Os missionários americanos Rick e Marilyn Perhai, líderes da Lighthouse International Fellowship Church em Kiev, na Ucrânia, decidiram permanecer no país, em meio a rumores de guerra iminente.
Com a ameaça de invasão da Rússia e seus 130 mil soldados posicionados ao longo das fronteiras norte, leste, sudeste e sudoeste da Ucrânia, muitos estrangeiros estão saindo do país para garantir sua segurança.
“A Rússia e Vladimir Putin estão desesperados para manter este país em sua esfera de influência. Eles não querem que a Ucrânia entre na OTAN ou na União Européia. E a única diplomacia que eles entendem são ameaças e disrupções”, explicou o missionário Rick, ao The Gospel Coalition, no sábado (29).
Segundo Perhai, o clima em sua cidade está calmo e o tráfico está mais leve. Mas, os ucranianos sabem que precisam se preparar para o pior. “Os vizinhos do nosso apartamento estão voltando do supermercado com várias garrafas de cinco litros de água e enlatados extras”, relatou ele.
Em 2014, durante os Jogos Olímpicos de Inverno na Rússia, o exército russo invadiu e anexou a Crimeia, a região ao sul da Ucrânia. A invasão ocasionou uma guerra lenta na região de Donbas, onde mais de 14 mil ucranianos morreram.
Durante o conflito, as igrejas (exceto os edifícios da Igreja Ortodoxa Russa) foram fechadas ou destruídas. Um seminário evangélico em Donetsk foi tomado e muitos cidadãos na região, incluindo cristãos, perderam tudo.
De acordo com Rick, os ucranianos já estão acostumados com o clima de guerra e quase consideram a crise normal, após tantas invasões e conflitos em seu território. “Os ucranianos em geral são amantes da paz. Isso certamente é verdade para os evangélicos daqui, muitos cujas raízes remontam aos anabatistas menonitas pacifistas”, afirmou.
Porém, esse estado de crise constante, fez com que muitos ucranianos se chegassem a Deus. “Essa normalidade perturbadora também abriu os olhos de muitos para ver que o Senhor é seu único refúgio. Somente Yahweh é nossa força e segurança. Todo o resto é instável e incerto, incluindo nações que fazem tratados com você apenas para então se enfurecer e destruí-lo”, relatou o missionário.
Com a crise atual, os cristãos ucranianos permanecem firmes e dispostos a lutar contra a opressão. A solidariedade está crescendo e igrejas no oeste do país estão disponibilizando seus templos e casas para refugiados de outras partes da Ucrânia.
“Na ausência de conforto, segurança ou mesmo seguro de saúde básico ou seguro de vida, os crentes ucranianos se reúnem na igreja e apoiam uns aos outros em tempos de doença, tristeza e morte. Realmente é uma linda família”, contou o missionário.
A obra continua apesar da guerra
Rick Perhai e sua esposa decidiram ficar na Ucrânia nesses tempos ameaçadores, porque acreditam que a obra do Evangelho deve continuar apesar da guerra e dos rumores de guerra.
“Vamos ficar por causa do pequeno grupo de crentes em nossa igreja que amamos. Estamos caminhando juntos com eles nos bons e nos maus momentos”, declarou Rick.
O missionário, que é diretor e professor no Seminário Teológico de Kiev, também permanecerá por seus alunos ucranianos. “Eles desejam estudar e colocar em prática a exposição da Bíblia e a teologia bíblica saturada em Cristo, mesmo nestes tempos incertos”, justificou Rick.
Um de seus estudantes de mestrado, Andrii, está desenvolvendo uma agência missionária multidenominacional na Ucrânia. Outro aluno, gerencia o programa de capelania do seminário e agora, dezenas de estudantes ministram às tropas ucranianas, que se preparam para o conflito iminente.
Os missionários americanos querem aproveitar ao máximo as oportunidades de servir a igreja ucraniana. “Nossa família sabe há anos que a janela de oportunidade para o treinamento missionário na Ucrânia pode fechar um dia. Esse dia pode estar ao virar da esquina”, confessou Rick.
E concluiu: “Mas nossos irmãos e irmãs ucranianos nos mostraram como continuar com fé e esperança em tempos de grande incerteza. Rodeados por tal nuvem de testemunhas vivas nos faz querer ficar o máximo que pudermos em uma terra cercada e ameaçada pelos exércitos russos”.