Indígenas que se declaram evangélicos aumentam para 32%, segundo Datafolha

A porcentagem de indígenas que se declaram evangélicos saltou de 14% em 1991 para 32% em 2018, segundo pesquisas.

Fonte: Guiame, com informações da Folha de S. PauloAtualizado: terça-feira, 8 de janeiro de 2019 às 13:14
Pastor Edimar Pereira na igreja que lidera na aldeia Córrego do Meio, onde a população é majoritariamente evangélica. (Foto: Ian Cheibub/Folhapress)
Pastor Edimar Pereira na igreja que lidera na aldeia Córrego do Meio, onde a população é majoritariamente evangélica. (Foto: Ian Cheibub/Folhapress)

Por causa dos esforços missionários, cada vez mais indígenas têm tido contado com o Evangelho. A porcentagem de indígenas que se declaram evangélicos saltou de 14% em 1991 para 25% em 2010, acima dos brasileiros em geral, segundo o IBGE. Em 2018, pesquisa Datafolha apontou uma proporção de 32%.

De acordo com o Conplei (Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas), houve três ondas missionárias nas tribos indígenas. Na primeira, estrangeiros evangelizaram indígenas, com início na década de 1910. Na segunda, brasileiros evangelizaram indígenas, com início nos anos 1950. E na terceira, os próprios índios buscaram evangelizar seus “patrícios” (outros índios).

O conceito das ondas missionárias é questionado por parte dos pesquisadores, teólogos e até mesmo índios convertidos ao cristianismo, já que a prática já acontece há mais de 40 anos de maneira pulverizada.

Por trás do aumento de índios cristãos está um debate antigo, que voltou à tona com a eleição do presidente Jair Bolsonaro e a nomeação da pastora Damares Alves como ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, que agora abriga a Funai (Fundação Nacional do Índio).

Nova estratégia de evangelismo

A Funai não autoriza a evangelização de tribos isoladas, o que pode ser revertido no novo governo. Diante da atual restrição, organizações como o Conplei e a AMTB (Associação de Missões Transculturais Brasileiras) propõem a liderança dos índios como nova estratégia para levar o Evangelho às 102 etnias não alcançadas no país, segundo estimativas.

“A pessoa que está no contexto é a melhor peça para fazer esse trabalho”, disse o pastor sul-coreano Joshua Chang, 53 anos, à Folha de S. Paulo. Chang faz parte do Conplei e está à frente do projeto Green Window, que pretende alcançar 200 povos isolados localizados na “janela verde” — região da linha do Equador com florestas tropicais.

“Assim, as três ondas, estrangeira, nacional e indígena, chegariam juntas com a força de um tsunami espiritual para que a mensagem salvífica do Evangelho chegue até aqueles que vivem em lugares distantes e restritos”, diz um livro de apresentação do Conplei.


Pastor indígena Jonas Reginaldo em culto na igreja da aldeia Limão Verde, em Aquidauana (MS). (Foto: Ian Cheibub/Folhapress)

“A relação do índio com o índio é bem mais aberta. Com o não índio, precisamos primeiro fazer uma leitura da pessoa”, disse o pastor Edimar Pereira, 40 anos, que lidera uma igreja na aldeia Córrego do Meio (a uma hora de Campo Grande), onde 90% dos cerca de 500 índios terenas são cristãos.

Na mesma região está localizado o Instituto Bíblico Cades Barnéia, a primeira instituição com foco no preparo de líderes indígenas evangélicos. Sob direção de índios desde 1980, o instituto oferece ensinamentos bíblicos e missionários aos jovens.

Preparo bíblico

O instituto pertence à Uniedas (União de Igrejas Evangélicas), formada apenas por pastores indígenas e pioneira em enviá-los às missões. São três anos de curso teórico e prático, o que inclui idas periódicas a outras aldeias, além de treinamentos de indígenas tradutores da Bíblia — segundo a AMTB, 58 de 181 línguas tinham traduções das Escrituras em 2010.

As igrejas defendem que as missões levam às aldeias serviços de educação e saúde , além de ajudar a preservar a língua e a cultura desses povos, muitas vezes já prejudicadas pelo contato com as cidades.

“Na cultura indígena, o Evangelho vem para valorizar a pessoa, tirar coisas que entraram de fora como o álcool e as drogas e reforçar a cultura inicial, que é de uma família bem estabelecida”, esclareceu o pastor Juliano Modolo.

“Eu sempre fui e continuo sendo índio, vivendo da mesma forma”, disse o pastor Jonas Reginaldo, que lidera há 34 anos a igreja da aldeia Limão Verde (a 2h30 de Campo Grande). “Apresentar o Evangelho é um risco para a sociedade indígena, mas ter uma antena parabólica, não?”, questiona o pastor Edimar.

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