A missão Samaritan's Purse disponibilizou equipes especializadas em queimaduras para ajudar os armênios em fuga. (Foto: Samaritan's Purse)
Após uma explosão de gás num posto de gasolina em Nagorno-Karabakh, as equipas médicas da missão Samaritan's Purse estão cuidando das feridas físicas e espirituais das vítimas.
Quase toda a população de Nagorno-Karabakh fugiu para a Armênia, após o fim da região independente. O Azerbaijão anexou a região ao seu território e a população armênia-karabakh (de maioria cristã) fugiu, temendo a perseguição e a violência dos azaris, que são muçulmanos.
No dia 28 de setembro, o governo da autodeclarada República de Artsakh anunciou que "deixaria de existir" a partir de 1º de janeiro de 2024, depois de 30 anos de conflitos entre o Azerbaijão e a Armênia.
No dia da explosão, um homem chamado Edik havia caminhado 20 quilômetros com sua prima, Valeri. Eles pararam para encher alguns galões de combustível, o que seria a última tarefa antes de deixar Nagorno-Karabakh.
“De repente, fomos jogados em lugares diferentes. Eu estava em algum tipo de buraco. Assim que recuperei a consciência, tentei sair, mas não consegui encontrar meu irmão”, disse Edik.
A explosão matou 170 armênios e feriu quase 300 outros. Edik ficou com queimaduras em mais de 40% do corpo e queimaduras profundas no rosto, nas costas e nos membros.
“Na época, não senti que tivesse feridas profundas. Eu pensei que estava bem. Mas então não consegui comer nada durante três dias — apenas água — e não consegui me mover”, relatou ele.
Ajuda em meio à crise
Mais de 100.000 armênios étnicos, incluindo Edik e a sua família, fugiram de Nagorno-Karabakh. Segundo a Samaritan's Purse, a crise se intensificou com a explosão de gás.
“A profundidade e extensão dessa explosão são provavelmente alguns dos piores que já vi em meus 27 anos de experiência trabalhando no tratamento de queimaduras. A quantidade de sofrimento aqui está além da compreensão humana”, disse Joany McDougail, enfermeira da Equipe de Resposta de Assistência a Desastres (DART).
No último domingo (8), o avião da missão aterrou na Armênia com mais de 30 toneladas de materiais médicos, alimentos, cobertores, entre outros itens.
Atualmente, há 28 voluntários na Armênia, incluindo equipes especializadas em queimaduras, que ajudam a atender as necessidades dos sobreviventes. Enquanto isso, outros trabalham ao lado de parceiros religiosos locais e hospitais.
A fisioterapeuta Jessica Burger. (Foto: Samaritan's Purse)
Desde o início dos atendimentos, os especialistas em queimaduras trataram várias dezenas de vítimas com feridas e enxertos de pele (procedimento cirúrgico que envolve a remoção da pele de uma área do corpo e o ato de movê-la ou transplantá-la para uma área diferente do corpo). Nos casos mais graves, ofereceram fisioterapia pós-operatória.
“Tem sido um turbilhão ultimamente, mas da melhor maneira possível. Deus nos colocou aqui na hora certa. Não há outras organizações para ajudar os armênios com esta situação específica de queimadura”, disse Jessica Burger, fisioterapeuta da DART.
De acordo com a Samaritan's Purse, as habilidades de Jessica são cruciais para ajudar os pacientes a recuperarem sua independência e mobilidade após danos tão graves às camadas da pele, músculos e tecido conjuntivo. Edik foi um de seus primeiros pacientes após sua chegada à região.
Trazendo esperança
Cada vez que Edik se movia, era uma tortura para ele e seu desespero aumentava.
“Depois da minha segunda cirurgia na perna, eu não tinha esperança de voltar a andar porque a dor era insuportável. Então percebi que a dor física não é tão significativa em comparação com a mental, emocional e espiritual”, disse.
Jessica entende que seu trabalho é inicialmente físico, mas, em última análise, emocional e espiritual à medida que eles iniciam o processo de recuperação. Ela informou que a maioria dos pacientes queimados lida com desânimo e depressão.
Depois que as equipes da missão começaram a trabalhar com parceiros locais, a esperança retornou aos corações.
“Eles encorajam uns aos outros enquanto fazem os tratamentos. A camaradagem é tão curativa quanto a terapia, porque todos passaram pelo mesmo trauma juntos”, disse Jessica.
Trabalho de fisioterapia com os sobreviventes. (Foto: Samaritan's Purse)
Edik voltou a andar após dois dias de fisioterapia: “Dois dias atrás, eu estava tão deprimido que pensei que nunca mais sairia deste hospital. Hoje tenho esperança”.
As duas equipes especializadas em queimaduras continuam atendendo os hospitais armênios locais com cuidados intensivos. Porém, segundo a missão, o papel mais importante deste trabalho é a oração que os voluntários fazem com os pacientes e o compartilhamento do Evangelho: “Para lembrá-los de que Deus tem um plano para as suas vidas, porque Ele os ama”.