Missionário é interrogado pela Funai após entrar em terra de índios isolados

O missionário Steve Campbell, dos Estados Unidos, foi acionado pela Funai após entrar em contato com índios isolados da etnia hi-merimã, no sul do Amazonas.

Fonte: Guiame, com informações da Folha de S. PauloAtualizado: quarta-feira, 2 de janeiro de 2019 às 12:46
Casal de missionários norte-americanos Steve e Robin Campbell com índios da etnia jamamadi, no sul do Amazonas. (Foto: Divulgação)
Casal de missionários norte-americanos Steve e Robin Campbell com índios da etnia jamamadi, no sul do Amazonas. (Foto: Divulgação)

Um missionário norte-americano foi interrogado pela Funai nesta segunda-feira (31) após ter entrado em contato com índios isolados da etnia hi-merimã, perto de Lábrea, no sul do Amazonas.

No último mês, Steve Campbell, da Igreja Batista de Greene, sediada em Maine (EUA), esteve na terra Indígena Hi-Merimã, habitada por cerca de cem indígenas isolados. Ele entrou em contato com acampamentos abandonados que haviam sido recém-localizados pela Funai, na região do igarapé Canuaru.   

Há três décadas, a Funai mantém a diretriz de não contato com os índios isolados. O órgão indigenista irá acionar o Ministério Público Federal e a Polícia Federal para investigar o caso, informou o jornal Folha de S. Paulo.

“Caso se configure, na investigação, que existiu interesse de fazer contato, de se utilizar da relação dele com outros índios para se aproximar dos isolados, ele pode ser imputado por crime de genocídio ao expor deliberadamente a segurança e a vida dos hi-merimãs”, disse Bruno Pereira, coordenador geral de índios isolados e de recente contato da Funai.  

Campbell convive com os jamamadis desde criança, quando chegou na região de Lábrea em 1963 trazido pelos pais, também missionários cristãos. Ele se tornou bastante conhecido na região, que é habitada por cerca de 9.000 indígenas de oito etnias, entre os quais os hi-merimãs, o único povo isolado.

Juntamente com a mulher, Robin Campbell, e as filhas do casal, que também são missionárias, Steve está fazendo a tradução da Bíblia para a língua jamamadi — etnia com cerca de 400 pessoas. Eles têm uma casa na populosa aldeia São Francisco.

Os Campbell têm forte atuação entre os jamamadis. Eles contam com um vôo regular entre a aldeia e Porto Velho, pelo qual trazem outros missionários, transportam mercadorias e deslocam pacientes indígenas acompanhados de funcionários da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena).   


Vista aérea de indígenas isolados na Amazônia em foto de 2010. (Foto: G.Miranda/Funai/Survival)

Recentemente, Steve chegou a solicitar à Funai um Registro Administrativo de Nascimento de Indígena (Rani) para que fosse considerado jamamadi, mas o pedido foi negado. O casal não tem autorização oficial do órgão para morar na terra indígena, mas, devido à relação antiga e próxima com os jamamadis, há um acordo informal de que a presença se limite à aldeia São Francisco.  

O missionário chegou até o local onde vivem os isolados com a ajuda de um dos índios da etnia jamamadi, que o convidou para a expedição. Em depoimento à Funai, Steve disse que só passou pelo território dos hi-merimãs porque era o único caminho para chegar ao local de destino. Ele se comprometeu a não voltar mais a essa região.

O governo Jair Bolsonaro (PSL) tem sinalizado que haverá mudanças na atual política de não contato com índios isolados. No dia 7 de dezembro, a ministra de Mulheres, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, disse que o objetivo será que eles se integrem à sociedade.   

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