Missionário fala sobre baixo investimento em missões: ‘É hora de enviarmos’

A missão Doulos apoia cristãos perseguidos e projetos sociais em quatro países.

Fonte: Guiame, ALINE GONÇALVESAtualizado: terça-feira, 30 de setembro de 2025 às 16:39
O trabalho da missão no Paquistão. (Arquivo pessoal concedido ao Guiame)
O trabalho da missão no Paquistão. (Arquivo pessoal concedido ao Guiame)

Jairo Silva, um dos diretores da missão Doulos que inaugurou uma escola cristã no Paquistão, refletiu sobre os desafios de pregar o Evangelho em países perseguidos e encorajou a Igreja quanto à importância de contribuir e se envolver de forma ativa em missões.

Em entrevista ao Guiame, Jairo mencionou uma pesquisa de 2014, a qual revelou que o cristão evangélico brasileiro de classe média investia menos de R$ 0,30 por mês em missões transculturais — um valor 80 vezes menor do que o gasto em um lanche do McDonald’s.

Além disso, o missionário destacou dados do Joshua Project que apontam a existência de cerca de 17.000 povos no mundo, dos quais 7.406 ainda são considerados não alcançados pelo Evangelho. Isso representa aproximadamente 3,23 bilhões de pessoas.

“Diante disso, se cada cristão investir em média R$ 20 mensais em missões transculturais, o que seria uma proporção similar a de um Big Mac, multiplicaríamos a atuação missionária em 100x e atenderíamos a demanda dos 7.406 povos que não conhecem a Jesus enviando missionários”, disse Jairo.

“A igreja brasileira durante séculos recebeu missionários de países de vários continentes que plantaram suas vidas aqui e se dedicaram a pregar as Boas Novas para nosso povo. Cremos que essa é a hora de fazermos nossa parte na história e enviarmos missionários para os cinco continentes levando a palavra de salvação. Jesus não nos perguntou se quereremos ir. Ele nos manda ir”, acrescentou.


O trabalho da missão no Paquistão. (Arquivo pessoal concedido ao Guiame)

Missão Doulos

A Missão Doulos é uma equipe formada por voluntários, que atuam diretamente em 4 países: Brasil, Paquistão, Índia e Tailândia. Segundo Jairo, o enfoque do ministério é voltado para países onde há perseguição de cristãos.

As metas da organização são: plantação de igrejas, projetos educacionais, distribuição de alimentos, luta contra a exploração sexual, escravidão e tráfico humano, além de apoio médico, emocional e financeiro às famílias em extrema pobreza. Atualmente, a missão está se estruturando para ampliar sua atuação em mais países da Ásia.

Desde a década de 1990, a família de Jairo tem se dedicado à obra missionária, inicialmente com o plantio de igrejas em povoados do interior de Minas Gerais. 

Em 2010, com mais maturidade ministerial, a família esteve na Turquia, Egito e Israel. Nos dois primeiros países, visitaram igrejas atingidas por ataques de extremistas e comunidades cristãs que se refugiavam em áreas remotas. A experiência os motivou a direcionar esforços para apoiar cristãos em contextos de perseguição.


O trabalho da missão no Paquistão. (Arquivo pessoal concedido ao Guiame)

No mesmo ano, foram contatados pelo pastor paquistanês Progba*, que liderava uma igreja em uma pequena sala e mantinha um projeto educacional. 

“Vimos através desse contato um sinal de Deus para nos dedicarmos e nos engajarmos no suporte ministerial e na arrecadação de fundos para a igreja perseguida”, disse Jairo.

A mobilização não se limitou ao exterior. A partir de 2012, também passaram a arrecadar fundos para projetos no Brasil, em especial no Sertão nordestino e no Vale do Itajaí (SC). 

Entre 2014 e 2015, participaram da implementação de uma Casa de Oração na Vila Mimosa, a maior zona de prostituição do Rio de Janeiro, onde foi desenvolvido um trabalho social com prostitutas, transexuais e moradores de rua. A iniciativa culminou, em 2019, na desarticulação oficial dos bordéis da região.

Em 2020, a atuação internacional ganhou novo impulso quando Jairo viajou ao Paquistão. Durante um mês, foram realizadas doações de alimentos, kits escolares e bíblicos, equipamentos médicos e bíblias em vilas e fábricas de tijolos, locais onde ainda existe escravidão. 

“Vi centenas de almas se renderem a Cristo. Os cristãos locais foram encorajados a perseverarem e a continuarem demonstrando o bom testemunho para os perdidos”, testemunhou ele. 

E continuou: “Pude visitar as igrejas e lideranças locais, assim como dar suporte financeiro para os projetos das escolas e da luta contra a escravidão dentro das fábricas de tijolos que já cooperamos”.

Trabalho missionário na Índia 

No mesmo período, a missão passou a apoiar o casal brasileiro Diego Rocha e Rhema, líderes do projeto “Criança Cidadã”, que oferece educação, música, inglês e apoio social a crianças pobres na Índia, além de evangelismo e distribuição de alimentos. O casal também lidera a plantação de uma igreja e conduz o projeto “Tabitha”, de capacitação em costura para mulheres, com planos de expansão ao Nepal.

A atuação se estende a pastores nativos na Tailândia, que levam o Evangelho e purificadores de água a tribos locais, e a missionários paquistaneses refugiados em Bangkok, onde surgem novas igrejas caseiras.

No Brasil, a missão apoia iniciativas sociais como a Casa Cristã de Tratamento Oncológico (Petrópolis/RJ), o Projeto Amor & Ação (Duque de Caxias/RJ) e o Projeto Amar & Servir (Belford Roxo/RJ), todos voltados a populações em vulnerabilidade.

Sobre perseguição, Jairo destacou que aprendeu desde cedo que “apesar da perseguição, Deus sempre honra nossa constância e fidelidade a Ele”.

Perseguição de muçulmanos no Paquistão

Segundo Jairo, a missão Doulos percebeu que a forma mais eficaz de expandir o Reino de Deus no Paquistão era investir em missionários locais. A plantação de igrejas começou de forma discreta, com reuniões em casas, e hoje já resultou na abertura de cerca de dez congregações, especialmente na província de Punjab, mas também em Baluchistão, Khyber Pakhtunkhwa e Sindh.

Além da evangelização, a missão atua em vilas remotas e fábricas de tijolos, onde famílias inteiras vivem como escravas por dívidas, oferecendo alimentos, roupas, assistência médica, professores e apoio espiritual. 


O trabalho da missão no Paquistão. (Arquivo pessoal concedido ao Guiame)

Para enfrentar o alto índice de analfabetismo — que atinge cerca de 90% dos cristãos — foi criada uma escola para crianças, junto a outros projetos sociais em parceria com as igrejas locais.

Por fim, Jairo falou sobre como os livramentos fortaleceram sua fé e o encorajou a permanecer na atuação missionária no país.

Em 2023, após ataques que destruíram 26 igrejas e dezenas de casas em Faisalabad, o pastor Progba decidiu permanecer na base missionária, mesmo diante das ameaças, afirmando estar cumprindo o chamado de Deus. Seu testemunho de fé e coragem fortaleceu a rede de apoiadores e impulsionou o envio de recursos ao país.

*Nomes alterados por motivo de segurança.

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