democracias que restavam na região do Sahel, a qual se estende por uma faixa do continente africano. Mas agora que os militares anunciaram um golpe de Estado, há preocupações sobre o que isso trará para uma região que já é conturbada.
A França, que colonizou o país, e os EUA têm bases militares no país rico em urânio, e ambos foram rápidos em condenar o golpe, conforme lembra o G1. Há preocupação de que a nova liderança do Níger se afaste de seus aliados ocidentais e se aproxime da Rússia.
Se isso acontecer, seguirá o caminho de dois de seus vizinhos — Burkina Faso e Mali — que se voltaram para Moscou desde que passaram por seus próprios golpes recentemente. Ambos estavam sob intensa pressão de grupos islâmicos, que operavam livremente em grande parte dos dois países.
Se as tropas ocidentais e das Nações Unidas forem solicitadas a deixar o Níger, como ordenaram Mali e Burkina Faso, isso seria mais um forte golpe na luta contra insurgentes islâmicos, que provavelmente vão agir rapidamente para tirar proveito de qualquer instabilidade no país.
Na mídia estatal da Rússia e em grupos de Telegram, já houve comentários de que o golpe poderá ser uma porta de entrada da Rússia no Níger.
Mais sobre o Níger
O Níger é uma das nações mais pobres e instáveis do mundo. Com mais de 75% de sua área de terra coberta pelo Deserto do Saara e sem acesso ao mar, o país africano é também predominantemente islâmico.
A ex-colônia francesa que obteve a independência, em 1960, já foi palco de quatro bem-sucedidos golpes militares e teve cinco Constituições diferentes nas últimas décadas, conforme lembra o UOL.
Bazoum, o atual presidente, havia se tornado em 2021 o primeiro chefe de Estado eleito a assumir o poder numa transferência de poder pacífica de um antecessor igualmente eleito — Mahamadou Issoufou. Ainda assim, Bazoum sofreu uma tentativa de golpe dois dias antes da posse.
A derrubada do governo no Níger marca o sétimo golpe na África Ocidental e Central desde 2020. O último golpe bem-sucedido no Níger ocorreu em 2010, quando o então presidente Mamadou Tandja foi derrubado por militares.
Recentemente, outros países do Sahel (região que compreende a faixa de transição entre o Saara e a África subsariana), como o Mali e Burkina Faso, também tiveram seus governos derrubados, com a instalação de militares no poder.