Espancado nas ruas de Karachi, ameaçado de ter as pernas amputadas e preso por pregar o Evangelho, um pastor e missionário paquistanês testemunha como a mão de Deus o livrou da morte e o manteve firme em seu chamado, mesmo sob intensa perseguição religiosa.
Shamshad Masih* nasceu na década de 1980 em uma vila no Paquistão. Apesar de se considerarem cristãos, seus pais ainda seguiam muitos costumes e tradições islâmicas. Por isso, aos cinco anos, ele foi enviado a uma mesquita para começar a educação religiosa.
“À medida que fui crescendo, comecei a buscar a verdade e o amor genuíno. Durante essa busca, um pastor visitou nossa vila e compartilhou a Palavra de Deus, com foco em João 3:16. Sua mensagem me tocou profundamente. Eu desejava intensamente receber Jesus Cristo como meu Salvador pessoal, mas não sabia como — não havia igreja em nossa vila, apenas mesquitas”, disse ele ao Guiame.
Nessa época ele permaneceu orando em segredo e ansiando por conhecer Jesus. Então, no dia 14 de outubro de 1992, ele testemunhou:
“Aceitei Jesus Cristo como meu Senhor e Salvador pessoal e fui batizado. Iniciei minha jornada compartilhando o Evangelho com minha família e depois estendi minha missão para a comunidade em geral”, contou ele.
Em 1996, Shamshad se juntou à equipe da Operação Mobilização (OM), se dedicando a pregar o Evangelho por todo o país.
Livramentos
No ano seguinte, enquanto seguia seu chamado evangelístico, Shamshad testemunhou que a decisão de seguir a Cristo no país quase lhe custou a vida.
Ele se tornou alvo de extremistas religiosos e sobreviveu a diversas tentativas de assassinato:
“Enquanto pregava nas ruas de Karachi, fui violentamente atacado por uma multidão. Fui severamente espancado e colocado em uma tábua de madeira, enquanto se preparavam para amputar minhas pernas. Naquele momento, testemunhei a mão milagrosa de Deus me livrar. Apesar da intensa perseguição, permaneci firme em meu chamado”.
Em outra ocasião, ele contou: “Enquanto ministrava em Faisalabad, fui trancado dentro de uma loja por extremistas locais. Mais uma vez, Deus interveio e me resgatou”.
“Em todas as provações, Deus tem sido fiel. Continuo a servi-lo com paixão e compromisso, lutando para levar a mensagem da salvação a todas as pessoas que posso alcançar”, acrescentou.
Em 1998, enquanto ministrava em Abbottabad, Shamshad foi abordado por um grupo de pessoas que pareciam curiosas e acolhedoras. Porém, era uma armadilha:
“Eles me entregaram às autoridades e fui jogado na prisão, onde permaneci por vários dias sem comida, nem água. Foi um tempo escuro e doloroso, mas a presença de Deus nunca me deixou. Esse incidente foi apenas uma das muitas perseguições que sofri por causa do Evangelho — tantas que seria impossível contar todas aqui”.
‘Continuamos a servi-Lo com ousadia’
Em 2002, Shamshad se casou com Rubina* e juntos, abraçaram o chamado evangelístico no Paquistão. O casal tem três filhos e uma filha, que também ajudam no ministério enquanto continuam seus estudos.
“Viver neste país traz desafios diários. Não é fácil seguir a Cristo aqui. Ataques a igrejas cristãs, lojas e casas não são novidade — são uma realidade diária”, destacou ele.
E continuou: “Vivemos em um ambiente onde simplesmente falar ou escrever sobre nossa fé pode colocar nossas vidas em risco. E, mesmo assim, pela graça de Deus, continuamos a servi-Lo com ousadia”.
Em 2010, a família começou a servir em parceria com a Missão Doulos, fortalecendo ainda mais seu ministério e ampliando o alcance do Evangelho no país.
“Hoje, alcançamos quase 1.000 crianças todos os meses por meio de nossos programas de evangelismo — levando esperança, amor e a verdade de Cristo. Também atuamos ativamente no plantio de igrejas (plantamos 10 igrejas nos últimos anos) e formação de discípulos, viajando para diferentes cidades para espalhar o Evangelho”, contou o pastor.
Crianças na escola fundada pela missão. (Foto: Arquivo pessoal cedido ao Guiame)
Inspirado pela rejeição que enfrentou na infância, ele teve a ideia de fundar uma escola onde crianças da comunidade pudessem aprender em um ambiente seguro, amoroso e centrado em Cristo.
“Esse sonho se tornou realidade em 2005, quando registramos nossa própria escola. Hoje, mais de 300 crianças carentes recebem uma educação de qualidade lá. Nos últimos 20 anos, mais de 3.000 crianças pobres se formaram na escola”, afirmou ele.
‘Essa é a realidade de inúmeras famílias’
Apesar do avanço do ministério, o pastor destacou: “Ainda há inúmeras vidas esperando para serem tocadas pelo Evangelho e estamos comprometidos em alcançá-las. Todos os dias enfrentamos incertezas, mas seguimos em frente, porque fomos chamados, porque fomos escolhidos e porque a graça de Deus nos basta”.
Segundo Shamshad, no Paquistão, a grande maioria dos cristãos trabalha em condições extremamente difíceis — servindo como faxineiros de clínicas, trabalhadores de olarias, operários de fábricas e trabalhadores braçais.
“Pouquíssimos têm oportunidade ou recursos para abrir seus próprios negócios. E para os que conseguem, seus esforços estão constantemente sob ameaça. Multidões frequentemente atacam lojas de cristãos e até vender comida se torna impossível. Muitas pessoas se recusam a comprar deles apenas por serem cristãos, considerados ‘impuros’ pelo preconceito social. Essa é a realidade diária de inúmeras famílias em nossa comunidade”, explicou ele.
Contraste com a Igreja Brasileira
Sobre os cristãos no Brasil, Shamshad disse: “Vocês, por outro lado, são incrivelmente privilegiados por viverem em um lugar onde podem adorar livremente, servir a Deus abertamente e ajudar os necessitados sem medo. Vocês estão posicionados não apenas para desfrutar dessas liberdades, mas para usá-las para a glória de Deus — e para o bem daqueles que sofrem em silêncio”.
E continuou: “Suas orações, sua compaixão e seu apoio financeiro podem trazer luz e esperança àqueles que vivem nas trevas. Vocês podem ajudar a transformar vidas, elevar comunidades e avançar o Reino de Deus em lugares onde é mais difícil fazê-lo”.
O pastor destacou que tem orgulho de que o Brasil é uma das nações que mais envia missionários no mundo:
Igreja no Paquistão. (Foto: Arquivo pessoal cedido ao Guiame)
“De seu solo, Deus levantou inúmeros homens e mulheres que têm levado o Evangelho até os confins da terra — muitas vezes aos lugares mais difíceis e sombrios. O coração missionário de vocês, sua ousadia na fé e sua disposição para ir onde outros não vão, são um testemunho do poder vivo de Cristo em seu meio”.
“Estar com vocês, compartilhar comunhão com vocês e caminhar juntos na obra de Deus não é apenas uma honra — é um momento sagrado para nossa igreja. A presença de vocês entre nós não é algo comum. É um lembrete de que a igreja global é um só corpo, unida por um só Espírito, com um só propósito: glorificar a Jesus e alcançar os perdidos. Vocês não são apenas visitantes. São vasos — enviados por Deus, ungidos para um tempo como este”, acrescentou.
Por fim, ele encorajou a Igreja brasileira e os abençoou: “Sejam encorajados, amados irmãos e irmãs. Sua obediência está dando frutos, mesmo em lugares que talvez nunca vejam com seus olhos. E seu sacrifício não é esquecido pelo céu. Continuem firmes, pois grande é a sua recompensa — e grande é o impacto de uma igreja que escolhe ir”.
*Nomes alterados por motivo de segurança.
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